terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cláudio Magris


Às cegas é uma espécie de síntese vertiginosa das reflexões que o autor de Danúbio, Microcosmos e Utopia e desencanto foi condensando durante mais de quarenta anos de ofício.

O revolucionário Salvatore Cippico agoniza num hospital psiquiátrico e decide rememorar sua vida. Como não podia deixar de ser, a voz de Salvatore é ziguezagueante, vai e volta no tempo, confunde-se com a voz de outras personagens e não é nada confiável.

Salvatore também é Jorgen Jorgensen, aventureiro dinamarquês que viveu no século XIX, participou das guerras napoleônicas, foi rei da Islândia e fundou a capital da Tasmânia. Mas também, assim como Salvatore, Jorgen conheceu as durezas da prisão, foi humilhado, viveu histórias de amor infeliz e perdeu todas as esperanças.

Fio condutor da trajetória de ambos — Salvatore e Jorgen — é o mito de Jasão, o argonauta grego que partiu em busca do velocino de ouro e teve filhos com Medeia.

O livro, sem um centro e sem uma voz única, pode então ser lido como o relato de um lunático, ou o testemunho de um sobrevivente de Dachau e Goli Otok, ou o monólogo de um clone, ou as memórias póstumas de todos e de ninguém. Ao leitor caberá a escolha.

Serviço
Às cegas
Claudio Magris
Tradução: Maurício Santana Dias
384 páginas - R$ 59,00 (em média)
Editora Companhia das Letras

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