Em seu artigo “O Charuto das Filipinas”, publicado em 1900, no livro Cinematógrafo, João do Rio começa explicando o costume que existe nas Filipinas, em se ter em casa um imenso charuto em que todos fumam até mesmo as visitas. Em seguida ele passa a travar um diálogo com um amigo em que ficam falando das pessoas que passam pela Avenida e fica espantado quando o jovem saudou um cidadão que passava. Quando ele pergunta.
- Que é?
- Jornalista.
- Não conheço.
- Ah! Parece que começou agora. É repórter e estudante.
Para João do Rio, a idéia de repórter e estudante já era esquisita, ainda mais que logo em seguida passava outro homem em que o jovem camarada voltou a saudar.
-E esse?
- Diretor do jornal X que vai sair.
- Santo Deus!
- E está vendo aquele sujeito grave? Também nosso colega. É o diretor de outro jornal que já levou a breca.
Assustado, pôs as mãos na cabeça e exclamou! “A Avenida estava coalhada de jornalistas que eu não conhecia”.
Quando então, João do Rio mostra toda a sua indignação escrevendo: “para ser jornalista, em qualquer parte do mundo civilizado, é preciso ter formação acadêmica, vocação e prática. Já se dispensa o bom senso, como se dispensa o estilo e a impertinente gramática. Aqui não há estilo, não há gramática, não há formação acadêmica, não há prática, não há bom senso, não há vocação. Um pequeno estudante, naturalmente poeta, tem uma crise monetária. A revisão incomoda-o. É difícil emendar o que os outros escrevem, quando não se tem absoluta certeza. O povoamento do solo já não tem emprego, nem para os mineiros. Que fazer? O pequeno estudante arranja um empenho político e amanhece repórter, redator, jornalista. Um cidadão qualquer fracassou em todas as profissões, quebrou, foi posto fora de um clube de jogo. Que faz? É jornalista. Aquele moço bonito, cuja bolsa parca só se compara à opulência de vontade de freqüentar as rodas chiques, vê-se à beira do abismo? Não há hesitações. Faz-se jornalista. O idiota que quer gastar dinheiro, o industrial esperto, o político com apetites de chefe, estão em crise? Surge imediatamente o jornal para lançá-los, lançado por eles”.
Critica o aparecimento de jornais que colocam pessoas de todo tipo de profissão para escrever. É advogado, engenheiro, almirante, ocioso. Jornalista é que não há. E pergunta: “E por que essa lamentável situação? Pela indiferença, pelo ceticismo dos jornalistas profissionais.”
Ele diz que todas as profissões se defendem e chega afirmar que esse ato de se defender “é humano, é animal e é altamente moral. O jornalista brasileiro é o único que não se defende”. Ao relatar todas essas falcatruas da profissão, João do Rio é incisivo: “Isso desmoraliza. Apesar da evolução dos nossos costumes, evolução vertiginosa que foi logo
Serviço
Cinematógrafo
João do Rio
272 páginas - R$ 59,00 (em média)
Academia Brasileira de Letras
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