A fórmula clássica do conto não passa de uma fronteira imaginária que o contista, em vez de aceitar, deve derrubar. A literatura é a terra dos desmentidos. Um conto só é um grande conto quando se desvia do que um conto deve ser.
Em geral, só na maturidade os contistas conquistam esta liberdade interior. É raro que, antes disso, se autorizem ao risco. Daí o grande espanto provocado por O macaco ornamental, livro de estreia de Luís Henrique Pellanda.
Pellanda não vacila: em vez de agir como um narrador aplicado, que “escreve bem”, ele se aventura em um salto no escuro. Em consequência, sua escrita deixa de ser mero ornamento para se transformar na manifestação de uma fome interior.
Alguns contos, como “Amigo vivo, amigo morto”, de tão densos e delicados, se avizinham da poesia. Em um relato comovente como “Ladrão de cavalos”, em movimento inverso, é a poesia que, desenrolada nas entrelinhas, se infiltra e comanda a narrativa.
Em outros, como “Leandra Áurea”, o relato serve a Pellanda para, com palavras simples, aproximar-se da filosofia. “O paraíso: nunca mais uma pergunta” define o narrador. É o inferno das perguntas, contudo, que leva um contista a escrever.
As ideias se expandem no brevíssimo conto que empresta título ao livro, crítica feroz ao “homem integrado” de hoje. Em um mundo de utensílios, os homens se transformam em enfeites. Tristes ornamentos que, ressecados como as múmias, são um ensaio para a morte.
Nas mãos habilidosas de Pellanda, o conto às vezes se comprime tanto — como em “Ingratidão” — que se torna uma bofetada.
A literatura tem o tamanho do golpe que desfere no leitor. Não se lê um conto como “Duas cartas”, belo relato sobre a despedida, sem que a amargura nos domine.
Obstinado na procura de sua voz, e sem medo do fracasso, Luís Henrique Pellanda nos entrega um livro incomum. Suas histórias podem provocar qualquer sentimento, menos a indiferença.
Serviço
O macaco Ornamental
Luís Henrique Pellanda
192 páginas - R$ 34,00 (em média)
Editora Record
Em geral, só na maturidade os contistas conquistam esta liberdade interior. É raro que, antes disso, se autorizem ao risco. Daí o grande espanto provocado por O macaco ornamental, livro de estreia de Luís Henrique Pellanda.
Pellanda não vacila: em vez de agir como um narrador aplicado, que “escreve bem”, ele se aventura em um salto no escuro. Em consequência, sua escrita deixa de ser mero ornamento para se transformar na manifestação de uma fome interior.
Alguns contos, como “Amigo vivo, amigo morto”, de tão densos e delicados, se avizinham da poesia. Em um relato comovente como “Ladrão de cavalos”, em movimento inverso, é a poesia que, desenrolada nas entrelinhas, se infiltra e comanda a narrativa.
Em outros, como “Leandra Áurea”, o relato serve a Pellanda para, com palavras simples, aproximar-se da filosofia. “O paraíso: nunca mais uma pergunta” define o narrador. É o inferno das perguntas, contudo, que leva um contista a escrever.
As ideias se expandem no brevíssimo conto que empresta título ao livro, crítica feroz ao “homem integrado” de hoje. Em um mundo de utensílios, os homens se transformam em enfeites. Tristes ornamentos que, ressecados como as múmias, são um ensaio para a morte.
Nas mãos habilidosas de Pellanda, o conto às vezes se comprime tanto — como em “Ingratidão” — que se torna uma bofetada.
A literatura tem o tamanho do golpe que desfere no leitor. Não se lê um conto como “Duas cartas”, belo relato sobre a despedida, sem que a amargura nos domine.
Obstinado na procura de sua voz, e sem medo do fracasso, Luís Henrique Pellanda nos entrega um livro incomum. Suas histórias podem provocar qualquer sentimento, menos a indiferença.
Serviço
O macaco Ornamental
Luís Henrique Pellanda
192 páginas - R$ 34,00 (em média)
Editora Record
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