quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Retratos do Brasil


No ano em que o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento Cebrap completa quarenta anos de vida, a Cosac Naify, em parceria com a instituição e com apoio do Sesc-SP, lança o livro e o documentário Retrato de Grupo. Com farto material fotográfico e entrevistas inéditas e exclusivas com seus fundadores e principais colaboradores – Fernando Henrique Cardoso, Francisco de Oliveira, Paul Singer, José Arthur Giannotti, Roberto Schwarz, entre outros – o livro recupera o cenário em que a instituição foi formada, em meio à instabilidade política que se seguiu ao Ato Institucional nº 5, em 1968, e vai além – a partir de importantes declarações de seus integrantes, traça um panorama atual sobre os desdobramentos políticos e intelectuais que sucederam sua fundação no final dos anos 60.

Criado como polo de resistência intelectual, o Cebrap reuniu, desde sua fundação, importantes figuras do meio acadêmico (a maioria expurgada da universidade pela ditadura militar) intelectuais que, naquele momento, se reuniram em torno de um mesmo objetivo manter uma produção científica que fosse indispensável para pensar o Brasil, mesmo com todas as limitações impostas pelo regime. Pela primeira e talvez única vez, intelectuais que tomaram rumos distintos mantiveram um intercâmbio científico importante, que influenciou o pensamento e a prática política que se seguiu no Brasil.

Hoje, 40 anos depois, a reflexão destes estudiosos, que acabaram por se tornar figuras-chave no cenário público brasileiro, abre novamente a discussão – desta vez, para uma compreensão do momento político pelo qual passa o Brasil. “No fundo, se você olhar bem, eu e o Lula viemos do mesmo contexto”, diz Fernando Henrique Cardoso ao final de sua entrevista. Se você olhar a partir da perspectiva histórica, vai ver que na verdade é isso.

Nunca vi um período tão magro de possibilidades políticas como este, afirma Francisco de Oliveira ao ser indagado sobre o legado histórico do governo Lula. “Não tem um conflito nacional onde ele tenha metido o dedão e resolvido a parada. Como faz Hugo Chávez. Chávez está inventando um país que não existia. Como fez o Fernando Henrique, digamos com todas as letras, que decidiu para onde ia o excedente brasileiro, decidiu para onde ia a direção da economia e da sociedade. Teve uma direção, que eu renego, mas teve. No governo do Lula não tem nenhuma. Sou muito pessimista.”

É interessante pensar no conjunto dessa produção como uma obra coletiva”, diz Roberto Schwarz, ao contar histórias sobre o grupo criado para a leitura do Capital, de Karl Marx, que antecedeu a criação do Cebrap. “Algumas dessas pessoas não se bicavam e, se você dissesse que tinham feito trabalhos complementares, não ficariam satisfeitas. Mas a verdade é que daria para mostrar que tudo aquilo está interligado e se articula.”

Serviço
Retrato de grupo
Organização e apresentação: Flavio Moura e Paula Montero
Entrevistas com Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Giannotti, Paul
Singer, Elza Berquó, Juarez Brandão Lopes, Lúcio Kowarick, Francisco de
Oliveira, José Serra, Fernando Novais, Roberto Schwarz, Rodrigo Naves
328 páginas - 84 ilustrações - R$ 59,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

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