quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Memória e Cinzas - Edelyn Schweidson
Em um momento em que o Brasil reivindica um papel protagônico na política e nas instituições internacionais que corresponda ao seu justo lugar no concerto das nações e a sua crescente relevância nas relações dos países dos vários continentes com este país-continente, e que, para tanto, se propõe a dialogar com todas elas, inclusive com aquelas que se opõem frontalmente à sua índole democrática no plano político, religioso e étnico, parece mais do que oportuno indagar o que pensa o mundo intelectual brasileiro de temas e chagas que estão na ordem do dia e obsedam os espíritos, ainda hoje, decorridos sessenta anos da Segunda Guerra Mundial, como é o Holocausto – o extermínio de milhões de seres humanos pela fúria assassina do nazifascismo. Esta é a atualidade do simpósio que Edelyn Schweidson organizou no Rio de Janeiro e que agora a editora Perspectiva publica sob o título de Memória e Cinzas.
Não será exagero dizer que a palavra e o debate de professores, escritores, jornalistas e psicanalistas como Sergio Paulo Rouanet, Márcio Seligmann-Silva, Fabio Landa, Renato Lessa, Paulo Blank, Marylink Kupferberg, Eduardo Vidal, refletem a reação de uma camada formadora de opinião em nosso contexto, diante desses horrendos episódios que, como em tantas outras carnificinas assinaladas na história, marcaram a supostamente adiantadíssima, humaníssima e inteligentíssima era contemporânea.
Ainda que não haja nenhuma pretensão de refletir uma unanimidade, e já dizia o velho sábio que toda unanimidade é burra, as análises aqui presentes sugerem, antes de mais nada, “que os filhotes infernais, pit bulls de um novo Holocausto, já deram início à sua temporada de caça”, como tão brilhantemente lembrou Sergio Paulo Rouanet. Mais que uma advertência, o que o leitor encontrará aqui serão as malhas finas de percepções que vão ao vivo dos fatos, dos processos e da memória do que foi a Schoá. Os oradores-ensaístas não se debruçam apenas, ao modo de Jó, sobre este passado inenarrável, mas atentam para o que permaneceu incandescente, sob as cinzas da insanidade devastadora em que seres humanos enjaularam, classificaram e exterminaram seus semelhantes, com a fúria fria de que nenhum animal seria capaz. Este é o percurso que vai das memórias às cinzas nestes textos em que, queremos crer, a voz do povo e, sem dúvida, do espírito brasileiros se fazem ouvir neste livro de levantamento, advertência e protesto.
Serviço
Memória e Cinzas
Organização: Edelyn Schweidson
248 páginas - R$ 40,00 (em média)
Editora Perspectiva
Rousseau e a Ciência Política de Seu Tempo - Robert Derathé
Esta obra de Robert Derathé já se consagrou como um clássico dentre aquelas que tratam do pensamento político de Rousseau, exatamente porque vai muito além disso, pois aborda também toda uma longa tradição do pensamento jurídico e político dos séculos XVII e XVIII. Derathé mostra as fontes das principais idéias políticas de Rousseau esboçadas no Contrato Social, não só para demarcar aqueles autores que tiveram influência decisiva nas idéias política de Rousseau, mas também para mostrar ao público a riqueza de uma longa tradição do pensamento político e jurídico, que ficou conhecida como o jusnaturalismo. Por isso mesmo, esta obra de Derathé interessa não só aos estudiosos do pensamento político moderno, mas também aos que se dedicam ao pensamento jurídico moderno e queiram revisitar a tradição do direito natural.
Serviço
Rousseau e a Ciência Política de Seu Tempo
Robert Derathé
Tradução: Natalia Maruyama
664 páginas - R$ 59,00 (em média)
Editora Discurso Editorial e Editora Barcarolla
O sol de Breda - Arturo Pérez-Reverte
O capitão Diego Alatriste y Tenorio está de volta, e desta vez em seu ambiente natural: a guerra. Ele participa, com o Exército espanhol, das batalhas e do cerco à cidade holandesa de Breda, em 1625. O jovem Íñigo Balboa, seu pajem e narrador da história, é agora mochileiro do Terço de Cartagena, onde serve Alatriste, e acompanha seu amo e mentor nas glórias e nas misérias dos combates.
Glórias e misérias que não faltam. O cotidiano de Alatriste e Balboa, apesar de algumas vitórias grandiosas, é repleto de batalhas e pobreza. Batalhas porque os espanhóis lutam pelo domínio sobre os Países Baixos; e pobreza porque todos os soldados da época são mal alimentados, mal equipados e mal vestidos.
Além de capturar um momento rico da história espanhola, o terceiro volumeda série As Aventuras do Capitão Alatriste é também a narrativa da transformação de Íñigo. O jovem provinciano, imaturo e deslumbrado com a capital, amadurece depois de presenciar o som e a fúria dos combates. Contada em retrospecto, a história de Balboa não esconde as marcas deixadas pelas batalhas e incorpora até os traços de cinismo e desencanto tão marcantes no capitão Alatriste.
Serviço
O sol de Breda
Arturo Pérez-Reverte
Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman
238 páginas - R$ 40,00 (em média)
Editora Companhia das Letras
Arte e Beleza na Estética Medieval - Umberto Eco
O conceito de "estética" nasceu na Europa durante o século XVIII. Por isso as histórias da estética tiveram pouco em conta as teorias do belo e da arte elaboradas antes desse período. Mas nas últimas décadas as coisas têm vindo a mudar e a Idade Média está a ser redescoberta com um período rico de especulações sobre a beleza, o prazer estético, o gosto, o belo natural e o artístico, as relações entre a arte e as outras atividades humanas. Este volume relata as vicissitudes de um debate que nasceu sob a Patrística e se prolonga através de toda a Idade Média até ao alvores do Renascimento. Além do enorme interesse que estas questões se revestem para a história da cultura do Ocidente, esta obra é fundamental para compreender a metalidade, os gostos e a maneira de encarar o mundo e a vida do homem medieval.
Serviço
Arte e Beleza na Estética Medieval
Umberto Eco
Tradução: Mario Sabino
352 páginas - R$ 47,90 (em média)
Editora Record
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
A história da alegria - Adam Potkay
A história da alegria – Da Bíblia ao Romantismo tardio, de Adam Potkay, segue o modelo inaugurado por Nietzsche em Genealogia da moral, no qual contrapõe o bem e o mal pagãos aos cristãos. Aqui, acompanha-se a alegria em suas metamorfoses ao longo da história ocidental. Se não há sentimento separado de um conceito, e se não há conceito separado de uma palavra, Adam Potkay faz a história de um sentimento que também é um conceito e uma palavra, em suas várias dimensões culturais, estéticas e comportamentais. O que ele chama, em suma, de “filologia cultural”. O livro conta com prefácio do próprio autor, e a tradução ficou a cargo de Eduardo Henrik Aubert, doutorando em história medieval pela École des Hautes Éstudes en Sciences Sociales. A história da alegria recebeu o prêmio Harry Levin da Associação Norte-Americana de Literatura Comparada na categoria de melhor livro de história literária de 2008.
Serviço
A história da alegria
Adam Potkay
Tradução: Eduardo Henrik aubert
424 páginas - R$ 64,90 (em média)
Editora Globo
Um episódio distante - Paul Bowles
Este livro é uma seleção que reúne desde as primeiras histórias, publicadas em 1946, até uma novela de 1993, de Paul Bowles. Em 'Um episódio distante', que abre a coletânea homônima, apresenta um linguista norte-americano que volta a uma cidade encravada no Saara e, levado pela curiosidade desatenta, acaba nas mãos de um violento povo do deserto. 'Parada em Corazón' fala de um casal de americanos cujo relacionamento desmorona em sua viagem de lua de mel pela floresta sul-americana. Em 'O pastor Dowe em Tacaté', um missionário protestante é enviado a uma remota região onde seu Deus não tem nenhum poder. E, em 'A presa delicada' Bowles costura uma história de vingança que mistura terror e ironia.
Serviço
Um episódio distante
Paul Bowles
Tradução: José Rubens Siqueira
232 páginas - R$ 38,90 (em média)
Editora Alfaguara
Alice´s Adventures in Wonderland - Lewis Carroll - Collins Design
Since its publication in 1865, Lewis Carroll's Alice's Adventures in Wonderland has delighted the world with a wildly imaginative and unforgettable journey, inspiring children of all ages to suspend disbelief and follow Alice into her fantasy worlds. This new gift edition presents Carroll's tale fully unabridged with a unique visual interpretation by renowned artist Camille Rose Garcia.
Camille Rose Garcia was born in 1970 in Los Angeles, California, and grew up in the generic suburbs of Orange County, where she visited Disneyland and went to punk shows with the other disenchanted youth of that era. Her paintings of creepy cartoon children living in wasteland fairy tales are critical commentaries on the failures of capitalist utopias, blending nostalgic pop culture references with a satirical slant on modern society. Her work has been displayed internationally and featured in numerous magazines, including Juxtapoz, Rolling Stone, and Modern Painter. In 2007, a retrospective of her work, titled Tragic Kingdom, was on display at the San Jose Museum of Art, accompanied by a catalog of the same name. She has also written and illustrated a children's book, The Magic Bottle. The recipient of the Stars of Design award from the Pacific Design Center, she recently moved to the Pacific Northwest after thirty-eight years in Los Angeles.
Serviço
Alice´s Adventures in Wonderland
Lewis Carroll
161 páginas - R$ 43,70 (em média)
Editora Collins Design
O mundo não é plano - Jamil Chade
O mundo não é plano trata das diferenças humanas, mostra que as condições existem, que interesses ainda sobrepujam vidas, apresenta dados que mostram sobras em alguns locais enquanto falta tanto em outros. Dilema humano, este livro trata de gente: dos que ainda não andam sozinhos. Mas é escrito para muitos outros, os que precisam tomar consciência e exigir que a situação fique o mais rápido possível como um registro ruim da história.
Serviço
O mundo não é plano
Jamil Chade
264 páginas - R$ 44,00 (em média)
Editora Saraiva
Destino Poesia
Esta coletânea reúne alguns poetas dos anos 1970 - Ana Cristina Cesar (ou Ana C.), Cacaso (Antonio Carlos de Brito), Paulo Leminski, Torquato Neto e Waly Salomão. Vivendo em um tempo de repressão política e de acirrada contestação, esses poetas misturaram utopia, criatividade e vertigem.
Serviço
Destino Poesia
Vários Autores
160 páginas - R$ 28,00 (em média)
Editora José Olympio
Serviço
Destino Poesia
Vários Autores
160 páginas - R$ 28,00 (em média)
Editora José Olympio
Orgulho e Preconceito - Jane Austen
A obra literária de Jane Austen deu ao romance inglês o primeiro impulso para a modernidade, ao tratar do cotidiano de pessoas comuns. De aguda percepção psicológica, seu estilo destila sempre uma ironia sutil, dissimulada pela leveza da narrativa. Orgulho e Preconceito (1797) é a obra mais conhecida da autora. Jane Austen mostrou como o amor entre os protagonistas era capaz de superar barreiras de orgulho e preconceito, a diferença social entre eles e o escasso poder de decisão concedido à mulher na sociedade da época.A crítica veio a considerá-la a primeira romancista moderna da literatura inglesa.
Serviço
Orgulho e Preconceito
Jane Austen
400 páginas - R$ 19,50 (em média)
Editora L&PM
Em risco - Stella Rimington
A Grã-Bretanha está sob a mira de um terrorista 'invisível', alguém capaz de se misturar com os habitantes locais. Virtualmente impossível de achar, até se tarde demais. A tarefa cai sobre os ombros de Liz Carlyle, do Serviço Secreto Britânico.
Serviço
Em risco
Stella Rimington
432 páginas - R$ 49,90 (em média)
Editora Record
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Metrópole - Hildegard Rosenthal
Com imagens de Hildegard Rosenthal (1913-1990), será lançado amanhã (20.02), em São Paulo, o livro Metrópole Hildegard Rosenthal. Uma publicação do Instituto Moreira Salles, o livro dá continuidade à coleção iniciada por Paranóia, de Wesley Duke Lee e Roberto Piva, Sequências, de Otto Stupakoff e Norte, Marcel Gautherot – todos brochuras publicadas em tamanho médio, com excelente impressão e acabamento. Na mesma data, tem a abertura da mostra Profissão Fotógrafo – Hildegard Rosenthal e Horacio Coppola.
O livro contém mais de 100 imagens (extraídas de 3 mil negativos do IMS) e é dividido em cinco capítulos: “Cenas Urbanas”, “Edifícios e Grafismos”, “Interior”, “Noite/Chuva” e “Retratos” que traçam um breve panorama do vasto acervo da fotógrafa pertencente ao instituto. A organização e texto de introdução são da historiadora Maria Luiza Ferreira de Oliveira. No livro, também há um conto de Beatriz Bracher, inspirado na obra da fotógrafa. Esta ligação da ficção com a “realidade” da fotografia já vem sendo praticada na revista Serrote, publicada também pelo IMS.
Rosenthal fez um registro bastante instigante da São Paulo da metade do século 20. Para a historiadora, ela registra o tecido urbano em plena transformação. Entretanto, vistas hoje, se tornaram uma memória fundamental na história da construção da cidade, cujo caos permeiou seu crescimento mais formal e, ainda assim, com imagens extremamente românticas.
O lado mais artístico desta documentação, que aparece em “Edifícios e Grafismos”, mostra que Rosenthal não se limitava ao formalismo documental. As abstrações surgem em diferentes ângulos, não muito usuais para a sua época. Ela também foi buscar em cidadezinhas, como Pirapora do Bom Jesus, pequenos circos, espetáculos populares, crianças locais e outros motivos encontrados em Interior. O único porém é a ausência das colagens como O menino jornaleiro, publicada pelo IMS no catálogo da mostra Cenas Urbanas, de 1999.
Como o registrado na obra do grande Brassaï (1889-1984), a noite da metrópole também interessou a fotógrafa, especialmente os reflexos formados pelas poças de chuva. Diferentemente da São Paulo diurna, nota a historiadora Maria Luiza, Hildegard procurou um novo ritmo para seu registro cotidiano.
Outro lado especial do livro são os retratos. Na verdade, também, porque seus retratados são mais que especiais: entre eles, artistas plásticos como o lituano Lasar Segall (1891-1957), o italiano Alfredo Volpi (1896-1988), a húngara Yolanda Mohalyi (1909-1978); o escritor e crítico de teatro alemão Anatol Rosenfeld (1912-1963) e o escritor baiano Jorge Amado (1912-2001). Há uma pequena série de autoretratos no mínimo curiosa, onde ela aparece na cozinha, ao telefone e escrevendo, sempre com um cigarro na boca. Noutro, oposto a estes, a pose é de femme fatale com luvas e rede no rosto.
Hildegard Rosenthal nasceu e viveu até a adolescência em Frankfurt, Alemanha. Lá estudou pedagogia de 1929 a 1933. No ano seguinte mudou-se para Paris, passaou dois anos e voltou a Frankfurt, onde estudou fotografia com Paul Wolf (1887-1951). Veio para São Paulo em 1937, evitando o crescimento nazista e, logo depois, sendo uma das mulheres pioneiras, começa a trabalhar como fotojornalista para periódicos nacionais e internacionais.
Serviço
Metrópole
Hildegard Rosenthal
350 páginas - R$ 100,00 (em média)
Instituto Moreira Salles
Estudos sobre o Conto Popular - Braulio do Nascimento
O povo brasileiro guarda expressiva herança literária, provinda da Europa, da África, do Oriente, combinada com os grupos que participaram da formação étnica do Brasil. Romance, conto, cordel são três linguagens cujos acervos encantam, ainda hoje, a todos os que acessam a esse tipo de conhecimento que a memória do povo sustenta e que é parte do patrimônio artístico e cultural. Sergipe, terra de Silvio Romero e de João Ribeiro, dois especialistas em folclore, sempre manteve amplo repertório literário popular, ao lado da manutenção de danças, folguedos, autos, com os quais mantém reunidas as comunidades em torno de ciclos de festas.
Bráulio do Nascimento, paraibano de nascimento, que residiu em Aracaju na sua juventude, acompanhando o pai, que era militar e servia no 28 BC, estabeleceu com a terra sergipana um vínculo indissolúvel, desde que financiou, quando dirigia a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, do Ministério da Educação e Cultura, o 1º Encontro Cultural de Laranjeiras. O evento é um divisor de águas, porque criado para pesquisar, estudar e promover o folclore, sob o pano de fundo das festas religiosas e populares de Santos Reis, que encerram o ciclo de festas do Natal. Nunca mais ele deixou de ter contato com Sergipe, merecendo o título de cidadão de Laranjeiras e outras honrarias que demonstram o agradecimento dos sergipanos, expresso pelas suas autoridades constituídas.
Bráulio do Nascimento passou parte dos seus 85 anos viajando, anualmente, para Sergipe, a fim de participar dos Encontros Culturais de Laranjeiras, sendo ele próprio a melhor memória do esforço conjunto do Estado e da Prefeitura de Laranjeiras, que vigorou até poucos anos, quando o Encontro foi modificado em seu conceito, mantendo-se apenas como marca para outras discussões. Como Laranjeiras foi, por três décadas seguidas, uma escola livre de folclore, Bráulio do nascimento teve oportunidade de levar a auditórios de diversos paises europeus e a Estados brasileiros, o produto de suas pesquisas e reflexões, notadamente sobre o Romanceiro e o Conto Popular, que se tornaram livros repletos de abundantes exemplares de romances e de contos recolhidos em Sergipe, diretamente, ou através de Jackson da Silva Lima e Luiz Antonio Barreto.
Quando completou 80 anos, a Paraíba festejou o aniversário de Bráulio Nascimento editando o seu livro sobre o Romanceiro. Agora, a Editora Terceira Margem, do Rio de Janeiro, publica Estudos sobre o conto popular, reunindo ensaios já portadores de fortuna crítica, outros inéditos no Brasil, alguns apresentados em Sergipe, por ocasião dos Encontros Culturais de Laranjeiras. É um livro que recorre às pesquisas de Silvio Romero, que foi com quem tudo começou em termos de folclore nacional, e de outros autores. Um livro de um mestre, com rigor científico, enriquecido pela classificação tipológica e pelas transcrições de contos populares, alguns dos quais recolhidos em Sergipe, como o que tem o título de Medo grande e medo pequeno, recolhido em Cedro de São João, por Luiz Antonio Barreto e que tem a singularidade de existirem poucas recolhas, em todo o mundo, ou o fragmento do Polifemo, que recolheu diretamente, depois de ter variante pesquisada e gravada por Jackson da Silva Lima.
Fiel ao seu trabalho, Bráulio do Nascimento apresenta ao Brasil e ao mundo uma amostra de parte da literatura popular brasileira, no espelho das influências e contribuições que marcam a cultura popular. Bráulio do Nascimento imortaliza, no seu livro, os contadores de estórias Lió, nascido em Neópolis, residente em Aracaju, recentemente falecido, e Desidério de Oliveira, de Cedro de São João, também já morto, qualificando-os pela importância de terem sido portadores de contos raros, antigos, singulares, que conotam com o selo da melhor qualidade o acervo sergipano. Lançado durante o Congresso Brasileiro de Folclore, realizado no Espírito Santo, o livro de Bráulio do Nascimento começa a circular nos ambientes de estudos, tanto no Brasil quanto no exterior, estando destinado a promover uma ampla reflexão que aumentará o repertório crítico da cultura popular.
O folclore sergipano é uma coisa que concorreu, no tempo, com o açúcar, o algodão, o arroz, o petróleo, e não se esgota; desafia o tempo e as construções das obras, e a tudo resiste; disputa lugar nas apresentações musicais com artistas da mídia e mesmo assim sobrevive; e, discretamente, oferece exemplares de sua riqueza para a interface com o mundo.
Serviço
Estudos sobre o Conto Popular
Braulio do Nascimento
284 páginas - R$ 35,00 (me média)
Editora Terceiro Nome
Os filhos de Sócrates - Françoise Waquet
Mestre e discípulo. Essas palavras ainda têm sentido atualmente, quando numerosas desmitificações modificaram a economia tradicional dos conhecimentos e afetaram várias crenças que, durante muito tempo, deram base à civilização ocidental?
Percorrendo livremente o período entre o século XVII e os dias atuais, este livro revela, ao longo de relatos, rituais e práticas, a profundidade de sentido que essas palavras simples contêm. Exemplos multidisciplinares reconstituem a variedade das figuras magistrais cujos arquétipos são Sócrates e a imagem do pai. Eles traduzem a diversidade e a complexidade de uma relação fundada no poder e no afeto, desvelando “um laço da alma”, quando não se trata de uma filiação. Essa relação pessoal aparece, no contraste das instituições com os livros, como o modo por excelência da transmissão do verdadeiro saber: aquele que ocorre ouvindo o mestre falar e o vendo trabalhar; aquele que não se paga, mas se doa. Uma relação ambivalente, que pode estagnar os conhecimentos numa forma ortodoxa e produzir clones ou, ao contrário, unir positivamente a tradição à originalidade para gerar novos mestres que continuarão a longa cadeia do saber.
Serviço
Os filhos de Sócrates
Françoise Waquet
Tradução: Marcelo Rouanet
322 páginas - R$ 39,00 (em média)
Editora Difel
O que eu não contei - Azar Nafisi
A autora do livro de sucesso internacional Lendo Lolita em Teerã traz agora um surpreendente retrato de sua família e sua vida no Irã. Em seu relato, Azar Nafisi narra vários períodos que levaram à Revolução Islâmica em 1978-79, transformando seu amado país numa ditadura religiosa. Este depoimento inesquecível de uma mulher, uma família e uma pátria conturbada é um livro surpreendente que envolverá os leitores.
Serviço
O que eu não contei
Azar Nafisi
240 páginas - R$ 47,00 (em média)
Editora Record
Andy Warhol na Pinacoteca do Estado de São Paulo
A Pinacoteca do Estado de São Paulo apresenta, na Estação Pinacoteca, exposição de Andy Warhol (Estados Unidos, Pittsburgh, 1928-1987), um dos mais importantes e influentes nomes da Pop Art. Andy Warhol, Mr. America, exibe cerca de 170 obras que exploram temas relativos à política e à cultura popular norte-americana, além de filmes produzidos pelo artista em seu próprio estúdio, The Factory. A exposição foi organizada em colaboração com The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, EUA e já passou pelo Museo de Arte del Banco de la República em Bogotá (Colômbia) e também pelo Museo de Arte LatinoAmericano de Buenos Aires - MALBA (Argentina). Com curadoria de Philip Larratt-Smith, escritor e curador baseado em Nova York (EUA).
Serviço
Abertura dia 20 de março, sábado, a partir das 12h.
Em cartaz até o dia 23 de maio de 2010.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Os antecedentes da tormenta: origens da crise global - Luiz Gonzaga Belluzo
Ao reunir teses e artigos de Luiz Gonzaga Belluzo escritos entre 1995 e 2009, o livro Os antecedentes da tormenta: origens da crise global traça um panorama que contextualiza as mudanças econômicas e financeiras que levaram à crise de crédito mundial - cujas maiores consequências estouraram nos últimos meses de 2008. Nessa obra, co-editada pela Editora Unesp e Edições Facamp, um dos maiores economistas da atualidade expõe as bases do capitalismo em suas diferentes épocas, além de tratar das origens e possíveis desdobramentos do panorama contemporâneo.
Estruturado em duas partes, o livro apresenta em primeiro lugar ensaios acadêmicos do autor que estudam criticamente o modelo econômico capitalista em diferentes períodos e lugares, desde a América do Norte até o sudoeste asiático. Ao longo de suas reflexões em teoria e história, Belluzzo trata da internacionalização de empresas e do capital na origem dos mercados globalizados, analisa a crise financeira dos anos 1930 e o posterior fortalecimento do dólar - consequências da expansão do poder norte-americano.
Entre os textos está o trabalho que escreveu em conjunto com o economista Luciano Coutinho, atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), publicado em 1998 e que já antecipa a atual crise financeira a partir desrepressão financeira dos anos 1970.
A segunda parte de Os antecedentes da tormenta é composta por artigos recentes elaborados para a imprensa ao longo dos acontecimentos mais críticos que abalaram a economia mundial. Esta seção inclui uma entrevista concedida pelo próprio autor ao jornalista Carlos Drummond, em março de 2008. Nela, Belluzzo comenta as causas da crise que se agravava e as decisões tomadas pelas instituições financeiras de diferentes países - em especial os Estados Unidos.
Todos os textos tiveram sua seleção, organização e revisão sob a responsabilidade de Frederico Mazzucchelli, professor livre docente do Instituto de Economia da Unicamp e ex-secretário da Fazenda do Estado de São Paulo.
Serviço
Os antecedentes da tormenta: origens da crise global
Luiz Gonzaga Belluzo
312 páginas - R$ 58,00 (em média)
Editora Unesp
O livro do Cesário Verde - Cesário Verde
Cesário Verde (1855-1886) é um desses artistas que se localizam no entroncamento entre várias escolas estéticas, jamais se identificando integralmente com uma ou outra, mas forjando uma obra versátil e de facetas múltiplas. Considerado parnasiano por uns, correspondente português do poeta francês Baudelaire por outros, tratando de temas da predileção dos realistas, Cesário levou uma vida digna de escritor romântico: nasceu em Lisboa, filho de um comerciante, e freqüentou a Universidade de Coimbra por pouco tempo. Começou sua carreira literária com a publicação de alguns de seus poemas em periódicos portugueses, quando sentiu os primeiros sintomas de tuberculose. Seus poemas, que tratam da vida de Lisboa e da vida agrícola dos arredores da capital portuguesa, foram desprezados pela crítica da época. Morreu na cidade natal, em decorrência do chamado mal-do-século. No ano seguinte à sua morte, Silva Pinto, amigo de Cesário Verde, reuniu e publicou a sua obra, esparsa, densa e vigorosa, sob o título de O livro de Cesário Verde.
Mas, se a crítica e o público da época foram impermeáveis ao talento à frente do seu tempo de Cesário, o mesmo não aconteceu com os poetas modernistas: Fernando Pessoa – mais especificamente seu heterônimo Alberto Caeiro – louvou a poética de Cesário Verde, seu precursor. Pessoa, assim como outras vozes líricas do início do século XX, apreciou, além da sensibilidade e beleza de seus versos, a extrema lucidez da visão de mundo de Cesário Verde, transmitida com uma emotividade autêntica característica dos modernos.
Serviço
O livro do Cesário Verde
Cesário Verde
240 páginas - R$ 20,00 (em média)
Editora L&PM
Bocas do Tempo - Eduardo Galeano
Bocas do tempo oferece uma multidão de pequenas historietas que contam, juntas, uma só história.
É uma travessia pelos temas mais diversos: o amor, a infância, a água, a terra, a palavra, a imagem, a música, o êxodo, o poder, o medo, a guerra, a indignidade, a indignação, o vôo...
Os protagonistas aparecem e se esvaecem, para seguir vivendo, história atrás de história, em outros personagens, que lhes dão continuidade. Tecidos pelos fios do tempo, eles são o tempo que fala: são bocas do tempo.
Serviço
Bocas do Tempo
Eduardo Galeano
Tradução: Eric Nepomuceno
240 páginas - R$ 20,00 (em média)
Editora L&PM
Caixa Especial Shakespeare - William Shakespeare
William Shakespeare nasceu em Stratford-upon-Avon, Inglaterra, em 23 de abril de 1564. Em dezembro de 1582, casou-se com Ann Hathaway, com quem teve três filhos. Acredita-se que por volta de 1593 já era um dramaturgo e um ator de sucesso. Em 1596, morreu seu único filho homem, Hamnet. Logo em seguida, Shakespeare lançou a primeira das suas peças mais famosas, Romeu e Julieta. Em 1598, foi reconhecido como o mais importante dramaturgo de língua inglesa. Escreveu ao todo 38 peças, 154 sonetos e uma variedade de outros poemas. Shakespeare morreu em Stratford em 23 de abril de 1616.
Do autor, a L&PM já publicou: As alegres matronas de Windsor, Antônio & Cleópatra, Bem está o que bem acaba, A comédia dos erros, Hamlet, Henrique V, Júlio César, Macbeth, A megera domada, O mercador de Veneza, Muito barulho por nada, Noite de Reis, Otelo, Ricardo III, Romeu e Julieta, Shakespeare de A a Z, Sonho de uma noite de verão, A tempestade e Trabalhos de amor perdidos.
Serviço
Caixa Especial Shakespeare
William Shakespeare
Vários Tradutores
7 volumes
Editora L&PM
As melhores seleções brasileiras de todos os tempos - Milton Leite
No livro As melhores seleções brasileiras de todos os tempos, o narrador e apresentador Milton Leite elege as principais representantes das seleções brasileiras de futebol em Copas do Mundo. Considerando não só as vitórias, mas também a qualidade técnica, o jornalista nos apresenta o retrato de seis equipes marcantes para a história do esporte. O livro começa com o time de 1958 e a equipe bicampeã de 1962. Em seguida, retrata a seleção de 1970, a brilhante e eliminada formação de 1982 e o e tetracampeonato de 1994. Termina com o penta de 2002, equipe campeã depois de um amargo vice em 1998 e uma classificatória conturbada.
“A ideia do livro é reunir histórias e personagens das grandes campanhas nacionais no esporte mais popular do planeta. Mas quando o título começa por “melhor” ou “melhores”, é claro que a obra remete a escolhas, comparações”, explica o autor, que ouviu e entrevistou diversos craques, técnicos e especialistas no assunto. Uma constelação de gênios do futebol como Djalma Santos, Zagallo, Pelé, Tostão, Carlos Alberto Torres, Zico, Falcão, Júnior, Batista, Carlos Alberto Parreira, Bebeto, Mauro Silva, Cafu, Marcos e Ronaldo, concedeu entrevistas exclusivas ao autor.
Das seis seleções retratadas no livro, duas conseguiram unir o futebol bonito, de alta qualidade técnica, à conquista do título. As equipes de 1958 e de 1970 foram campeãs jogando um futebol irrepreensível – tanto que as duas sempre aparecem nas mais variadas enquetes sobre as principais equipes de todos os tempos. O time que venceu em 1962 era praticamente igual ao de 1958, mas, envelhecido, não teve o mesmo brilhantismo de quatro anos antes, como os próprios integrantes daquele grupo deixam claro no capítulo que trata da conquista no Chile.
No caso das duas últimas conquistas, 1994 e 2002, sofremos de forma igual nas eliminatórias e encontramos realidades distintas durante as Copas. Ambas saíram do Brasil desacreditadas. Uma conseguiu a taça com um futebol pragmático e pouco espetacular e a outra mostrou mais habilidade que o esperado no decorrer da competição. Os méritos delas estão na incrível superação, a união dos grupos dentro de campo e o de somar ao país os cinco títulos mundiais. Feito que nenhum outro país conseguiu até hoje.
No entanto, nem todo grande time consegue vencer, mesmo entrando para a história pela qualidade que apresenta em campo. A seleção de Telê Santana, derrotada na Espanha, tem um capítulo a ela dedicado – o que provavelmente será motivo de polêmica, já que para muitos torcedores e especialistas, time bom é o que vence. “No capítulo da Copa de 1982 entra em ação a minha memória afetiva, e um carinho particular por aquele grupo, que só aumentou durante a execução do trabalho”, justifica. Uma equipe que saiu do Brasil como grande favorita, fez uma campanha irretocável... até a derrota.
Terão sido essas, de fato, As melhores seleções brasileiras de todos os tempos? Isso cabe ao leitor decidir após conhecer os detalhes das seis campanhas. Afinal, quando se discute futebol, a polêmica sempre entra em jogo.
Milton Leite é jornalista profissional, tendo trabalhado nos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde. Como narrador esportivo, atuou durante dez anos na ESPN-Brasil e, desde 2005, é contratado do Sportv/TV Globo. Esteve nas Copas do Mundo de 1998 e 2006 e nas Olimpíadas de 2000, 2004 e 2008.
Serviço
As melhores seleções brasileiras de todos os tempos
Milton Leite
224 páginas - R$ 33,00 (em média)
Editora contexto
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Noel Rosa - 100 anos de samba - Júlio Diniz
O ano começou ontem para Noel Rosa (1910 -1937). Protagonista do desfile do G.R.E.S. Vila Isabel, quinta escola a passar pela Marquês de Sapucaí na madrugada dessa segunda-feira, o compositor ganha, no decorrer de 2010, uma série de homenagens pelo centenário de seu nascimento.
Outro ícone daquele bairro, Martinho da Vila está envolvido em, por enquanto, dois desses eventos. Além de ser autor do samba-enredo mostrado ontem na avenida, é o principal artista do disco que virá encartado em "Noel Rosa -100 Anos de Samba", livro programado para chegar às lojas em maio.
O projeto foi idealizado por Júlio Diniz, do departamento de Letras da Puc-Rio, e é parceria entre a Editora Puc-Rio e a gravadora Biscoito Fino.
Em fase de produção, o CD vai trazer sambas menos conhecidos de Noel. Quem os interpreta é Martinho e a família, incluindo os filhos Tunico Ferreira, Analimar e Mart'nália.
Já o livro reúne 14 textos inéditos, maior parte deles escrita por figuras do meio acadêmico, que vão analisar diferentes aspectos da obra de Noel.
"Cada texto tem como fio condutor um samba de Noel --ou, em alguns casos, um grupo deles", diz Diniz. "Trazem à tona o Rio da época, a malandragem, a boemia, a arte."
Santuza Cambraia Naves, professora do Departamento de Sociologia e Política da Puc-Rio, traça paralelos entre Noel e o modernismo.
"Apesar de não ser um intelectual, Noel fez canções que realizam a estética modernista", ela diz. "O samba "Gago Apaixonado", por exemplo, é completamente metalinguístico. A música gagueja junto com a letra. Isso só aconteceria de novo com tamanha eficiência em composições da bossa nova, como "Samba de uma Nota Só'".
Segundo Santuza, ao mesmo tempo em que tem um eu lírico apaixonado, Noel nunca perde o humor. O amor em suas canções não é trágico.
Autora do livro "No Fio da Navalha: Malandragem na Literatura e no Samba" (Casa da Palavra), Giovanna Dealtry redimensiona o "duelo" entre Noel e Wilson Batista.
"Ao responder, em forma de canção, o samba "Lenço no Pescoço", Noel iniciou um diálogo com Batista que gerou nove sambas -inclusive o tão famoso "Feitiço da Vila'", ela conta. "Noel se incomodava com essa exaltação do malandro de navalha na mão. O que propunha era uma malandragem mais leve, menos visada pela polícia. Apesar de circular no morro, ele era branco e filho da classe média. "
Em seu capítulo no livro, Júlio Diniz rememora a redescoberta de Noel nos anos 1960, bancada principalmente pelo encontro e amizade de Maria Bethânia com Aracy de Almeida, ainda hoje considerada uma das maiores intérpretes do compositor da Vila.
"Bethânia mantém a linha de interpretação de Aracy, só que em outro contexto", ele diz. "Grava sambas de Noel ao lado de canções tropicalistas de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Tradição e inovação são tratadas, ali, como uma coisa só."
Diniz dedica muitas linhas de sua tese às primeiras composições de Chico Buarque e lembra que o jovem artista seguiu de perto a escola poética do veterano, acrescentando a ela as harmonias sofisticadas aprendidas com a bossa nova.
Como seu tempo é outro, "devagar, devagarinho", Martinho não tem certeza se vai conseguir escrever seu texto em tempo hábil para o lançamento do livro. Mas tem muito a dizer sobre Noel, responsável, segundo ele, pela "elevada autoestima da minha Vila Isabel". Quer abordar a da postura política e social de Noel.
"Ele combateu preconceitos contra músico, contra mulher, contra cantor, contra sambista, contra negro. Fez parcerias com Cartola, Ismael Silva, com a negrada toda", diz. "Até o preconceito sexual que era terrível ele combatia. Dedicou a Madame Satã, que era negro, bandido e homossexual. Quem na música popular brasileira fez mais do que isso?"
Serviço
Noel Rosa - 100 anos de samba
Júlio Diniz
Lançamento em Março
Editora PUC Rio e gravadora Biscoito Fino
Post tirado do jornal Folha de São Paulo
O mestre e margarida - Mikhail Bulgákov
O romance de Bulgakov é uma mistura de sátira com realismo e história com valores sociais. É composto por três contos com vertentes distintas, que tornam-se mais e mais conectadas durante seu desenrolar. A estória principal envolve a visita do demônio - que atende pelo nome de Professor Woland - e seus quatro assistentes na Russia de 1930. Eles causam pavor na cidade e utilizam magia negra para jogar feitiços em todos que cruzam seus caminhos. O segundo conto é sobre o Mestre, que é um estranho velho, cujo único verdadeiro amor é Margarita, que fez um pacto com o demonio e tornou-se uma feiticeira para unir-se a ele. A terceira estória é sobre Poncio Pilatos e a cruxificação de Jesus, apresentada na forma de um romance escrito pelo Mestre. O romance é como uma rica tapeçaria tecida em fina transparência e Bulgakov faz uso disto para sua interação entre os principais temas do livro, como Deus e Demônio, amor e sensualidade, coragem e covardia, liberdade e limitações, redenção e castigo. A conecção entre os principais cenários do romance - Jerusalém e Moscou, nos levam à uma intrigante leitura, com seu constante contraste e comparação, enquanto eventos em evidência se destacam no romance. Isto serve para expor a corrupção e avidez da elite na União Soviética, que durante a era comunista nunca foi procurada para falar a respeito. É uma crítica social, além de ser um assombroso trabalho de ficção.
Serviço
O mestre e margarida
Mikhail Bulgákov
453 págians - R$ 64,00 (em média)
Editora Alfaguara
Serviço
O mestre e margarida
Mikhail Bulgákov
453 págians - R$ 64,00 (em média)
Editora Alfaguara
A Literatura em Perigo - Tzvetan Todorov
O renomado crítico literário Tzvetan Todorov surpreendeu ao lançar em 2007 “A literatura em perigo”, livro em que ataca a visão e a formação essencialmente estruturalista do ensino literário na França. A obra é agora lançada no Brasil pela editora Difel, com tradução de Caio Moreira.
Uma excelente reportagem de Miguel Conde (incluindo uma entrevista exclusiva com o autor) no caderno Prosa & Verso do jornal O Globo do sábado passado (24/01) trouxe à tona a polêmica levantada pelo autor. A discussão é também muito apropriada ao Brasil. Reproduzo aqui, portanto, um pequeno trecho da matéria, a título de levantar a reflexão, o debate talvez, e sugerir a leitura da obra.
“Num resumo simplificado, o problema apontado por Todorov é que a pesquisa e o ensino de literatura nas escolas e universidades tratam cada vez mais da forma do texto – a que gênero ele pertence, como se estrutura, qual seu estilo – e cada vez menos do sentido, ou seja, daquilo que o autor diz sobre o mundo em que ele e o leitor vivem. Isso ocorre, Todorov argumenta, em parte devido à hegemonia de inúmeras teorias que puseram questão, nas últimas décadas, a concepção do texto literário como uma representação do mundo real. Por isso, críticos hoje dariam mais atenção aos elementos internos do texto do que à sua relação com a vida ao seu redor. Vista dessa maneira, a literatura se torna uma atividade autorreferente, cujo principal assunto é ela própria. ‘Uma concepção estreita da literatura’, escreve Todorov, ‘que a desliga do mundo no qual ela vive, impôs-se no ensino, na crítica e mesmo em muitos escritores. O leitor, por sua vez, procura nos livros o que possa dar sentido a existência. E é ele quem tem razão’”. Miguel Conde, para o jornal O Globo.
Serviço
A Literatura em Perigo
Tzvetan Todorov
96 páginas - R$ 25,00 (em média)
Editora Difel
A Colméia - Camilo José Cela
A Colmeia foi publicado pela primeira vez em 1951, em Buenos Aires, pois Cela teve problemas com a censura na Espanha. No livro, ele enfoca a vida em Madri, sem conformismo e outros disfarces, a qual serviu de ponte entre o realismo pós-guerra e as novas tendências dos anos sessenta.
Os críticos nomearam de caleidoscópio sua técnica narrativa. Cela assemelha-se a um fotógrafo, que sai à rua com sua câmera na mão para retratar tudo que vê, apresentando assim a vida miserável de um grupo de pessoas na Madrid dos anos imediatamente posteriores à Guerra Civil Espanhola. São mais de trezentos personagens, muitos deles só nomeados, que se entrecruzam em três dias de dezembro por dois ou três bairros da cidade. Os temas abordados no romance são a humilhação, a pobreza, o aborrecimento, a repetição e a ameaça, o que dá um colorido todo especial àquele momento espanhol por volta de 1943.
A Colmeia é uma obra definitiva em que o leitor descobre em cada página um novo matiz para completar esse espectro narrativo que surge da decomposição da realidade causada não só pela miséria, como pela fome do pós-guerra, na visão de Camilo José Cela.
Serviço
A Colméia
Camilo José Cela
200 páginas - R$ 60,00 (em média)
Editora Bertrand Brasil
Em risco - Stella Rimington
A Grã - Bretanha está sob a mira de um terrorista 'invisível' (um terrorista que é nativo do país de destino, que pode atravessar suas fronteiras e mover-se despercebido), alguém capaz de se misturar com os habitantes locais. Virtualmente impossível de achar, até se tarde demais. A tarefa cai sobre os ombros de Liz Carlyle, do Serviço Secreto Britânico. Isso sinaliza o início de uma operação que irá testar o seu limite. Quem ou o que é o alvo? Onde está e quem é o invisível? A cada hora que passa aumenta o perigo.
Fatos: Stella Rimington se juntou ao Serviço de Segurança (MI5) em 1965 e durante sua carreira trabalhou em todos os principais domínios de competências do Serviço - contra-subversão, contra-espionagem e contra-terrorismo - e tornou-se sucessivamente diretora dos três ramos. Foi nomeada directora-geral do MI5, em 1992. Ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo.
Serviço
Em risco
Stella Rimington
Tradução: Alves Calado e Fábio Pinto
432 páginas - R$ 50,00 (em média)
Editora Record
Aprendendo a pensar com a sociologia - Zygmunt Bauman e Tim May
Partindo de aspectos aparentemente comuns da vida – amor, atos de consumo, trabalho, lazer, religião –, Bauman e May escreveram esse livro com o objetivo de ajudar as pessoas a entender suas vivências individuais e com os outros. Revelam como a sociologia fornece uma série de observações sobre nossas experiências e mostram as implicações de nossos atos sobre a maneira como conduzimos nossa existência. A edição original, publicada nos Estados Unidos em 1990, foi revista pelos autores e inclui temas atuais como corpo, intimidade, tempo, espaço, desordem, risco, globalização, identidade e novas tecnologias. Cada capítulo aborda problemas que constituem parte de nossa vida cotidiana, dilemas e escolhas com os quais nos deparamos, mas não chegamos a refletir. Os autores ainda sugerem questões que podem servir de orientação para o leitor ou de plano de estudos para professores e alunos. Pensar sociologicamente significa entender aqueles que nos cercam em suas esperanças, desejos, inquietações e preocupações.
Serviço
Aprendendo a pensar com a sociologia
Zygmunt Bauman e Tim May
304 páginas - R$ 30,00 (em média)
Editora Jorge Zahar
A classe média brasileira - Amaury de souza e Bolivar Lamounier
O crescimento da classe média nos países emergentes é talvez o fenômeno social e econômico mais importante desde as últimas décadas do século 20. O Brasil tem parte expressiva nessas tendências. Impulsionados pelo aumento do emprego e da renda, em condições de inflação baixa e crédito farto, milhões de brasileiros puderam aumentar nos últimos anos o seu poder de compra e adquirir os símbolos mais vistosos de ingresso na classe média, como casa própria e automóvel, além de uma vasta gama de bens de consumo. Estas constatações suscitam importantes interrogações. Que devemos entender por classe média?
No Brasil, especificamente, serão sustentáveis os índices de expansão do que se tem denominado a “nova classe média” ou muitos dos que acabaram de ascender socialmente estão ameaçados de voltar para a pobreza? A classe média poderá ser um agente fundamental na desejada revisão de valores sociais e fonte de apoio para a democracia e uma economia competitiva? Baseado em análises históricas e pesquisas de opinião, este estudo tenta dar respostas às questões acima sob os ângulos do consumo, empreendedorismo, educação, política e valores.
Serviço
A classe média brasileira
Amaury de souza e Bolivar Lamounier
182 páginas - R$ 49,00 (em média)
Editora Campus-Elsevier
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
No fio da navalha - Visões da malandragem na literatura e no samba
O que é a malandragem? O malandro, este personagem cheio de estilo e charme, personifica um traço cultural brasileiro . Nesse livro a malandragem é dissecada por GiovanaDealtry, professora e pesquisadora da PUC-RJ que investiga música e literatura em busca de uma definição para o tema.
Serviço
No fio da navalha - Visões da malandragem na literatura e no samba
Giovanna Dealtry
208 páginas - R$ 32,00 (em mmédia)
Editora Casa da Palavra
A balada do Café Triste e outras histórias - Carson McCullers
'A balada do café triste' é uma reunião de contos de Carson McCullhers (1917 - 1967). As histórias se passam em cenários macabros, onde amor e ódio se entrelaçam e a solidão das almas parece não ter fim.
Serviço
A balada do Café Triste e outras histórias
Carson McCullers
Tradução: Caio Fernando Abreu
192 págonas - R$ 39,00 (em média)
Editora José Olympio
Serviço
A balada do Café Triste e outras histórias
Carson McCullers
Tradução: Caio Fernando Abreu
192 págonas - R$ 39,00 (em média)
Editora José Olympio
Além da escuridão - Hilary Mantel
Vencedora do Man Booker Prize 2009, Hilary Mantel lança uma obra-prima do humor negro: Além da Escuridão, que conta a história da médium Alison Hart e de sua assistente Colette. Juntas percorrem cidadezinhas da Inglaterra, fazendo a ponte entre os vivos e os mortos, o lugar terreno e o lugar além da escuridão.
Além da Escuridão, vencedor do Yorkshire Post Book Award e finalista do Orange Prize e do Commonwealth Writers Prize, prova que os resíduos da morte estão sempre ao nosso redor e, como grandes feridas, podem andar ao nosso lado por toda vida.
Serviço
Além da escuridão
Hilary Mantel
Tradução: Maria D. Alexandre
420 páginas - R$ 45,00 (em média)
Editora Bertrand Brasil
Uma vida muito além das expectativas - Sideny Poitier
A ideia deste livro surgiu quando a pequena Ayele chegou ao mundo para representar a sexta geração da família Poitier. Com sua sabedoria, delicadeza e emoção, seu bisavô Sidney Poitier resolveu presenteá-la com um relato sobre a própria história.
Resgatando lembranças e fatos marcantes – decepções, conquistas, descobertas, amores, desafios, carreira, família –, Poitier descreve de maneira tocante e nada piegas o decorrer de sua vida e nos faz refletir sobre como os nossos valores se transformam à medida que amadurecemos.
Serviço
Uma vida muito além das expectativas
Sideny Poitier
Tradução: Catharina Pinheiro
304 páginas - R$ 44,90 (em média)
Editora Larousse
Do golpe ao Planalto - uma vida de repórter
Em quarenta anos de profissão, Ricardo Kotscho deixou sua marca nas redações de grandes jornais brasileiros. Nessas quatro décadas de jornalismo, teve participação ativa na cobertura de acontecimentos que, narrados a partir da ótica das redações e do corpo-a-corpo da reportagem, resultam num rico panorama da história recente do país, contada aqui com todas as letras. No campo do jornalismo investigativo, Kotscho relata, por exemplo, como desvendou as mordomias que funcionários federais desfrutavam. No âmbito da cobertura política, conta-nos os bastidores e eventos decisivos, como as primeiras greves no ABC paulista, no fim dos anos 70, a volta dos exilados políticos - na esteira da lei da anistia de 1979 -, e a campanha das Diretas, que mobilizou o país em meados da década de 80. No final dessa década o autor engajou-se nas campanhas de Lula para a presidência da República, tendo atuado em três delas como assessor de imprensa do então candidato. Falando sobre as Caravanas da Cidadania, ele nos mostra o Brasil vasto e pouco conhecido que cruzou de ponta a ponta até a vitória nas eleições de 2002, quando alçaria ao posto de secretário de imprensa e divulgação da presidência da República. É desse ponto de vista que Kotscho retrata neste livro os dois primeiros anos do governo Lula, não se furtando a uma análise dos fatos que, em 2005, conduziram o país a uma grave crise política.
Serviço
Do golpe ao Planalto - uma vida de repórter
Ricardo Kotscho
368 páginas - R$ 45,00 (em média)
Editora Companhia das letras
Na prisão - Egona Schiele
Apesar de sua curta carreira, o pintor austríaco Egon Schiele (1890-1918) é um dos principais expoentes do expressionismo no início do século 20. Suas imagens distorcidas, em sua maioria de personagens femininas, revelam os dilemas causados pela transformação de valores do início daquele século.
A liberalidade sexual que se opunha ao moralista processo civilizador estava entre um dos principais itens da agenda naquele momento, e "Na Prisão", que Schiele escreveu a partir dos 24 dias em que esteve preso na Áustria em 1912, acusado de ter exposto trabalhos pornográficos a menores, revela que o artista não só foi um grande pintor como também um excelente escritor.
"Na Prisão" possui um texto nervoso, assim como nervoso foi o traço do artista. Ao receber material para desenhar e escrever, após dias na prisão, Schiele afirma: "Consigo trabalhar e assim suportarei o que senão seria insuportável. Para isso me ajoelhei, me humilhei, supliquei, orei, mendiguei, e teria ganido, caso não houvesse outra saída. Oh, arte! - O que não faço por você!".
Assim, em tom testemunhal, Schiele descreve sua estada forçada e incompreendida pela sua fala: "Se eu pelo menos soubesse por que me meteram aqui. Não pode ter sido por causa do desenho. Ou sim? Na Áustria, tudo é possível".
A publicação bilíngue, em português e no alemão do original, traz os 48 desenhos e aquarelas realizados por Schiele na prisão, o que confere caráter performático à obra. "Não me Sinto Punido, mas Purificado" é o título de um dos trabalhos, que ironicamente apresenta o material de limpeza do local acumulado num canto.
Schiele desenhou seus lençóis amontoados numa cadeira, uma laranja iluminada em meio à sua obscura cela, a porta que o liberaria para o mundo, representou-se com as vestes da prisão: "Constranger o Artista É um Crime, É Assassinar uma Vida que Está Germinando" é nome de outra aquarela.
"Na Prisão" acaba se constituindo manifesto pela liberdade de expressão e pela liberdade artística: "Não nego: fiz desenhos e aquarelas que são eróticos. Mas são sempre obras de arte, posso dizer isso, e as pessoas que entendem um pouco do assunto confirmarão com prazer. Outros artistas não produziram quadros eróticos?"
Preso em abril de 1912 e libertado no mês seguinte, Schiele morreria seis anos depois, vítima da gripe espanhola. "Não estuprei, não roubei, não matei, não incendiei; infringi a sensível 'sociedade' humana apenas e tão somente por meio... da minha existência", escreve o artista, colocando-se assim com um dos protagonistas das vanguardas modernas que misturaram arte e vida.
Serviço
Na prisão
Egona Schiele
Tradução: Claudia Abeling
88 páginas - R$ 47,00 (em média)
Editora Kadyc Editorial
Post tirado do Jornal Folha de São Paulo
Respiração Artificial - Ricardo Piglia
A interrogação sobre o passado de um homem sustenta uma intriga ao mesmo tempo férrea e sutil. A reconstrução de uma violenta biografia de um possível traidor, um misterioso encontro entre Franz Kafka e Adolf Hitler, uma narrativa onde sátira e paródia misturam-se, criando uma nova forma de ficção. Este livro foi escolhido por cinqüenta escritores argentinos como um dos dez melhores romances da história da literatura daquele país, figurando ao lado de O jogo da amarelinha, de Julio Cortazar, Os sete loucos, de Roberto Arlt e A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares. Prêmio Boris Vian de romance, em 1981.
Serviço
Respiração Artificial
Ricardo Piglia
Tradução: Heloisa Jahn
200 páginas - R$ 19,00 (em média)
Editora Companhia das Letras
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Gentleman of Bakongo - Daniele Tamagni
A fotógrafa Daniele Tamagni traz em seu novo projeto, Gentlemen of Bacongo, imagens de homens comuns do Congo vestindo roupas de luxo. Puro contraste com a realidade local, já que a maioria é de origem pobre. Apesar da pobreza do país, as imagens não deixam ser ser lindas e elegantes. Infelizmente ainda não chegou no Brasil.
Serviço
Gentleman of Bakongo
Daniele Tamagni
200 páginas - R$ 45,00 (em média)
Editora Trolley
O homem do Povo - Oswaldo de Andrade e Patricia galvão
O semanário político O Homem do Povo, cuja coleção integral compõe este volume, foi publicado entre março e abril de 1931, e é a materialização do “salto participante” de Oswald de Andrade e de sua então mulher Patrícia Galvão, a Pagu. Os exemplares fac-similados pertencem ao Fundo Astrojildo Pereira do Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Cedem-Unesp). A publicação é uma coedição da Editora Globo e da Imprensa Oficial dos Estado de S. Paulo, com apoio do Museu Lasar Segall. O volume conta com textos esclarecedores de Augusto de Campos, Maria de Lurdes Eleutério e Geraldo Galvão Ferraz.
Depois de quase uma década de ativismo antropofágico, a crise mundial deflagrada pelo crash de 1929, com o empobrecimento geral e o enorme acirramento entre esquerda e direita, representadas pelo bolchevismo soviético e pelo ascendente nazifascismo europeu, levaria Oswald e Pagu à militância partidária. Assim, após se filiarem ao Partido Comunista do Brasil, passam a publicar O Homem do Povo, visando espalhar a mensagem da revolução entre o operariado urbano. Não funcionou.
Serviço
O homem do Povo
Oswaldo de Andrade e Patricia galvão
88 páginas - R$ 85,00 (em média)
Editora Globo
O livro de Dede Korkut
A Turquia é a nossa mais íntima desconhecida. Sabemos mais de países do Extremo Oriente, como a China, o Japão, o Tibet, a Índia. E no entanto, a Turquia tem um pé na Europa – é, assim, o mais próximo dos países asiáticos – e uma profunda presença na história ocidental. O Otelo de Shakespeare combate os turcos em Creta. Napoleão se bateu contra os turcos ao invadir o Egito. A primeira guerra moderna, a da Crimeia, opôs o Império Russo ao Império Otomano. Império Otomano que esteve no centro da Primeira Guerra Mundial, pois foi o esfacelamento de sua parte europeia, os Bálcãs, que gerou a instabilidade da qual ela se iniciou. O fim da Primeira Guerra, por sua vez, extinguiu o próprio Império Otomano e originou a atual Turquia, cujas instituições políticas, aliás, imitam as ocidentais. Mas o que sabemos, afinal, da Turquia? Sua localização entre a Europa e a Ásia, sua religião, o islã, sua condição de república laica, seu fundador Ataturk, Istambul, os sultões, os haréns. Mas o que sabemos, por exemplo, de coisas tão fundamentais como sua língua, sua literatura, seus hábitos, suas tradições, enfim, sua cultura?
Não é exagero dizer que, de alguns pontos de vista bastante sólidos, a Turquia é, em relação ao Ocidente, o mais próximo e o mais relevante país asiático, e estranhamente, o mais distante de nossos corações e mentes. A publicação de Dede Korkut Oguznameler, ou O livro de Dede Korkut, é um pequeno porém significativo passo para mudar tal situação no Brasil. Pois se trata do mais importante poema épico em língua turca (originária do centro da Ásia), traduzido diretamente por Marco Syrayama de Pinto, que também responde pelas notas e pelo detalhado prefácio, o qual inclui história, literatura e língua turcas (tornando esta edição ainda mais significativa). Vale registrar que este é o primeiro livro traduzido diretamente do turco a ser publicado no Brasil.
Serviço
O livro de Dede Korkut
Autor Anônimo
Trdução: Marco yrayama de pinto
248 páginas - R$ 39,90 (em média)
Editora Globo
Breve história do estado de São Paulo
Escrever sobre São Paulo é enfrentar mitos e preconceitos, tanto da produção histórica local – especialmente a de viés conservador, dominante até a metade do século XX – como de outra interpretação, fortemente ideológica, que busca homogeneidade onde há diversidade. Dessa forma, este livro rema contra a corrente, combate o anacronismo histórico e apresenta uma sociedade paulista caracterizada por múltiplos projetos, alguns até antagônicos”. Com essas palavras, o historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos, Marco Antonio Villa, faz a apresentação de seu mais novo trabalho, Breve história do estado de São Paulo, livro editado pela Imprensa Oficial e que será lançado neste sábado (12), às 11h, na Pinacoteca.
Villa apresenta uma visão panorâmica da história do estado, centrando sua análise na evolução da configuração territorial de São Paulo até os tempos atuais. Dividido em 13 capítulos, o livro se inicia com os primeiros colonizadores, passa pela fundação da vila de São Vicente por Martim Afonso de Sousa, em 1532, atravessa o Império, a cultura do café, a mudança para República até a sociedade do novo milênio.
Nas 200 páginas de Breve história do estado de São Paulo, o leitor irá perceber que a trajetória do estado está dividida basicamente em dois períodos: um no qual o caráter provinciano persistiu por mais de três séculos e outro que indica a constante evolução da economia e da sociedade paulistas. “Durante cerca de 350 anos, São Paulo teve pouca relevância na história do Brasil. Os grandes feitos dos paulistas, como a descoberta de metais preciosos, ocorreram em regiões que ficaram fora da configuração geográfica do estado. Foi a expansão do cultivo de café que retirou a província do marasmo secular”, explica o historiador.
Desde então, nestes 160 anos, a história transcorreu em ritmo acelerado, tanto no interior, como na capital, delineando uma sociedade moderna, com desafios políticos, econômicos, sociais e culturais, antecipando os dilemas que estariam presentes no restante do Brasil. Para Villa, São Paulo é “o estado que melhor representa a integração de povos de diversas origens, fazendo com que qualquer tentativa de regionalismo acabe em fracasso. A originalidade de São Paulo foi ser global antes da globalização”.
No prefácio, o diplomata, jurista e professor Rubens Ricupero chancela o pensamento de Marco Antonio Villa: “a hora do planalto paulista custa a soar, mas, uma vez superada a prolongada inércia, a expansão seguirá linha sempre ascendente e irreversível, em contraste com o ocorrido em outras regiões”.
De fato, diferentemente da maioria dos estados brasileiros, cuja economia se caracteriza por ciclos intensos e breves, São Paulo é um caso à parte. “É o que hoje chamaríamos da sustentabilidade do desenvolvimento. Essa continuidade no tempo, a sobrevivência a crises, a flexibilidade de adaptação, a capacidade de substituir produtos declinantes por outros em ascensão ou de passar da agricultura à indústria e desta aos serviços, sem deixar de continuar a ocupar lugar de destaque no antigo setor dominante, são características que principiam a contagiar outras regiões do País”, analisa Ricupero.
Breve história do estado de São Paulo tem a virtude de relatar num único livro diferentes aspectos da sociedade paulista, com fatos históricos e dados estatísticos sobre economia, educação, infraestrutura básica, como habitação e saneamento, além de aspectos relacionados à cultura.
A crise que abalou o mundo em 1929, por exemplo, demonstra a importância de São Paulo para o País. Sem dúvida, foi o estado brasileiro mais afetado, pois era o que estava mais integrado à economia internacional. Estima-se que em 1930 havia 100 mil desempregados na região. Contudo, a produção industrial deu sinais de vitalidade já em 1931 e durante os anos 1930 cresceria a taxas superiores a 10%, em ritmo muito mais intenso que na década anterior. A contribuição das indústrias de São Paulo na produção nacional que, em 1919, era de 32,2%, aumentou para 40,7%, em 1939. Nos setores de bens de capital e de bens de consumo duráveis, a participação, que já era grande, em 1919, com 52,5%, cresceu para 72,4%, em 1939, destacando-se especialmente a indústria mecânica e a de material de transporte. A crise da economia cafeeira, ao invés de conduzir a economia paulista à ruína (como na Amazônia com a decadência da exploração extrativista da borracha), permitiu uma realocação do capital, que mudou de detentores, devido ao dinamismo das relações de produção capitalistas existentes no estado. Isto explica a velocidade da recuperação e a diversificação dos caminhos econômicos durante os anos 1930.
O livro também faz algumas revelações e traz curiosidades sobre a história do estado de São Paulo. Na capital paulista, por exemplo, o primeiro cemitério público, o da Consolação, foi aberto em 1858. Em 1863, o combustível para iluminação das ruas passou a ser o querosene. Em 1867, foi inaugurado o primeiro mercado municipal.
Já os estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – boa parte deles oriunda de outras províncias – teciam severas críticas à cidade na segunda metade do século XIX. Os nordestinos odiavam o frio – Castro Alves comparou o clima da cidade à Sibéria: “Escrevo-te à noite. Faz frio de morte. Embalde, estou embuçado no capote e esganado no cachenê”. Até o paulistano Álvares de Azevedo não poupou adjetivos. Para ele, a capital era a “cidade dos mortos”, caracterizada pelo “tédio e aborrecimento”, onde a vida era “um bocejar infinito”. O que movimentava a cidade eram os estudantes. Nas férias, no dizer de um viajante, Emílio Zaluar, São Paulo retornava ao “seu estado natural de sonolência”.
Na segunda década do século XX, o futebol já era o esporte mais popular em São Paulo. Dezenas de campos se espalhavam pela capital, especialmente pela Várzea do Carmo, de onde surgiu a expressão “clube de várzea”. Da seleção brasileira de futebol que conquistou o título sul-americano, em 1919, nove, dos onze jogadores titulares, eram paulistas. O maior goleador do futebol brasileiro também era paulistano e símbolo da miscigenação: o mulato Arthur Friedenreich.
Como destacou Rubens Ricupero, estes são apenas alguns dos sugestivos destaques que “o leitor vai encontrar na rica mina de informações que Marco Antonio Villa recolheu e ordenou sob a forma de uma compacta e inédita história da capitania, da província e do estado de São Paulo. Uma obra que convida e estimula a participação do leitor, provocado pelas suas numerosas revelações”.
Serviço
Breve história do estado de São Paulo
Marco Antonio Villa
196 páginas - R$ 60,00 (em média)
Editora Imprensa Oficial
Post tirado de jornalocal.com.br
História do Brasil com empreendedores - Jorge Caldeira
Novo livro de Jorge Caldeira traz um foco inovador para a história do Brasil colonial: a figura do empreendedor. A partir dessa figura, busca explicar dados econômicos que vêm sendo levantados em pesquisas recentes, e que não se casam com as grandes explicações vigentes.
Que dados são esses? Indicadores segundo os quais a economia do Brasil colonial tinha uma dinâmica muito maior que a prevista pelos grandes modelos. Crescia a taxas superiores que a da economia metropolitana. Como resultado, em 1800 a economia brasileira era muito maior que a de Portugal.
O livro trata esse cenário de dois modos.
Em primeiro lugar, lida com a grande dominância do modelo do latifúndio agrário-exportador. Por esse modelo, a economia colonial brasileira teria sido organizada em grandes latifúndios, de modo a exportar matérias-primas a baixo preço e transferir riqueza para a Metrópole. Como resultado, o mercado interno seria mínimo e a sociedade, escravista.
Como a aceitação do modelo torna pouco crível o cenário de desenvolvimento, é feita uma análise em profundidade de seu núcleo central, a categoria latifúndio, para entender como ela gerou explicações nas quais o mercado interno era tão subavaliado.
Essa imersão traz resultados surpreendentes.
Existe uma imensa proximidade – que o texto mostra em detalhes – entre as versões do marxista Caio Prado Júnior e do conservador Oliveira Vianna para a ideia do latifúndio. Ambas influenciadas pela filosofia política do Antigo Regime, e ambas sem instrumentos para analisar trocas contratuais, as trocas entre pessoas livres que constituem o mercado.
A segunda parte do livro faz uma análise da formação do mercado interno, tendo como norte o estudo das trocas contratuais. E nela se revela que o mercado interno do Brasil colonial atingia todas as camadas sociais e etnias, desde os índios na floresta até os grandes comerciantes do litoral.
Mesmo em um cenário de falta aguda de capital, desde o século XVI foi possível montar uma rede de troca de mercadorias sofisticada para o tempo, graças ao envolvimento ativo dos tupis nessa rede.
A mistura de relações pessoais com trocas de mercadorias tornou essencial no Brasil a figura que queria enriquecer, não tinha dinheiro, mas tinha capacidade de organizar a produção e expandir o mercado: o empreendedor.
Figura central numa sociedade em que poucos homens livres tinham escravos (apenas 9% deles eram proprietários, no início do século XIX), e na qual formavam a maioria da população (62% do total, no mesmo momento), o empreendedor organizava trabalho e buscava enriquecer. Migrantes portugueses, índios livres, escravos libertos e filhos miscigenados compunham o grupo que, em todos os setores da economia, corria riscos, ganhava na forma de lucros. Crescia por si mesmo, porque o mercado crescia, e também porque não paravam de chegar novos empreendedores, que se fixavam na sociedade colonial por casamento.
Tendo esse grupo como base, é possível entender a montagem de uma economia dinâmica, mesmo numa realidade na qual o governo agia contra o desenvolvimento e a escravidão estava por todo lado. O empreendedor revela claramente o cenário de desenvolvimento que o modelo vigente é incapaz de descrever.
A partir daí, entende-se também o processo de acumulação de capital, o topo da sociedade formado pelos grandes traficantes de escravos brasileiros. Donos de fortunas gigantescas, capazes de controlar frotas navais significativas e toda a economia de boa parte da África. Ligados a uma rede interna de comerciantes que financiava o crescimento da economia colonial brasileira num ritmo próprio, cada vez mais intenso, superior ao metropolitano.
Todo esse conjunto é apresentado em linguagem clara, que torna a leitura imperdível.
Serviço
História do Brasil com empreendedores
Jorge Caldeira
336 páginas - R$ 49,00 (em média)
Editora Mameluco
Post tirado de jornalocal.com.br
Na garupa do meu tio - David Merveille
Homenagem a um dos cineastas mais importantes da França, Jacques Tati (1907-82), o livro-imagem Na garupa do Meu tio, do ilustrador David Merveille (1968-), traz uma sequência de cenas que convida o leitor a apreciar uma nova aventura do senhor Hulot pela cidade de Paris. Como num livro cinematográfico, cada dupla tem um folder que revela uma surpresa. Vários elementos retirados dos filmes de Tati estão espalhados pelas ilustrações de Merveille: a casa de Hulot e a fonte em forma de peixe de Meu tio, ou a rotatória em Playtime.
A partir de ilustrações, Na garupa do Meu tio relembra a incrível capacidade do personagem de transformar o cotidiano em algo fantástico, romântico e muito divertido. Para completar a edição, o ilustrador húngaro Istvan Banyai, colaborador da revista The New Yorker e autor do também livro-imagem O outro lado (Cosac Naify, 2007), assina um simpático poema na quarta capa.
Serviço
Na garupa do meu tio
David Merveille
60 págians , 27 ilustrações - R$ 42,00 (em média)
Editora Cosac & naify
Música Caipira: da roça ao Rodeio
Os passos percorridos pela música caipira até ela adiquirir a feição pop dos dias atuais são rastreados neste livro que traz, no fundo, uma parte rica e substancial da história da cultura popular brasileira.
Serviço
Música Caipira: da roça ao Rodeio
Rosa Nepomuceno
434 páginas - R$ 30,00 (em média)
Editora 34
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Lacrimae rerum - Slavoj Zizek
Lacrimae Rerum reúne um conjunto de ensaios de Slavoj Žižek sobre o cinema moderno, propondo um estudo aprofundado sobre as motivações de diretores renomados internacionalmente como Krzysztof Kieslowski, Alfred Hitchcock, Andrei Tarkovski e David Lynch, até do sucesso de bilheteria hollywodiano Matrix.
Zizek mostra imagens que são tão familiares quanto fabricadas, evidenciando como as histórias, mesmo que críticas, nos fornecem um panorama estático da realidade. São feitas de denúncias cínicas de mazelas, contra-balanceadas por uma crença irracional na ‘essência da situação’, de modo que a ficção concede legitimidade ideológica ao real.
Segundo o autor, em prefácio para a edição brasileira, “embora totalmente desiludidos, tais personagens são daqui e aqui devem ficar, esse sofrimento é seu mundo, eles lutam para encontrar um sentido na vida dentro dessas coordenadas, e não para ir à luta recorrendo a meio radical qualquer”.
Já nas palavras de Sérgio Rizzo, que assina a orelha da obra, “a erudição de Slavoj Zizek não caminha apenas sobre as pedras da filosofia, da psicanálise e da cultura erudita, mas também, e com idêntica desenvoltura, sobre o universo fabular para consumo de massas criado pela indústria do entretenimento, com destaque para a hollywoodiana”.
Serviço
Lacrimae rerum
Slavoj Zizek
182 páginas - R$ 35,00 (em média)
Editora Boitempo
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