quinta-feira, 29 de outubro de 2009

João Cabral de Melo Neto

Publicado em 1975, Museu de tudo é um livro que impressiona pela variedade temática. Em uma análise preliminar, foge ao estilo de João Cabral de Melo Neto: seus livros anteriores eram sempre pensados de uma forma integrada, coesa. Neste, por outro lado, o autor pernambucano seleciona oitenta poemas aparentemente díspares, alguns escritos tempos atrás, e os agrupa neste “museu”. “É depósito do que aí está,/ se fez sem risca ou risco”, escreve ele, nos versos que abrem o volume. Mas se Museu de tudo não segue uma estrutura rigorosa, se “(...) não chega ao vertebrado/ que deve entranhar qualquer livro”, isso não o torna uma obra menos complexa ou menos rigorosa. Nela, podemos ver o universo de João Cabral sendo trabalhado e retrabalhado, com novas imagens e abordagens para temas já consagrados, em um contínuo esforço na apuração de seus versos. Em suas páginas, o poeta rende homenagem a amigos, como Vinicius de Moraes, Marques Rebelo e Manuel Bandeira, e a artistas admirados — Mondrian, Rilke e Proust — e suas obras.

Mas outros motivos frequentes no universo cabralino aparecem entre os que falam do amor pelo futebol, da aspirina — que o poeta sempre tomou contra uma dor de cabeça crônica, de Pernambuco com suas casas-grandes e seus canaviais, de Sevilha e de sua passagem pela África como embaixador. Ou ainda discutem o tempo e a função da poesia, retomando questões que sempre lhe foram caras. “É um inventário, um livro de acumulação: paisagens, viagens, leituras, amizades, a ronda da morte, reflexões, quadros e pintores, futebol e dança”, escreve Lêdo Ivo. “Nele o poeta exibe a sua natural redução a si mesmo, ao seu perfil inconfundível, à sua singularidade e aos seus limites.” Sobre o autor: João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, em 1920. Em 1942, publicou seu primeiro livro, Pedra do sono. Em 1950, lançou O cão sem plumas. Nos anos seguintes, escreveu outras obras significativas, como O rio e Morte e vida severina, que o consagraram como um dos melhores poetas brasileiros de todos os tempos.Diplomata, residiu em vários países, sobretudo na Espanha, nas cidades de Sevilha e Barcelona. Recebeu prêmios importantes, como o Camões, o Neustadt International e o Rainha Sofia, e foi cogitado para o Prêmio Nobel. Faleceu em 1999. Dele, a Alfaguara publicou O artista inconfessável, seleção de poemas de fundo autobiográfico, e cinco volumes de sua obra completa: O cão sem plumas, Morte e vida severina, A educação pela pedra, A escola das facas e Auto do frade e Agrestes.

Serviço
Museu de Tudo
João Cabral de Melo Neto
190 páginas - R$ 39,00 (em média)
Editora Alfagura

Literatura aprimora formação de médicos

Por AE

São Paulo - Como se posicionar diante da dor? O que é o arrependimento? Questões assim reúnem um grupo de 30 profissionais de saúde todas as sextas-feiras na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Uma obra de literatura universal, lida previamente por todos os alunos, dá a pauta dos diálogos. Médicos, universitários, pós-graduandos, psicólogos, fonoaudiólogos e até funcionários administrativos investigam sentimentos, projetos e reflexões dos personagens.

Os participantes organizam uma roda e todos podem falar. O encontro já recebeu um nome: laboratório de humanidades. “As experiências realizadas aqui envolvem a afetividade e a sensibilidade dos participantes”, afirma Dante Marcello Claramonte Gallian, diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da Unifesp e principal responsável pelo laboratório.

“É uma experiência de encontro com a força humanizadora da literatura”, diz o historiador Rafael Ruiz Gonzalez, um dos idealizadores do encontro. Livros tão diferentes como O Senhor dos Anéis, Primeiras Estórias, O Apanhador no Campo de Centeio e Odisseia já instigaram discussões no grupo.

A dermatologista Enilde Borges Costa acredita que a obediência a um conjunto de “regrinhas” não garante o cuidado integral de um paciente. “É preciso conquistar um olhar humanizado, que se torne um traço da personalidade do médico em todos os momentos, também fora do hospital”, afirma Enilde. “Não é simples, mas o laboratório me ajuda a conquistar esse olhar”, completa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Cantares


Além de um Prefácio, de uma Introdução seguida de Bibliografia Geral, de Biografia dos Trovadores e de Glossário, a obra está dividida em 3 seções, segundo os gêneros tradicionais da lírica trovadoresca (cantigas de amor, de amigo e de escárnio e maldizer), mais as Cantigas de Santa Maria, de Afonso X, o Sábio. Precede cada seção uma Introdução específica, e encerra-a uma Bibliografia também específica. Em cada seção há 30 poemas, analisados em seus principais aspectos, temáticos e formais.

Serviço
Fremosos Cantares
Lênia Márcia Mongelli
584 páginas - R$ 79,00 (em média)
Editora Martins Fontes

Poesia em três tempos


A história do haicai no Japão e sua aclimatação no Brasil são assuntos pouco conhecidos entre nós. Essa lacuna é contemplada de forma concisa e eficaz pelo poeta, pesquisador, jornalista e antropólogo Rodolfo Witzig Guttilla, responsável por esta seleta dos poemetos. Logo no início de sua introdução somos informados de que essa forma poética tradicional japonesa, usualmente feita de três versos de 5, 7 e 5 sílabas poéticas, busca estabelecer laços concisos e surpreendentes entre a natureza e o espírito humano, e teve em Matsuó Bashô (1644-94), Bussôn (1716- -84) e Kobayashi Issa (1763-1827) seus três maiores artistas, responsáveis também pela codificação definitiva do gênero.

A grande novidade para o público brasileiro está no histórico que Guttilla nos oferece sobre a presença do haicai no Brasil, cultuada pelos maiores expoentes da literatura brasileira, desde Monteiro Lobato, nos idos de 1906, até os modernos Millôr, Paulo Leminski e Alice Ruiz, passando por uma plêiade de modernistas — Oswald de Andrade e Drummond à frente —, e outros nomes que pouca gente associaria ao poema minimalista japonês, como Erico Verissimo, para ficar só num exemplo.

O melhor da história do haicai, porém, está nos próprios poemas que integram esta primorosa antologia de haicais brasileiros, onde não faltam traduções das mais famosas peças dos haijins (praticantes do haicai) clássicos. Leitura delicada e agradável, quando não sutilmente cômica, basta este breve aperitivo de Boa Companhia — Haicai para despertar o apetite dos leitores:

Stop!
A vida parou
ou foi o automóvel?
Carlos Drummond de Andrade)

Serviço
Boa Companhia - Haicai
Vários
Organização: Rodolfo W. Guttilla
192 páginas - R$ 32,50 (em média)
Editora Companhia das Letras

Heine e o Rabi


O Rabi de Bacherach é situado no final do século XV, e foi concebido inicialmente como projeto de romance histórico, no início de 1824, durante um período de bastante contato com a história e a cultura do povo judeu. O ensejo imediato para a narrativa foi a sua intenção de contrapor-se à escalada de antissemitismo que se manifestava então na Alemanha e promover intercâmbio e o diálogo entre as culturas alemã e judaica. O caráter fragmentário da obra constitui expressivo exemplo da arte narrativa de Heine e é o documento mais elucidativo de sua flutuante relação com o judaísmo. Os três textos publicados como apêndice enfocam a questão do fanatismo religioso e foram extraídos do volume Lutetia, em que Heine enfeixou 61 artigos escritos em Paris entre fevereiro de 1840 e maio de 1844, bem como quatro artigos dos anos 1843 a 1846. Esse volume, que constitui verdadeira obra-prima da prosa jornalística, foi publicado em alemão em 1854, com o subtítulo Relatos sobre arte, política e vida social, que recebeu, poucos meses depois, uma edição francesa [Lutèce. Lettressur la Vie politique, artistique et sociale en France], para a qual Heine escreve o célebre prefácio em que comenta o advento do comunismo.

Serviço
O rabi de Bacherach
Heinrich Heine
127 páginas - R$ 14,00 (em média)
Editora Hedra

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cony em grande estilo


Pilatos é um excelente e oportuno lançamento editorial. Este livro de Carlos Heitor Cony, de 1974, merece ser reapresentado aos leitores. Acima de tudo, Pilatos destaca uma qualidade magistral do escritor: seu humor. Os personagens e as situações delirantes que Cony cria para eles são de se dobrar de rir. E digo dobrar, literalmente. O domínio do texto, à beira do escracho, usado com maestria para mostrar a loucura social do Brasil nos anos 70, é um prazer por si só. Ali está todo o know-how que Cony desenvolveu em estilo e que seria muito útil, mais tarde, ao autor para construir algumas passagens hilariantes que encontramos também no premiado Quase Memória (1996). Mas o objeto do humor de Cony é profundamente sério. O leitor, embalado pelo estilo do escritor, gargalha ao mesmo tempo em que se depara com um retrato elaborado do povo brasileiro naquela época: seu caráter, qualidades e mazelas frente à situação limite da cidadania sonegada pelos governos militares.

Pilatos é a história de um homem que, após um acidente, tem seu pênis, digo, o pau arrancado do lugar habitual em que ele se situa na anatomia masculina. O dono do órgão passa então a carregá-lo, devidamente inanimado, dentro de um vidro de compota. A partir dessa bizarra situação, nos deparamos com aventuras e personagens entre o miserável emocionante e a caricatura engraçadíssima. A castração física do personagem é a irresistível metáfora para a situação do Brasil pós golpe de 64. A impotência é a grande estrela da história. Ela aparece até no grosseiro tesão irrefreável do personagem Dos Passos, que resume seus objetivos em : "eu preciso enfiar esta merda em qualquer canto!". Mas não se precisa das referências à história recente do Brasil para se gostar de Pilatos. O livro traz seriedade embrulhada em humor, como era comum nos anos de censura dos governos militares. É um livro dos anos 70, com a vitalidade dessa época de grande criatividade da cultura brasileira, mas não é um livro datado, é um prazer para qualquer tempo. Um gringo talvez não entenda os delírios de nossa terra. Mas, coitados, eles são muito mal informados sobre nosso povo!

Serviço
Pilatos
Carlos Heitor Cony
224 páginas - R$ 36,90 (em média)
Editora Alguara

Sociologia da cultura


A sociologia da cultura é um dos grandes campos do conhecimento. Nos últimos trinta anos, três questões estruturaram suas pesquisas: a hierarquia cultural e da distinção (exacerbação das diferenças sociais), a democratização da cultura e das políticas do Estado, e da diversidade das práticas culturais e dos públicos. Esta obra apresenta uma síntese desses debates. Durante os últimos anos, porém, a sociologia da cultura reorientou-se para responder a novos questionamentos, com especial atenção voltada para a interação do público com as obras de arte em sua experiência, no momento em que surgem a "cultura legítima" e a cultura de massa. Essa sociologia busca compreender o lugar e o sentido da cultura nas sociedades contemporâneas. É mais um lançamento do Senac São Paulo no cumprimento de sua função social na formação de um público mais crítico e consciente do meio em que vive.

Serviço
Sociologia da Cultura - Experiência estética & Cultura de massa
Laurent Fleury
Tradução: Marcelo Gomes
172 páginas - R$ 30,00 (em média)
Editora Senac

O terceiro ausente


Norberto Bobbio nasceu em Turim em 1909. Aderiu ao Partito d’azione (Partido de Ação) no final de 1942 e participou da resistência contra o regime fascista. Filósofo do direito e da política, lecionou em Siena entre 1938 e 1940, e em Pádua entre 1940 e 1948. Na Universidade de Turim, ensinou filosofia do direito de 1948 a 1972 e filosofia política de 1972 a 1979.

Escreveu inúmeras obras sobre temas de natureza filosófica, jurídica, ética e política. Entre elas, algumas suscitaram um amplo debate na cultura italiana e internacional: de Política e cultura (1955), sobre o papel dos clérigos, a O problema da guerra e as vias da paz (1979), sobre a formação de uma consciência atômica; de Qual socialismo? (1977), sobre a idéia de um socialismo possível, a O futuro da democracia (1984), uma defesa ponderada e realista dos valores e das regras democráticas; de A era dos direitos (1989), sobre a necessidade da efetiva proteção dos direitos humanos, a Direita e esquerda (1994), sobre os sentidos dessa distinção política.

Como testemunha de seu tempo, escreveu Perfil ideológico do século XX (1987), De senectude (1996) e Autobiografia (1999), além de vários retratos de contemporâneos, reunidos em três volumes, Itália civil (1964 e 1986), Mestres e companheiros (1984) e Itália fiel (1986). Em 1984 foi nomeado senador vitalício. Participou ativamente do debate público até o seu falecimento, em 2004.

A publicação de O terceiro ausente em português, dando início à Coleção Centro de Estudos Norberto Bobbio, parceria entre a Editora Manole e o Centro de Estudos Norberto Bobbio, marca uma série de datas significativas na trajetória intelectual do filósofo italiano.

No ano em que se comemoram cem anos de seu nascimento, o leitor brasileiro tem acesso a uma obra de Bobbio que celebra, em 2009, seu vigésimo aniversário, bem como completam-se os trinta anos do lançamento de O problema da guerra e as vias da paz.

Serviço
O terceiro ausente - ensaios e discursos sobre a paz e a guerra
Norberto Bobbio
Tradução: Daniela Beccaccia Versiani
368 páginas - R$ 38,00 (em média)
Editora Manole

terça-feira, 27 de outubro de 2009

O eterno injustiçado

José Saramago reconta episódios bíblicos do Velho Testamento sob o ponto de vista de Caim, que, depois de assassinar seu irmão, trava um incomum acordo com deus e parte numa jornada que o levará do jardim do Éden aos mais recônditos confins da criação

Se, em O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago nos deu sua visão do Novo Testamento, neste Caim ele se volta aos primeiros livros da Bíblia, do Éden ao dilúvio, imprimindo ao Antigo Testamento a música e o humor refinado que marcam sua obra. Num itinerário heterodoxo, Saramago percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha, conforme o leitor acompanha uma guerra secular, e de certo modo involuntária, entre criador e criatura.

Para atravessar esse caminho árido, um deus às turras com a própria administração colocará Caim, assassino do irmão Abel e primogênito de Adão e Eva, num altivo jegue, e caberá à dupla encontrar o rumo entre as armadilhas do tempo que insistem em atraí-los. A Caim, que leva a marca do senhor na testa e portanto está protegido das iniquidades do homem, resta aceitar o destino amargo e compactuar com o criador, a quem não reserva o melhor dos julgamentos. Tal como o diabo de O Evangelho, o deus que o leitor encontra aqui não é o habitual dos sermões: ao reinventar o Antigo Testamento, Saramago recria também seus principais protagonistas, dando a eles uma roupagem ao mesmo tempo complexa e irônica, cujo tom de farsa da narrativa só faz por acentuar.

A volta aos temas religiosos serve, também, para destacar o que há de moderno e surpreendente na prosa de Saramago: aqui, a capacidade de tornar nova uma história que conhecemos de cabo a rabo, revelando com mordacidade o que se esconde nas frestas dessas antigas lendas. Munido de ferina veia humorística, Saramago narra uma estranha guerra entre o homem e o senhor. Mais que isso, investiga a fundo as possibilidades narrativas da Bíblia, demonstrando novamente que, ao recontar o mito e confrontar a tradição, o bom autor volta à superfície com uma história tão atual e relevante quanto se pode ser.

José Saramago nasceu em 1922, de uma família de camponeses da província do Ribatejo, em Portugal. Exerceu diversas profissões - como serralheiro, desenhista, funcionário público e jornalista - antes de se dedicar só à literatura. Prêmio Nobel em 1998, é autor de algumas das obras mais relevantes do romance contemporâneo, como O Evangelho segundo Jesus Cristo e Ensaio sobre a cegueira, ambos lançados pela Companhia das Letras, que publicou outros 23 títulos do escritor. Saramago atualmente vive entre Lanzarote, uma ilha nas Canárias, e Lisboa.
Cain
José Saramago
250 páginas - R$ 39,00 (em média)
Editora Companhia das Letras

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Onde vivem os monstros

Com mais de 18 milhões de exemplares vendidos só nos Estados Unidos,vencedor dos principais prêmios literários, traduzido para mais de vinteidiomas e aclamado pela crítica, finalmente é publicado em português oprincipal livro do ano. Onde vivem os monstros, de Maurice Sendak,revolucionou a literatura infantil, abrindo caminho para o que hojeconhecemos por livro ilustrado. É a obra que deu origem ao filme Where theWild Things Are, dirigido por Spike Jonze, com lançamento previsto paraoutubro (EUA).

Maurice Sendak já é considerado um clássico da literatura infantil. Opróprio autor selecionou a Cosac Naify para ser a editora de Onde vivem osmonstros no Brasil. Após três anos de negociação, a Cosac Naify foiaprovada pelo autor e ilustrador, por seu cuidado editorial. A edição brasileiraserá caprichada como a original: com capa dura, sobrecapa e tecido nalombada. Em termos de produção, o papel é o destaque. Por exigencia deSendak, a edição brasileira usa o Rolland Opaque, cuja impressão teve deser submetida ao autor.

O autor declarou, em entrevista, que: “Não acho que alguém fora domercado editorial entende a complexidade da colaboração entre editor,designer e gráficas. Muitas pessoas fazem parte deste livro, e só o meunome aparece no livro, e o delas não.

Como aposta em repetir o sucesso que o livro tem no exterior, aprimeira tiragem do livro de 10 mil exemplares chegará nas livrarias emoutubro, um pouco antes do videogame (em quatro plataformas: X-Box, Wii,PlayStation e Nintendo DS).

Na história escrita em 1963, o garoto Max, vestido com sua fantasia delobo, faz tamanha malcriação que é mandado para o quarto sem jantar. Lá,ele se transporta para uma floresta, embarca em um miniveleiro, navega pelooceano, por dias, semanas, meses, até chegar numa ilha, onde vivem osmonstros. Com o seu olhar firme, consegue dominá-los e é coroado rei. Max,então, fica livre para mandar e desmandar, longe de regras ou restrições.

Neste momento de pura selvageria, as ilustrações – em estilo de xilogravurado século XIX, com denso sombreado – tomam conta do livro e o textodesaparece. Mas, quando a saudade de casa e daqueles que realmente oamam começa a apertar o peito, Max fica em dúvida sobre suas escolhas.No livro de Sendak, os conflitos entre obediência e rebeldia sãopersonificados em monstros enormes e cativantes. Trata-se de uma belaobra sobre a infância e a eterna luta entre a liberdade almejada pelascrianças e a autoridade dos pais. Sendak reconstruiu, de forma imaginativa esensível, os sentimentos e as emoções silenciados na infância.

O livro preferido do presidente norte-americano Barack Obama, Ondevivem os monstros é o primeiro de uma trilogia que inclui In the NightKitchen (De noite na cozinha, 1970), “uma profunda e cativante fantasia queirá se tornar um clássico” (NYT), e Outside Over There (Lá fora logo ali,1981), publicado em 1981, considerado pela Newsweek extraordinário...emocionante e triunfante.

Em janeiro de 2010, Onde vivem os monstros chega aos cinemasbrasileiros, dirigido por Spike Jonze, conhecido pelo trabalho em Quero serJohn Malkovich, e roteiro de Dave Eggers. Sobre o trabalho de Sendak,Jonze afirma: “É incrível como em poucas palavras há ideias tão fortes. Vocêpode apenas olhar os desenhos e reconhecer todos os detalhes”.

Onde vivem os monstros faz parte da biblioteca básica de todo leitor. Omaior clássico da literatura infanto-juvenil. Fundamental.

Serviço
Onde vivem os monstros
Maurice Sendak
Tradução: Heloisa Jahn
40 páginas; 22 ilustrações - R$ 25,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

Arte e Eduação


A necessidade de se procurar métodos cada vez mais efetivos para aproximar a arte da educação é o tema central de Arte/Educação como Mediação Cultural e Social. A coletânea traz textos de diversos pesquisadores que questionam os métodos utilizados por museus, centros culturais e organizações sociais para promover a educação por meio de exposições, além de traçar paralelos com propostas de países como Estados Unidos, França, Portugal e Espanha.

A falta de profissionalização específica para os mediadores entre arte e educação no Brasil é um dos problemas discutidos nos trabalhos reunidos por Ana Mae Barbosa e Rejane Galvão Coutinho neste lançamento da Editora Unesp. O grande desafio é pensar numa interação que não somente explique os diferentes movimentos artísticos ao longo da História, mas que consiga desenvolver a criatividade, a curiosidade e a capacidade crítica dos alunos, extrapolando o campo artístico e trazendo essas percepções para a vida fora das exposições.

As pesquisas são agrupadas em quatro tópicos, de modo a marcar os principais interesses de cada análise: Questões da Mediação aborda discussões gerais sobre o conceito e a aplicação das mediações; Mediação em Museus e Centros Culturais, com análise de experiências nesses setores; A Mediação e o Contexto Educacional, que mescla as propostas postas em prática nas exposições com as diretrizes da educação formal, e Mediação e Reconstrução Social, as possibilidades que a relação entre arte e cultura trazem para um aperfeiçoamento da sociedade.

Serviço
Arte/Educação como Mediação Cultural e Social
Ana Mae Barbosa e Rejane Galvão Coutinho
346 páginas - R$ 42, 00 (em média)
Editora Unesp

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Poemas da noite

Reeditado por ocasião dos 30 anos na Anistia, o livro nasceu nos cárceres brasileiros das mãos e do coração de um sobrevivente, Hamilton Pereira da Silva, sob o pseudônimo Pedro Tierra. Escrita em centros de detenção e tortura e nos presídios que receberam prisioneiros políticos nos piores anos da ditadura militar, a obra traz poemas lidos e declamados em reuniões e atos dos movimentos pela Anistia política e pela democracia. Coedição com a Publisher Brasil.

Serviço
Poemas do povo da noite
Pedro Tierra
247 páginas - R$ 35,00 (em média)
Editora Fundação Perseu Abramo/Editora Publisher Brasil

Cyro dos Anjos

Poemas coronários dá continuidade à publicação das Obras reunidas de Cyro dos Anjos, coordenadas e fixadas por Wander Melo Miranda. Trata-se de poemas surpreendentes por vários motivos.

Em primeiro lugar, por seu autor ser um romancista consagrado. O aparante paradoxo reside no fato de que a história literária oferece muito poucos exemplos de ficcionistas que são também poetas (e vice-versa), pois as duas linguagens têm naturezas bastante distintas. Em segundo lugar, por seu título. Coronário é, denotativamente, relativo a coroa, podendo então se tratar de um livro que culmina, que coroa uma obra (de fato, trata-se de seu último livro, publicado originalmente em 1964). No entanto, aqui coronário se refere mesmo à circulação cardíaca, e mais especificamente, à doença cardíaca: um título mais fisiológico do que propriamente literário. E em terceiro lugar, porque seus poemas são difíceis de enquadrar.

Eles dialogam, na verdade, com várias tradições, e o que faz sua unidade na disparidade são, ao mesmo tempo, a ironia e a reflexão. A primeira pode ser de viés modernista, e então mais explícita, como no oswaldiano “Não sei quem sou nem o que valho” (poema 6, p. 39), que começa em tom sério-lamentoso para terminar com uma inversão coloquial, com Robinson Crusoé “acendendo seu foguinho na ilha”. Ou pode se dar na forma de paródia explícita, como na abertura (“Lira Ingênua de Belmiro Montesclarino, Cavaleiro da Ordem Hospitalária e Escritor Menor, Membro da Academia dos Angustiados. Compostos durante a Enfermidade do Autor, Que, segundo se Verá, é Imperito nas Artes Poéticas, Mas em Temerário Assomo Quis Dar Expressão às Visões e Efusões das noites em claro”). Ou pode, ainda, como afirma Paulo Franchetti em seu esclarecedor posfácio, em clave reflexiva, “ser uma poesia que alcança momentos de densidade e tensão lírica, como, por exemplo, no poema 10, que também pode ser lido numa clave metalinguística. Esse poema, por sinal, poderia sintetizar, no que diz respeito à literatura e à atitude belmiriana em relação a ela e à vida [...]: os salvados do naufrágio são não apenas a melancolia e o fastio, que dão o tom da vida, mas o seu tempero, que gera o culpado impulso criador, a vaidade e o amor próprio, sempre reprimidos/ repontando sempre”.

Conclui, então, o posfácio, unindo afinal estes poemas à obra consagrada do romancista belmiriano: “É esse movimento do renovado renovar do reprimido, sob a tinta da melancolia e do tédio, que aqui, nestes versos de renascimento, tão culpadamente se celebra. É ele que dá o tom do pequeno volume de versos e constitui a sua novidade em relação à paz do túmulo em que se encerrara, ao final do seu romance irresolvido, o amanuense Belmiro, aqui transmigrado em Belmiro Montesclarino, redimido da morte para melhor encená-la nesse livro estranho e perturbador”.

Serviço
Poemas coronários
Cyro dos Anjos
80 páginas - R$ 23,00 (em média)
Editora Globo

Poemas - Poe

Edgard Allan Poe, escritor, crítico e poeta norte-americano, nasceu em Boston a 19 de janeiro de 1809 e morreu em Baltimore a 7 de outubro de 1849. Iniciou seus estudos em Glasgow, na Escócia e continuou num internato em Londres, quando sua família adotiva lá se estabeleceu. Voltou aos Estados Unidos em 1820 tendo escrito seus primeiros poemas em 1823.

Poe escreveu poucos poemas, entre os quais se destacam "The Raven" (O Corvo), um dos mais traduzidos do mundo, "Annabel Lee", "For Annie" (Para Annie), "Ulalume", "The Bells" (Os sinos), todos apresentados neste volume, em traduções rigorosas.

Seus contos, publicados em jornais da época e mais tarde reunidos em livro, atraíram um público amplo e sempre fiel. Com "Os crimes da rua Morgue" deu início ao moderno conto policial. Suas narrativas de mistério e terror, como "A queda da casa Usher" e "Nunca aposte sua cabeça com o diabo" são a expressão máxima do gênero gótico.

Dentre seus escritos nos terrenos da estética, da crítica e da teoria literária, "A Filosofia da composição (1845) e "O princípio poético" (1850), ambos presentes à esta edição, são exemplos da extensão da genialidade de Poe para além do terreno estritamente literário.

Além de um escritor popular, transformou-se em referência para autores de alta literatura como Jorge Luis Borges e Charles Baudelaire, este último, grande divulgador da obra de Poe na Europa. O ensaio "Edgard Allan Poe", em que Baudelaire faz uma apresentação da obra e da vida atribulada de Poe é reproduzido nesta edição revista da Editora Globo.

Para Baudelaire, "As personagens de Poe, ou melhor, a personagem de Poe, o homem de faculdades superagudas, o homem de nervos relaxados, o homem cuja vontade ardente e paciente lança um desafio às dificuldades, aquele cujo olhar está ajustado com a rigidez de uma espada, sobre objetos que crescem à medida que ele os contempla – é o próprio Poe".

No livro "O outro, O mesmo" de 1964 ( Obras Completas de Jorge Luis Borges, Volume II, Editora Globo, 1998, página 313 ), Borges destaca a coragem de Poe em enfrentar a matéria sombria da sua literatura.

Serviço
Poemas e Ensaios
Edgar Allan Poe
Tradução: Oscar Mendes e Milton Amado
294 páginas - R$ 22,00 (em média)
Editora Globo

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O mundo da cozinha

“A comida é uma forma de conexão entre diversas culturas. Conservadoras, embora nada estáticas, as tradições alimentares e gastronômicas são extremamente sensíveis às mudanças, à imitação e às influências externas. Cada tradição é o fruto – sempre provisório – de uma série de inovações e das adaptações que estas provocaram na cultura que as acolheu”, afirma o professor de história da alimentação da Universidade de Bolonha (Itália), Massimo Montanari. Essa é a essência de O Mundo na cozinha: história, identidade, trocas (Editora Senac São Paulo e Estação Liberdade). O livro investiga o fluxo de ideias que influenciou a construção de identidades culinárias, além de explicar e reconstituir os percursos das trocas entre diferentes sociedades.

O organizador Massimo Montanari, uma das principais referências mundiais na área, vem ao Brasil pela primeira vez para lançar a obra, em duas ocasiões: ministra a palestra Não há Inovação sem raízes, não há raízes sem inovação - seguida de autógrafos, no evento Semana Mesa SP 2009, dia 28 de outubro, às 12h; autografa também na livraria Cultura – Conjunto Nacional, dia 29 de outubro, às 19 horas.Fruto de uma conferência realizada na Universidade de Bolonha, em outubro de 2000, a obra traça um vasto panorama do intercâmbio gastronômico e cultural no mundo, especialmente, na Europa, Ásia, África e Américas.

Em oito textos, especialistas estrangeiros em história, antropologia e sociologia mostram como a alimentação se equipara a linguagem, criando intersecções entre diferentes povos. Os artigos debatem também como a comida auxilia na intermediação entre culturas, proporcionando invenções e contaminações, e, mostram porque as identidades mais fortes são aquelas mais abertas ao exterior. “O livro discute como o mundo e sua diversidade está presente na cozinha de todos”, diz Montanari. Para demonstrar essa tese, no artigo de abertura, o professor italiano dá como exemplo a cultura européia da Idade Média. Segundo o historiador, a civilização que surge na Europa, naquela época, é fruto da combinação da tradição romana com a tradição germânica: ao uso do pão, vinho e azeite soma-se a utilização da carne, da cerveja e da gordura animal. “Deriva daí um modelo inédito de produção e de consumo, onde a carne (principalmente a carne de porco) desafia o pão como ‘valor forte’ do sistema, numa dinâmica de integração recíproca, tanto econômica quanto simbólica, que representa, em minha opinião, um dos episódios mais interessantes da história da cultura alimentar”, avalia ele.

Há importantes debates sobre a trajetória da permuta cultural na gastronomia européia – antiga e moderna - e da culinária hebraica, por exemplo, uma cozinha que sofre com a conversação da própria identidade. Ariel Toaff, professor da Universidade Bar-Ilan (Israel), mostra de que maneira o preparo e as restrições às comidas judaicas ultrapassou a origem étnica dos hebreus e se mesclou às demais culturas, como a européia. Toaff demonstra que as imigrações de judeus para a Itália fizeram com que as comidas kasher fossem incorporadas por cristãos e vice-versa. “É um fato incontestável que os hebreus italianos foram menos rígidos nas proibições alimentares no que diz respeito ao consumo de pães, vinhos e queijos”, diz o especialista. Discussões contemporâneas também estão presentes nos ensaios, como o relacionamento entre as culturas locais e o mercado global. Autores, como o francês Jean-Peirre Devroy, explicam porque a noção de território e da culinária regional é uma invenção recente. Nesse contexto, o texto de Devroy debruça-se sobre o caso do Champagne, para falar da exportação de território.

Um estudo de caso sobre a cidade de Bolonha, na Itália, finaliza o livro. Escrito pelo organizador Massimo Montanari, o texto revela como a região tornou-se centro difusor da gastronomia européia. Segundo o historiador, o modelo bolonhês foi construído principalmente a partir da capacidade de conexão com outras culturas culinárias, integrando essas descobertas à sua identidade.

Serviço
O mundo na cozinha História, identidade, trocas
Organizador: Massimo Montanari
Tradução: Valéria Pereira da Silva
262 páginas - R$ 45,00 (em média)
Editora Estação Liberdade

Peter Sloterdijk

O filósofo alemão Peter Sloterdijk desenvolve neste livro uma série de reflexões feitas a partir da morte de Derrida. Mais do que uma simples homenagem, trata-se de lançar um olhar entre o modesto e o extremamente ambicioso sobre uma obra de cerca de oitenta volumes. Em vez de monumentalizar o conjunto dos textos de Derrida, tenta-se revê-lo com o recurso da pirâmide e de seu significado na civilização egípcia, além de expor o modo como se deu o advento do monoteísmo.

Afirma o autor: “[...] já se pode ter desenhado o contorno principal de um retrato filosófico de Derrida: sua trajetória se definiu pelo cuidado vigilante de não se deixar fixar numa identidade determinada — cuidado este afirmado tanto quanto a convicção do autor de que seu lugar só podia se situar na linha de frente mais avançada da visibilidade intelectual.”A hipótese de Sloterdijk propõe que o pensamento derridiano corresponderia a um tempo em que os autores, em vez de tratar diretamente dos assuntos, preferem comentar outros pensadores que já abordaram os mesmos temas. Viveríamos então numa época de leituras de segunda ordem, o que colocaria necessariamente Sloterdijk — leitor das leituras de Derrida — em uma posição de terceira ordem. Se assim for, talvez se torne necessário, diante do arguto e irônico ensaio que ora se publica, indagar se, desde os egípcios, e em seguida com os gregos, judeus, romanos e cristãos, os autores e as civilizações não estiveram sempre, de algum modo, propondo reflexões de segunda, terceira e quarta ordens — ao infinito.

Nessa perspectiva, a interpretação de Sloterdijk ganha uma dimensão sintomática de como ler hoje os textos das diversas civilizações que formaram, informaram e formataram o Ocidente em seus contatos inesgotáveis com esse outro, a um só tempo próximo e tão distante, o chamado Oriente. Ler Derrida à luz da cultura egípcia e das correlativas expropriações judaico-cristãs torna-se um exercício tanto mais interessante porque se faz na companhia de ninguém menos do que Hegel, Freud, Luhmann, Thomas Mann, e outros. É a esse colóquio filosófico e transdisciplinar que nos convida Derrida, um egípcio.

Serviço
Derrida, um egípcio
Peter Sloterdijk
Tradução de Evando Nascimento
80 páginas - R$ 25,00 (em média)
Editora Estação Liberdade

Arte, Ciência e Tecnologia

Arte, ciência e tecnologia: passado, presente e desafios, lançamento da Editora Unesp em parceria com o Itaú Cultural, é o resultado do esforço coletivo de especialistas internacionais em muitas disciplinas, atuantes em variados campos de conhecimento. Atendendo ao convite ecebido para realizar uma publicação no Brasil, somada a outras publicações internacionais, em diversos formatos de textos e material multimídia e em línguas diversas, eles trabalham com foco histórico na relação entre arte, ciência e tecnologia.

A antologia inclui convidados especiais que são referência histórica da relação entre arte, ciência e tecnologia no Brasil. O objetivo é colocar na história da arte, em nosso país, os elementos necessários e as estratégias que configuram as teorias desse campo de conhecimento, bem como artistas, instituições, tipos de documentação, a relação com os espaços de exposição/museus e coleções, metodologias adequadas ao estudo, especialmente pelas abordagens historiográficas, discussão de problemas científicos e as influências recíprocas nas trocas entre arte, ciência e tecnologia.

Os textos chamam a atenção para a necessidade urgente de se documentar estas novas práticas criativas, assim como fornecer plataformas teóricas para discuti-las e analisá-las. E estes pesquisadores, criadores e estudiosos na área de artemídia, referências históricas da relação arte, ciência e tecnologia, também observam o movimento inverso, de engenheiros e cientistas envolvidos na expressão cultural contemporânea. E não apenas os sistemas digitais, mas também campos como nanotecnologia, engenharia genética e exploração espacial são apropriados culturalmente.

Serviço
Arte, ciência e tecnologia: passado, presente e desafios
Organizadora: Diana Maria Gallicchio Domingues
570 páginas - R$ 59,00 (em média)
Editora Unesp

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Elias Canetti e os escritores

Elias Canetti (1905-1994), grande intelectual e romancista, e prêmio Nobel de Literatura em 1981, ficou, ainda, conhecido como conferencista veemente. A partir de 2005, seus textos inéditos começam a ser publicados: da seleção de aforismos, anotações literárias e conferência nasce este volume, em que fala sobre poetas, escritores e os notáveis que enriqueceram a sua experiência literária. Texto traduzido diretamente do alemão.

Serviço
Sobre os Escritores
Elias Canettri
Tradução: Kristina Michahelles
210 páginas - R$ 32,00 (em média)
Editora José Olympio

Susan Sontag por ela mesma

“Quem inventou o casamento era um torturador astuto. É uma instituição destinada a embotar os sentimentos.” Reflexões agudas como essa, entre a amargura e a ironia, fazem parte da matéria-prima destes Diários, espécie de buraco da fechadura privilegiado por onde se enxerga a intimidade mental e existencial dos anos de juventude de uma das intelectuais mais influentes da América do pós-guerra.Selecionados por seu filho David Rieff depois da morte da autora, os trechos ora publicados exibem um foco temático irrequieto que se desloca num caleidoscópio de assuntos da esfera pessoal e cultural. A par do seu vasto itinerário de leituras e experiências de fruição artística, presenciamos aqui, em registro confessional, a descoberta adolescente da sexualidade, as vivências como caloura precoce na Universidade da Califórnia, onde ingressou aos dezesseis anos, o brevecasamento aos dezoito com seu professor Philip Rieff e as duas grandes relações amorosas mantidas com mulheres na sua fase de jovem adulta.

Os Diários nos transportam, enfim, para o denso e rico mundo mental de uma jovem Susan Sontag em plena batalha diária para se tornar Susan Sontag.

Serviço
Diários - 1947 - 1963
Susan Sotang
Organização: David Rieff
344 págians - R$ 151,00 (em média)
Editora Companhia das Letras

João Ubaldo Ribeiro em grande estilo

Vida, morte, renovação. Temas universais que são o eixo em torno do qual se desenrola a trama simples deste belo romance. É a história de um homem muito velho que, apesar de detentor da sabedoria trazida por todos os seus anos de existência, ainda busca apreender algum sentido na vida. Um romance magnífico, destinado a incorporar-se ao melhor patrimônio literário de nossa língua, um momento de rara beleza, daqueles cuja mágica se abre ao leitor desde a primeira página.

Serviço
O Albatroz Azul
João Ubaldo Ribeiro
240 páginas - R$ 39,90 (em média)
Editora Nova Fronteira

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Cidade de Quartzo

Em 'Cidade de quartzo - escavando o futuro em Los Angeles', o autor discorre sobre as características desta cidade norte-americana, como a especulação imobiliária, a paranóia dos condomínios fechados, a corrupção das autoridades, a violência urbana e o transporte individual em automóveis nas estradas congestionadas. É um retrato do contraste entre políticas públicas mercadológicas e liberais, e a marginalização histórica de estratos sociais e migrantes - quadro que reverberou em eclosões violentas na década de 1990, como previu o autor.

Serviço
Cidade de Quartzo - Escavando o futuro em Los Angeles
Mike Davis
Tradução: Renato Aguiar e Marco Rocha
432 páginas - R$ 66,00 (em média)
Editora Boitempo

Hoje

Neste livro, a autora reflete sobre temas que interessam não apenas a estudantes e especialistas da cultura, filosofia, política e história. Dizem respeito a todos os cidadãos que buscam refletir sobre alguma das questões mais cruciais de nosso tempo, nossa contemporaneidade, tornando esta obra um instrumento de compreensão crítica do presente e possibilitando, dessa forma, uma interpretação do passado e uma construção do futuro.

Serviço
Contemporaneidades
Olgária Matos
216 páginas - R$ 28,00 (em média)
Editora Laxull e Cia Editora Nacional

O muro

O autor explicita a situação política mundial que permitiua construção e a queda do muro de Berlim, dividindo aAlemanha em duas, entre agosto de 1961 e novembro de1989. Ele narra as diversas viagens que fez às duas partesdo país durante esta época. A sua obra reúne uma série deanálises acerca dos mitos que essa divisão criou em todomundo, até mesmo dentro das duas repúblicas.

Serviço
Muro de Berlim
Frederick Taylor
Tradução: Clóvis Marques
574 páginas - R$ 69,90 (em média)
Editora Record


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A história das histórias de Chico

Wagner Homem é o editor responsável pelo site do Chico Buarque. Além disso, é amigo do Chico há anos. Desde então, coleciona as histórias das canções de um dos maiores compositores da MPB. Neste livro, o jornalista nos conta com detalhes esses causos que os admiradores do cantor querem tanto saber, e assim formando uma biografia do Chico ? algo diferente do que existe nas prateleiras das livrarias. Sua proximidade com Chico nos presenteia com informações curiosas e interessantes, como essa, sobre a música ?Com açúcar e com afeto?: ?É a primeira canção em que Chico assume a posição feminina, revelando a capacidade que se tornaria uma das suas marcas registradas. Foi composta por encomenda de Nara Leão, que gostava muito de cantar músicas ?onde a mulher fica em casa chorosa, e o marido na rua, farreando?

Serviço
Chico Buarque - Histórias de Canções
Wagner Homem
356 páginas - R$44,90 (em média)
Editora Leya

Histórias policiais

Neste livro se desenrolam tramas que abrangem toda a gama de estilos da carreira de Chandler. Seu primeiro conto publicado narra uma história intrincada sobre Ronda Farr, uma estrela de Hollywood chantageada por um ex-namorado. Em “Peixinhos Dourados”, o detetive Marlowe recebe dicas da localização de pérolas desaparecidas há 19 anos e cuja recompensa é de 25 mil dólares. O enredo escrachado e hilariante sobre o homem invisível de “O Rapé do Professor Bingo” comprova a versatilidade do autor. “Armas no Cyrano’s”, no qual o inescrupuloso comportamento de um senador é investigado, encerra a obra.

Serviço
Chantagistas não Atiram
Raymond Chandler
Tradução: Alves Calado
272 páginas - R$ 32,90 (em média)
Editora Record

Maria Callas


A vida da cantora lírica Maria Callas inspirou o jornalista Alfonso Signorini a criar este romance biográfico, baseado em correspondências e documentos inéditos. Orgulhosa demais, frágil demais narra a trajetória da desconhecida jovem que começou a carreira em bares de Nova York e se tornou uma diva disposta a renunciar à sua magnífica carreira por amor. Seu romance com o milionário Aristóteles Onassis foi destaque na imprensa, sobretudo quando ele a deixou para se casar com Jaqueline Kennedy. A partir desse fato, uma fase de clausura e tristeza teve início na vida de Maria Callas, que culminou em sua morte. O livro traz um retrato único e realista de uma diva melancólica que conheceu a glória e a solidão.

Serviço
Ogulhosa Demais, Frágil Demais
Alfonso Signorini
Tradução: Joana Angélica DÁvilla Melo
304 páginas - R$ 39,90 (em média)
Editora Record

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Edição para colecionadores

Esta edição especial de O Guesa recoloca em circulação o poema capital do autor maranhense Joaquim de Souza Andrade, Sousândrade (1832-1902), numa edição para colecionadores. Pela primeira vez, desde a última impressão inglesa no fim do séc. XIX, este livro é recomposto e impresso em edição não fac similar, mantendo-se a ortografia da época, num projeto gráfico que recupera a estética oitocentista. O Guesa é “poema exílio. Um deserto onde o poeta é um eterno errante, um estrangeiro em sua própria língua, onde a representação não é mais possível e o que resta é a fragmentação multidiomática, os urros, balbucios, cacofonias, choros, gritos e inversões. Um périplo de dissonâncias, de ruptura, de desvio, enfim, de combate com a língua dentro da própria língua”, afirma Ana Carolina Cernicchiaro, no Anuário de Literatura (Florianópolis, 2007)

Serviço
O Guesa
Joaquim Sousândradre
Prefácio de Augusto de Campos
Capa-dura com impressão tipográfica sobre tecido alemão feita pelo editor
382 páginas - R$ 75,00 (em média)
Editora Annablume
Selo Demônio Negro

O urbanismo do século XIX e o nosso tempo

As estações ferroviárias, as galerias comerciais, as exposições universais, as grandes avenidas, os bairros industriais são alguns dos espaços que caracterizam A Cidade do Século XIX. É esta urbe oitocentista, com suas orlas marítimas, seus anéis periféricos, seus subúrbios-jardim e seus quarteirões de negócios, matriz da metrópole contemporânea, que Guido Zucconi, professor de história da arquitetura da universidade de Veneza, estuda neste livro, que a editora Perspectiva publica na coleção Debates, dando sequência a A Cidade do Primeiro Renascimento, de Donatella Calabi, Primeira Lição de Urbanismo e A Cidade do Século Vinte, de Bernardo Secchi, já lançados.

Serviço
A cidade do século 19
Guidoi Zucconi
Tradução: Maria Barda
208 págians - R$ 42,00 (em média)
Editora Perspectiva

Nelson Rodrigues.

A coletânea Não Tenho Culpa Que A Vida Seja Como Ela É traz preciosidades inéditas da coluna A Vida Como Ela É..., que Nelson Rodrigues começou a publicar diariamente no jornal Última Hora, em 1951. Na época, Nelson já havia passado por vários jornais e era o dramaturgo que havia revolucionado o teatro brasileiro com Vestido de noiva. A coluna logo tornou-se um grande sucesso. Seus contos recriam alguns dos temas caros ao escritor: a infidelidade, o ciúme, a dualidade entre amor e sexo e a distância moral entre as antigas famílias do subúrbio do Rio de Janeiro e a nascente classe média e alta de Copacabana e arredores. Depois de A vida como ela é, que a Agir publicou em 2006, chega às livrarias este novo livro, igualmente genial.

Serviço
Não teno culpa que a vida seja com ela é
Nelson Rodrigues
264 páginas - R$ 44,90 (em média)
Editora Agir

Educação Sentimental

A Educação Sentimental tem, na obra de Flaubert, uma importância comparável à de Madame Bovary.Para Kafka, Flaubert era autor de um único romance e esse romance era A Educação Sentimental. Em Novembro de 1912, ao enviar um exemplar da tradução alemã a Felice escreve: «É um livro que, durante muitos anos, me tocou de perto como só o fizeram dois ou três seres humanos. Em qualquer momento e lugar em que o abri provocou-me sobressaltos de medo e absorveu-me inteiramente e de todas as vezes senti-me como um filho espiritual deste escritor, ainda que pobre e desajeitado.»Proust escolheu A Educação Sentimental como exemplo do melhor Flaubert, considerando que neste romance a «revolução» no seu estilo estava «acabada».

Serviço
Educação Sentimental
Gustave Flaubert
Tradução: Adolfo Casai Monteriro
416 págians - R$ 65,00 (em média)
Editora Nova Alexandria

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Pawana

Inspirado em uma lenda .verdadeira. sobre um lugar encantado onde as baleias-cinzentas vão parir seus filhotes, J.M.G. Le Clézio faz em Pawana um comovente depoimento da caça a estes animais e da agressão à natureza por meio de um relato de viagem. A primeira parte da história se passa em 1856, quando a América assistia à colonização da costa da Califórnia. O capitão do navio Léonore, Charles Melville Scammon, movido pela curiosidade e espírito aventureiro, parte
com sua tripulação em busca desta enseada desconhecida, do paraíso escondido entre as rochas do litoral.

Duas vozes narrativas alternam-se para recontar a jornada: John, de Nantucket . cenário de Herman Melville para o clássico Moby Dick ., grumete da embarcação, na época com dezoito anos, e o próprio capitão Scammon. Pois eles descobrem o esconderijo das baleias . o .Eldorado. desses mamíferos . e, após contemplação petrificada, começa o extermínio. O texto ágil e pungente de Le Clézio nos transporta para dentro dos baleeiros, de onde presenciamos as belas descrições da Lua sobre a laguna, e do doloroso relato do sangue tingindo a água: Por uma fração de segundo ela ficou imóvel, depois tombou num monte de espuma e ficou boiando, meio de lado, e vimos o sangue que tingia a laguna, que avermelhava o vapor das suas narinas. [...] No mesmo instante, o sangue jorrou pelas narinas, num jato que subiu alto no céu, de um vermelho muito claro, e caiu como chuva sobre nossas cabeças e no mar.

O resquício de uma antiga colonização, a indígena, está presente desde o título. .Awaité pawana. é a expressão bradada pelo índio nativo quando lança sua arma contra as baleias. E é a índia Araceli, escrava de marinheiros, que desperta a paixão do jovem John. As impactantes ilustrações de Guazzelli imortalizam o paraíso como ele foi um dia. A sequência de imagens do começo da edição, feitas de linhas entrelaçadas em caneta nanquim, funcionam como um prefácio ilustrado, apresentando a história. Imensas ossadas de baleias, embarcações monumentais e armamentos também ambientam o final do livro.

Na quarta capa, o escritor Daniel Galera sintetiza a relevância da obra: Mais do que uma narrativa de aventura, J.M.G. Le Clézio constrói a partir deste episódio um relato sobre a profanação irreversível da natureza. O texto tem um sabor apocalíptico mas também melancólico, embalado pela nostalgia de um mundo idílico e pelo amor do homem por sua presa.

Serviço
Pawana
J.M.G. Le Clézio
Guazzelli (ilustrações)
Tradução: Leonardo Fróes
64 páginas, 14 ilustrações - R$ 42,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

A narrativa de Le Clézio


A viagem pela memória pode ser reveladora. Uma história que registra, entre os traços autobiográficos dos capítulos narrados em primeira pessoa, o período conturbado da Segunda Guerra Mundial e os seus desdobramentos. Esse é o caminho que Jean-Marie Gustave Le Clézio nos convida a percorrer em seu romance mais recente, Refrão da Fome, publicado pouco antes de receber o Prêmio Nobel de Literatura em 2008.

Como em O africano (Cosac Naify, 2007), onde o autor mescla suas vivências de menino às do pai, Refrão da fome traz a reconciliação com o passado a partir de uma história inspirada na trajetória de sua mãe. Ficção e realidade se misturam no resgate íntimo de memórias onde a vida da menina Ethel, protagonista do livro, se entrelaça aos acontecimentos sociais e políticos, durante o período que antecede a Segunda Guerra Mundial até a Ocupação alemã na Paris de 1942.

Filha de imigrantes das Ilhas Maurício, Ethel perfaz o caminho das descobertas, das relações e de suas ruínas. Como em um álbum de retratos desbotados, aos poucos reconhecemos a sensação da perda em múltiplos episódios: a morte de seu tio-avô, a rejeição de sua melhor amiga, a crise no casamento de seus pais, a falência e a miséria. A ruína familiar é aqui metáfora da ruína da História, das feridas da guerra e de uma fome que foi literal, antes de ser simbólica: .Sei o que é fome, que eu já passei. (...) Essa fome está em mim. Não sou capaz de esquecê-la. A luz aguda que ela emite me impede de esquecer minha infância.. Essa fome é o sintoma definitivo de uma infância traída, de uma família em decadência, de um mundo que ainda não sabe prever os efeitos do nazismo.

Em Refrão da fome, o vazio vai-se formando lento, sem sobressaltos, assim como a intensidade lírica da escrita de Le Clézio. A história se desenvolve entre dois capítulos narrados em primeira pessoa (o primeiro e o último) onde o registro autobiográfico traz algumas passagens semelhantes com o romance citado anteriormente, O africano, como por exemplo, quando o autor cita que a miséria da guerra o obrigou a comer pão .à base de farinha mofada e serragem. que quase o matou aos três anos de idade. Em mais uma tentativa de compreender sua própria existência, o autor reconstrói com propriedade o período histórico vivido por Ethel bem como os temas políticos da época, que envolviam, sobretudo, o papel da mulher e sua importância no século XX. A partir desses temas, o autor complementa sua busca inicial de O africano, porém, agora, através das vivências de uma jovem .que aos vinte anos, contra sua vontade, foi uma heroína..

Em uma entrevista ao Le Monde, Le Clézio afirmou: .sinto necessidade de estar ligado a uma identidade e, para mim, isso acontece apenas na linguagem escrita, por meio dos livros. Minha verdadeira família está nos livros, esta é minha pátria. (...) Chegamos a confundir nossas próprias
lembranças com àquelas que adquirimos nas leituras.. Em Refrão da fome, o narrador em primeira pessoa recorda a estreia do Bolero de Ravel, contada por sua mãe. E esse é um dos momentos em que a memória se repete como um refrão na matéria ficcional. Nesse belo romance de aprendizagem, a música está lá sempre, nas portas que batem durante os conflitos familiares, nas vozes que ecoam pelo salão, na colher que mexe o rum diluído em água, limão e açúcar. E na afinação perfeita de uma escrita límpida e superior.

Serviço
Refrão da Fome
J.M.G Le Clézio
Tradução: Leonardo Fróes
248 páginas - R$ 49,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

Noite do Sertão


Investindo em novos autores, a Cosac Naify publica o segundo livro da artista plástica Cynthia Cruttenden. Como em sua primeira obra, Sob o Sol, sob a Lua, a força do trabalho de Cynthia é a técnica utilizada para realizar as ilustrações, em perfeita harmonia com o texto, sintético e poético. No livro de estreia, os carimbos em borracha proporcionavam o embate entre o dia e a noite, a cobra e a lobo. Neste Noite do sertão, as cores surgem do preto (veja no site da editora como executar), ou seja, a luz vem da escuridão, assim como o cavaleiro andante que atravessa o sertão em plena noite até o amanhecer.

Em um clima de sonho e devaneio, o cavaleiro invade o silêncio e a escuridão do sertão, iluminado pela luz da Lua. Como se alcançasse o céu, o satélite ganha o contorno de uma flor espetada que, por sua vez, transforma-se em um besouro, um pássaro, uma cobra... Nesta metamorfose, o cavaleiro se depara com os animais e as plantas da paisagem sertaneja. E também com os perigos, como a onça que o espera ao final.

Estas imagens foram criadas com uma técnica simples, possível de ser repetida pelas crianças: a autora pintou folhas de cartolina com giz de cera colorido, cobriu com nanquim e raspou os desenhos com um objeto pontiagudo . a tampinha da caneta BIC, um clipe aberto, a pontinha de uma fivela tique-taque, uma lapiseira sem ponta. Conforme o nanquim vai saindo, a cor do giz de cera aparece ao fundo.

Além da evidente inspiração no universo sertanejo de Guimarães Rosa (presente na epígrafe ao final da história), Cynthia começou a imaginar Noite do sertão quando viu a capa de um disco da gravadora Marcus Pereira, com um homem montado no cavalo. .Logo comecei a desenhar e a
escrever, e ao adentrar a escuridão, misteriosamente, cavaleiro e bichos surgiram pouco a pouco., conta a autora, em depoimento ao final do livro.

O consagrado autor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós exalta, no texto de quarta capa, a qualidade da publicação: .Neste novo livro, viajando noite adentro pelo sertão, na sombra do luar e nas asas do cavaleiro, a autora nos oferece um texto aberto para outras tantas indagações poéticas. A partir das dicotomias criadas, somos convidados a escolher entre a noite e o dia, entre o sertão e a Lua. Mas nosso desejo é restar entre os dois.

Serviço
Noites do Sertão
Cynthia Cruttenden
32 páginas, 13 ilustrações - R$ 35,00
Editora Cosac & Naify

Análise cultural da Revolução Francesa

O historiador francês Roger Chartier é mundialmente reconhecido por seu trabalho no estudo sobre conteúdo de livros e comportamento de leitores de diferentes culturas e épocas. Em seu novo ensaio, Origens culturais da Revolução Francesa, lançado no Brasil pela Editora Unesp, o pesquisador muda o foco de sua abordagem, percorrendo as razões históricas que tornaram possível a Revolução Francesa, sugerindo debates e questionamentos ao invés de um mero resumo dos fatos. Seu estudo valoriza principalmente a análise sociológica e cultural da França ao longo de todo o século XVIII.

O livro acaba por se configurar em um curso sobre a história francesa que antecede a Revolução e suas consequências, positivas e negativas. Afinal, o autor não usa um tom ufanista ao debater as maneiras (geralmente violentas) encontradas pelos revolucionários para implantar suas mudanças. Pelo contrário, é muito crítico em relação às transformações geradas no campo da política, da religião e da relação interpessoal pós-revolucionária.

Sua análise traça uma lógica entre as origens do Iluminismo, a importância da popularização da leitura de livros e panfletos para a difusão de ideias e discussões. Neste ponto, Chartier faz uso de seu conhecimento sobre livros e leitura para apontar em que medida a palavra impressa foi decisiva para a dessacralização do rei absolutista, antes "pai do povo e regenerador da França", e de sua monarquia.

O historiador ainda dedica parte de seu trabalho à forma de vida e aos interesses dos camponeses, à cultura da nobreza e também da burguesia parisiense desde o século XVII até o XVIII. Chartier baseia sua pesquisa numa bibliografia extensa, mas fundamentada sobretudo nas obras de Daniel Mornet, autor de Les Origines Intellectuelles de la Révolution Française, Hippolyte Taine e Aléxis de Tocqueville, de quem o autor empresta argumentos e a quem faz críticas em determinadas análises.

Serviço
Origens culturais da Revolução Francesa
Autor: Roger Chartier
316 páginas - R$ 46,00 (em média)
Editora Unesp

Elias Canetti entre nós


Dois lançamentos da Editora Estação Liberdade reforçam o rol de publicações do escritor Elias Canetti no Brasil. O primeiro é o título "Em seus anos tardios" escrito depois de suas três importantes obras autobiográficas, A língua absolvida, A luz em meu ouvido e O jogo dos olhos (Companhia das Letras) — Canetti recorda a década que passou na Inglaterra, seus melhores anos, durante os quais, distante da língua alemã, redigiu sua obra-prima Massa e poder (1960) e passou tempos movimentados. Em vida não ousou levar a público tanta coisa tão pouco recuada no tempo, mas agora abre-se o tesouro: um texto bem-humorado e irreverente sobre nobres mimados e imigrantes paupérrimos, sobre poetas convencidos e belas pintoras, sobre um pastor carola e um varredor de rua metido a filósofo e — com grande transparência — sobre o relacionamento com a escritora Iris Murdoch, que mais tarde se tornaria famosa.

Já o segundo lançamento "Sobre a morte" versa sobre dois desafios que estão no centro de seu pensamento e parecem contradizer-se. Primeiro: é necessário jamais esquecer a morte. Depois: é necessário sempre resistir à morte. Este livro oferece uma compilação de breves anotações e de passagens mais extensas extraídas das obras de Canetti. No posfácio, Thomas Macho sai em busca de uma sistematização para as colocações do arguto pensador e mestre das formulações precisas que nunca se esquivou de confrontar-se com a morte.

Serviço
Festa sob as bombas – Os anos ingleses
Elias Canetti
Tradução: Markus Lasch
232 páginas - R$ 46,00 (em média)
Editora Estação Liberdade

Sobre a morte
Elias Canetti
Tradução do alemão de Rita Rios
160 páginas - R$ 35,00 (em média)
Editora Estação Liberdade

O 'verbo' Budista

Em outubro, chega aos leitores de todo o país a principal e mais difundida obra do cânone budista, o Darmapada (ou “Versículos do darma” ou ainda “A doutrina budista em versos”). Preservados primeiramente de forma oral, os aforismos éticos e morais ditos por Buda foram registrados por escrito no século I, no Ceilão, atual Sri Lanka. Agora, os ensinamentos proferidos por Sidarta Gáutama (aproximadamente 563 - 483 a.C.), o Buda, chegam à Coleção L&PM POCKET traduzidos direto do páli por Fernando Cacciatore de Garcia, ministro brasileiro e grande estudioso de Buda, do budismo e do páli. Confira abaixo a entrevista em que o tradutor explica suas motivações pessoais e acadêmicas e como se deu essa tradução do páli, uma forma popular de sânscrito apenas escrita.

Serviço
Darmapada
Tradução: Fernando Cacciatore de Garcia
160 páginas - R$ 13,00 (em média)
Editoa L&PM

Livro chave para a literatura científica

Escrito por Euclides por volta do ano 300 a.C, o tratado matemático Os elementos é um dos livros mais importantes do mundo ocidental. E também um dos mais publicados, já que apenas a Bíblia tem maior número de edições. "Se quiserdes conhecer o que é a matemática, basta olhardes os Elementos de Euclides", dizia Kant deste que se tornou o modelo lógico para as ciências exatas.

No entanto, quem desejava ler a obra em português tinha que se contentar com uma versão incompleta do século XVIII, feita a partir da edição latina de Commandino, baseada em manuscritos que mesclavam o texto original com comentários e acréscimos de Téon de Alexandria. Agora, a Editora Unesp lança a primeira tradução moderna e completa para o português, feita diretamente do grego por Irineu Bicudo, preservando o espírito conciso do texto sem que se perca a sua legibilidade.

Na introdução a este volume, Bicudo, que alia o interesse pelas letras gregas com uma sólida carreira nas ciências exatas, comenta que "se com Homero a língua grega alcançou a perfeição, atinge com Euclides a precisão". Pois, como ressalta, tanto este quanto aquele lançam mão de um recurso que "consiste em usar um conjunto de frases fixas que cobrem muitas ideias e situações comuns, poderoso auxílio à memória em um tempo de cultura e de ensino eminentemente orais [e] serve para aproximar o geômetra do poeta e então mostrar que perfeição e precisão podem ser faces da mesma moeda".

No total, Os elementos oferecem 465 proposições, além de definições, postulados e noções comuns (axiomas), distribuídos em 13 livros, sistematizando e dando sequência lógica para o conhecimento da matemática grega. E, neste processo, transformando-a, de fato, em uma ciência dedutiva. Os seis primeiros livros dão conta da geometria plana; os três seguintes, da teoria dos números; o décimo livro, o mais complexo, estuda uma classificação de incomensuráveis/irracionais; e os três últimos abordam a geometria no espaço.

Serviço
Os elementos
Euclides
Tradução: Irineu Bicudo
593 páginas - R$ 81,00 (em média)
Editora Unesp

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Uma grande narrativa

Em Londres, o jovem executivo holandês Hans van den Broek fica sabendo da notícia e passa a rememorar sua improvável amizade com esse homem enigmático, original de Trinidad, que tentava ganhar a vida em Nova York das mais diferentes formas.

Era uma amizade que floresceu num momento difícil da vida de Hans. Sua mulher Rachel o havia deixado logo após 11 de setembro, levando com ela seu filho pequeno, e ele não via perspectivas para o futuro.

Perdido em um país que considerava seu novo lar, Hans acabou encontrando conforto de uma forma inusitada: participando de um pequeno clube de críquete — esporte que ele praticara quando criança — formado apenas por estrangeiros da Ásia e das Antilhas que, como ele, tentavam sobreviver nessa terra desconhecida e por vezes hostil.

Terras baixas não é apenas um livro sobre as dificuldades de viver num país distante; é também uma belíssima história sobre o valor da amizade e a redescoberta do amor.

Leia trecho do livro:
http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/files/images/capas_livros/9788560281862.pdf

Serviço
Terras Baixas
Josep O'Neill
Tradução:
269 págians - R$ 42,90 (em média)
Editora Alguara

Purificar e Destruir, a sociedade moderna

Fruto de muitos anos de trabalho no âmbito de um programa do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, o CNRS, este livro propõe um enfoque fortemente transdisciplinar e comparativo dos processos de violência que desembocaram em massacres e genocídios da época moderna.

A investigação que deu origem à obra foi baseada em vários exemplos: a Shoah judaica da Segunda Guerra Mundial, as limpezas étnicas da ex-Iugoslávia, o genocídio da população tutsi de Ruanda e, ainda, os genocídios armênios e cambojanos.

Munido de uma ampla documentação histórica e de vastas referências bibliográficas, o autor tenta responder a diversas perguntas: Como tais crimes em massa foram possíveis? Quais manipulações da linguagem e dos espíritos intervieram para preparar a "passagem ao ato", sobretudo com a elaboração prévia de um imaginário e de justificativas? Como se articula e alucina a mecânica do assassínio?

Serviço
Purifica e Destruir
Jacques Sémelin
Tradução: Jorge Bastos
546 páginas - R$ 54,00 (em média)
Editora Difel

O mundo de Playboy

A edição é uma caixa com seis volumes em tamno grande com reproduções de pôsteres, capas, entrevistas famososa, fotos de bastidores e a história por tras de tudo isso escrita por Hefner. Os livro sque não são vendidos separadamente trazem os textos traduzidos para espanhol, alemão e frances. Forma feitas apenas 1.500 caixas

Serviço
Hugh Hefner´s Palyboy
Hugh Hefner
3506 páginas - US$ 1.250,00 (em média)
Editora Taschen

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A vida pela arte

Nos próximos meses, chega à Coleção L&PM POCKET Biografias mais um excelente volume: Van Gogh, de David Haziot, que recebeu Prêmio da Academia Francesa em 2008 pelo título. Filósofo de formação, escritor, David Haziot publicou em 2000 o romance, Le Vin de la Liberté (Robert Laffont, prêmio do romance histórico e prêmio da Academia do vinho de Bordeaux), o romance-conto em 2002 sobre o fim do matriarcado no neolítico, Elles (Autrement). Também é autor de L’Or du temps (Dargaud, 1989), um romance-quadrinhos poético, de três volumes, inspirado no mito de Orfeu, com o desenhista François Baranger. Editou e prefaciou três volumes das Vidas de Plutarco (Autrement).

Leia aqui trecho do livro

Serviço
Van Gogh
David Haziot
Tradução: Paulo Neves
190 páginas - R$ 15,00 (em média)
Editora L&PM

O lobo e nós mesmos

Com ilustrações de John Spencer, o texto fluente de Smith pode ser entendido como uma espécie de fábula dos tempos atuais, em que a luta do lobo pela sobrevivência representa a capacidade de superação - as características que o autor impõe ao animal, como rejeitar a fraqueza e admirir a perspicácia, o aproximam do humano. Por essa estreia, o jovem escritor foi elogiado por veículo prestigiados como o periódico "Observer" e a revista "Time Out".

Serviço
O lobo
Joseph Smith
Tradução: Adalgisa Campos da Silva
136 páginas - R$ 29,90 (em média)
Editora Alguarra

Poucas linhas de muitos Trevisans

Escritores, em geral, começam produzindo contos como uma espécie de exercício para desenvolver o fôlego necessário até conseguirem encarar um romance. Dalton Trevisan, ao contrário, almeja escrever textos cada vez menores. Alguns de seus diálogos são apenas sinais gráficos que indicam, por exemplo, silêncio ou surpresa.

É o que se vê em Violetas e Pavões, antologia de 22 contos inéditos do escritor paranaense que chega às livrarias nesta sexta-feira. Com seu estilo irônico e mordaz, o autor retrata uma galeria de monstros morais – ladrões, estupradores, sádicos e maníacos.Aos 84 anos, Trevisan usa erotismo intenso e diálogos incomuns para retratar a realidade do Brasil de hoje, em que a miséria, o desemprego e o desespero diante da falta de perspectivas se misturam com a esperança por um futuro melhor.

Trevisan venceu o Prêmio Portugal Telecom 2003 com Pico na Veia. Em 2007, ficou em segundo lugar na mesma premiação com Macho Não Ganha Flor. “Inútil dizer que Dalton Trevisan se repete. Um encontro amoroso também é uma repetição de gestos e nem por isso deixa de ser desejado e sonhado”, disse certa vez o crítico literário Leo Gilson Ribeiro. Para Silviano Santiago, escritor e crítico, o paranaense é o autor de sua geração “que melhor soube dar dignidade aos sentimentos humanos”. Violetas e Pavões parece reafirmar a ideia de que Dalton Trevisan busca criar histórias completas com apenas duas ou três linhas.

Serviço
Violetas e Pavões
Dalton Trevisan
128 páginas - R$ 32,00 (em média)
Editora Record

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O jardim de cimento

A publicação de O Jardim de Cimento - o primeiro romance de Ian McEwan, cuja colectânea de contos Primeiro Amor, Últimos Ritos já havia sido galardoada com o Prémio Somerset — anunciava a singularidade das obras futuras de um autor que, integrando-se numa geração que procurou renovar as letras inglesas, é hoje reconhecido como um dos maiores escritores da ficção mundial contemporânea.

O Jardim de Cimento considerado pela crítica simultaneamente chocante e perfeito, mórbido mas terrivelmente irresistível, é uma narrativa contada na primeira pessoa pelo seu protagonista, Jack, um rapaz de quinze anos que vive com duas irmãs adolescentes e um irmão pequeno. Com a morte dos pais, os quatro jovens experimentam uma sensação extraordinária de perda e liberdade. Num clima de isolamento quase doentio, tornam-se personagens de um universo estranho e entregam-se despreocupadamente a jogos solitários, ao desmazelo, à apatia e às fantasias mais arrebatadoras. Mas a consistência destas figuras está longe de se cingir a uma minoria marginal, remetendo-nos antes para a organização simbólica da comunidade como um todo. A ausência de valores não aparece neste romance como um caso específico, constituindo um sintoma de que nada afinal distingue o verdadeiro do falso, o útil do inútil, o sagrado do interdito.

E tudo isto contado com um realismo inquietante, sem concessões nem rodeios, onde a morte e o sexo espreitam a cada porta para fazer saltar o verniz das convenções, dos preconceitos morais e do conservadorismo britânico. Sensual, perturbador, fascinante: uma pequena obra-prima.
«Recria maravilhosamente a ambiência do momento da vida dos jovens em que estes alcançam a vida adulta instantânea por que todos anseiam, em que o vulgar ganha um brilho de mistério e o extraordinário parece uma banalidade. É difícil pôr defeito na escrita ou na construção desta fábula sinistra.»

Serviço
Jardim de Cimento
Ian McEwan
144 páginas - R$ 30,00 (em média)
Editora Companhia das Letras