terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A revolução Peruana


O autor examina os três grandes ciclos de atividade radical: a fase de formulação do grande horizonte radical - representado pela obra de González Prada, Haya de la Torre e Mariátegui; a forja do campesinismo contemporâneo e sua correspondente tentativa de longa marcha armada, representada pela geração do agrarista trotskista Hugo Blanco Galcós e do "aprista rebelde" Luis de la Puente Uceda; e o ciclo constituído por três projetos que aspiravam estabelecer no mundo rural andino as bases da sua própria versão de nação pós-oligárquica: a "revolução militar" do general Juan Velasco Alvarado,a "nova esquerda" pós-guerrilheira e a "guerra popular" senderista encabeçada por Abimael Guzmán Reynoso.

Serviço
A Revolução Peruana
José Luis Rénique
174 páginas - R$ 20,00 (em média)
Editora Unesp

Textos Autobiográficos


Começando com os escritos sobre as primeiras lembranças da infância e culminando com sarcásticas reflexões de um septuagenário, este volume apresenta uma completíssima coletânea das melhores histórias autobiográficas de Charles Bukowski. Contos, poemas e trechos de romances dão forma à vida de um dos maiores expoentes da contracultura norte-americana.

Organizado cronologicamente não pela data de publicação mas pelo período da vida de Bukowski que é retratado, Bukowski – Textos autobiográficos mostra o que há de mais humano na existência de alguém que sempre viveu nos extremos e exacerba a genialidade contida por trás do escritor devastado pelo álcool. Muito menos uma antologia e muito mais uma espécie de livro de memórias, este monumental conjunto de relatos desapaixonadamente eloquentes destila a essência do prodigioso trabalho de uma vida e oferece uma experiência literária por vezes atormentada e invariavelmente hilária.

Serviço
Bukowski - Textos Autobiográficos
Charles Bukowski
480 páginas - R$ 66,00 (em média)
Editora LPM

História da Escrita


História da escrita, lançamento da Editora Unesp,é uma introdução atualizada desta ferramenta versátil que dá base à comunicação há seis mil anos. O linguista americano Steven Roger Fischer apresenta as dinâmicas sociais que envolvem a escrita, assim como suas origens, formas, funções e mudanças cronológicas dos sistemas de escrita em todo o mundo, das primeiras inscrições até os meios eletrônicos.

Fischer parte da dupla constatação de que escrita nasceu da necessidade humana de transmitir e armazenar informações e que grande parte dos sistemas de escrita inventados ao longo dos séculos se extinguiu. E isso acontece porque as formas de escrita mais antigas não se enquadram no conceito de escrita completa. Ou seja, não atendem a estes três requisitos: ter como objetivo a comunicação, consistir em marcações gráficas artificiais feitas em uma superfície durável e usar marcas que se relacionem entre si, que se articulem como a fala.

E à medida que a sociedade descobre novas necessidades e novas respostas, a escrita muda, se refina. Ou seja, a escrita muda à medida que a humanidade se transforma, dimensão da condição humana que Fisher acompanha passo a passo, chegando às novas estruturas onde computadores podem tanto "escrever" mensagens quanto programas inteiros. Com isso, os novos sistemas transcendem o que por muito tempo significou para nós a palavra escrita.

História da escrita ressalta ainda a autonomia que a escrita adquiriu como meio de transmissão de informações com a passagem da leitura em voz alta para a silenciosa. Quanto à democratização da escrita, outro aspecto importante que o autor apresenta é a popularização e o crescimento da indústria do papel, possibilitando a alfabetização em massa. O que antes era acessível a poucos, hoje faz parte do cotidiano de 85% da população mundial, aproximadamente cinco bilhões de pessoas.

Serviço
História da Escrita
Steven Roger Fischer
293 páginas - R$ 45,00 (em média)
Editora Unesp

O som da montanha


A cada dia Shingo Ogata trava novos confrontos com a memória que desvanesce. Preocupado com a decadência moral de seus descendentes, divide-se entre a difícil função de chefe de família e o clamor da beleza que o traga a todo instante para paisagens que estão além de seu convívio com os homens.

Parte da chamada “trilogia dos sentimentos humanos”, ao lado de O país das neves (Estação Liberdade, 2004) e Mil tsurus (Estação Liberdade, 2006), a presente obra constitui um exercício estilístico de rara felicidade: resultado da busca de vida inteira pela depuração total da arte romanesca, a simplicidade do narrar aqui se apresenta plena, suave, homogênea.

Kawabata maneja com habilidade seus personagens em meio ao delicado tecido dramático. Com a sutileza que lhe é peculiar, faz brotarem da narrativa os demônios pessoais que a rigidez da família japonesa não é capaz de conter em uma era de incertezas, abalada pela crise de identidade que sobreveio à Segunda Guerra Mundial. Shingo Ogata, representante de uma geração que se despede, luta para fazer valer sua autoridade e a sabedoria da tradição, mas é incessantemente capturado por flores, cantos de pássaros, e mais amiúde pela beleza e delicadeza da jovem nora, Kikuko. Apresentando os primeiros laivos de senilidade, Ogata já não está totalmente presente. Sua existência lírica anuvia sua vida prática.

Mais uma obra magistral do Prêmio Nobel Yasunari Kawabata: em O som da montanha dançam, de mãos dadas a uma observação arguta da moderna sociedade japonesa, reflexões sobre vida e morte (em especial sobre a possibilidade do suicídio, ao qual se entregaria o próprio autor em 1972), momentos de profundo lirismo contemplativo e a beleza suave do erotismo na velhice. Aos fundos da casa, a vista para a montanha, cujas mensagens Shingo Ogata vai aos poucos se tornando capaz de decifrar.

Serviço
O som da montanha
Yasunaria Kawabata
Tradução: Meiko Shimon
344 páginas - R$ 53,00 (em média)
Editora Estação Liberdade

Lançamentos de 2010 da Editora contexto

Algumas novidade para 2010 virão com a Copa do Mundo. A editora programou, a partir de fevereiro, mais sete livros sobre futebol, que irão se juntar aos dois recentemente publicados. O jogo começa com o jornalista e narrador esportivo Milton Leite, colocando em campo As melhores seleções brasileiras de todos os tempos. Logo depois As melhores seleções (estrangeiras) de todos os tempos, serão escaladas pelo jornalista e comentarista esportivo Mauro Beting. Em março chegam Os melhores camisas 10 do futebol brasileiro e Os melhores laterais do futebol brasileiro. Abril é o mês de conhecermos Os melhores volantes do futebol brasileiro. Em maio encerram a série Os melhores centroavantes do futebol brasileiro e Os melhores goleiros do futebol brasileiro. Eventuais (e pequenas) alterações nas datas serão comunicadas à mídia.

Fora das quatro linhas, a Contexto sairá em abril com a primeira Gramática do português brasileiro, obra que coroa a vida intelectual de um dos maiores linguistas que o Brasil já produziu. Pela primeira vez em 510 anos de presença portuguesa uma gramática rompe com o conceito de língua “emprestada” pela antiga metrópole e estabelece as bases de uma fala diferente, a brasileira. O trabalho de Ataliba Castilho está destinado a ser uma obra de referência para estudiosos e usuários do português brasileiro.

Antes ainda, em janeiro, publicaremos uma obra interessante para historiadores e interessados em história: Grandes personagens do Brasil, escrita por Fábio Pestana Ramos e Marcus Vinícius de Morais, retrata diversos homens e mulheres do Brasil colônia que ajudaram a construir essa nação. E, logo depois, uma importante contribuição à educação, o livro Educar na Infância, organizado pela educadora Gizele de Souza.

O ano terá muito mais! A coleção Povos e Civilizações descreve os nossos “patrícios” e hermanos em Os portugueses e Os argentinos. O historiador Peter Stearns faz uma brilhante síntese sobre a História da sexualidade. Phillipe Masson, autor francês e especialista em guerras mundiais, apresenta ao público brasileiro seu livro A Segunda Guerra Mundial, uma obra completa sobre os acontecimentos que mudaram a geografia do século XX. E ainda a esperada nova edição, ampliada (o dobro de páginas da edição anterior) e totalmente revista do clássico Cativeiro da terra, do sociólogo José de Souza Martins.

Beethoven era negro


Escritos em prosa inquieta e precisa, os textos de Beethoven era 1/16 negro perfazem um conjunto que retrata a África do Sul em nova configuração social. Filiação, cor da pele e origem étnica já não são tão determinantes, mas continuam informando as identidades de indivíduos que agora têm a chance de repensar o passado e intuir futuros incertos e promissores.

A nova configuração política do país faz negros, mulatos, imigrantes e mulheres assumirem papéis proeminentes. Até os brancos precisam reinventar uma identidade nesse país "como ele é agora". Ganham destaque as personagens femininas, que guardam a chave de compreensão dos novos tempos. São elas que parecem mover a atual dinâmica social sul-africana, por meio do casamento e do divórcio, da gestação e do aborto, da meditação sobre o passado e da inserção no mercado de trabalho.

A literatura de Nadine Gordimer é um retrato ficcional do país nesse momento de reinvenção de si mesmo. Como diz o narrador do conto que dá nome a este livro, "houve um tempo em que negros queriam ser brancos, hoje brancos querem ser negros; o segredo é o mesmo".

Serviço
Beethoven era 1/16 negro e outros contos
Nadine Gordimer
Tradução: Beth Vieira
168 páginas - R$ 41,50 (em média)
Editora Companhia das Letras

Estudo analisa o papel do Brasil nas negociações internacionais


Apesar das profundas transformações que o Brasil sofreu nos anos 90 rumo à liberalização econômica, o que se vê é que o país continua sendo um dos mais resistentes, no âmbito dos fóruns econômicos mundiais, para assumir compromissos que tornariam as medidas já adotadas reconhecidas em termos de direitos e obrigações legais. Esse comportamento paradoxal é o ponto de partida para o estudo de Neusa Maria Pereira Bojikian em Acordos comerciais internacionais: o Brasil nas negociações do setor de serviços financeiros, lançamento da Editora Unesp que analisa como a "liberalização administrada" se impôs como a opção mais racional para as autoridades nacionais.

Na obra, a autora questiona por que a abertura financeira verificada no Brasil não corresponde ao grau de compromisso para com a liberalização apresentado pelo país na OMC, no Mercosul, na Alca e nas negociações com a União Europeia. Para responder à indagação, Bojikian lança um olhar crítico sobre as transformações econômicas pelas quais o país passou nas duas últimas décadas e para o papel de liderança que o Brasil assume, desde a década de 60, nas coalizões que procuram fortalecer a capacidade de negociação dos países em desenvolvimento.

Para tanto, Acordos comerciais internacionais se divide em cinco partes. Na primeira, a especialista apresenta aspectos conceituais em matéria das negociações feitas em fóruns internacionais. Em seguida, traça a história desses eventos desde os anos 70 até meados dos 80, com destaque para o clima de conflito que se instalou desde o início do debate sobre liberalização do comércio e serviços e a posição do Brasil nesse embate.

Na terceira parte, explora o que significou a abertura financeira do país na década de 90 para logo depois analisar as decisões tomadas pelo Brasil e por outros países nos fóruns internacionais no que tange ao setor de Serviços Financeiros. Assim, é possível verificar em que medida as ofertas brasileiras se diferenciam da situação real de abertura do setor. Percebe-se neste caminho que o Brasil usa as mesmas estratégias e táticas de negociações dos principais países desenvolvidos.

Na quinta parte, a autora analisa a natureza da atual crise, pondo em discussão a possibilidade de uma nova regulamentação no sistema financeiro e um eventual conflito diante dos compromissos já assumidos ou mesmo dos que viriam a ser assumidos no âmbito dos acordos comerciais. O exame acaba evidenciando também como o fato de ter resistido às pressões para a consolidação da abertura no âmbito das negociações comerciais acabou contribuindo para preservar o Brasil de mais uma extraordinária crise financeira.

Serviço
Acordos comerciais internacionais:
O Brasil nas negociações do setor de serviços financeiros
Neusa Maria Pereira Bojikian
273 páginas - R$ 45,00 (em média)
Editora Unesp

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Beatriz Milhazes


Embora a arte brasileira ocupe uma posição de crescente prestígio no cenário internacional, muito da nossa produção artística ainda é desconhecida do público.

O livro oferece ao público amante das artes plásticas um mergulho nas cores e formas de uma de nossas artistas mais importantes: Beatriz Milhazes, hoje uma das pintoras brasileiras de maior prestígio internacional. Com um texto elegante e informativo de Paulo Herkenhoff, o leitor conhecerá de perto o trabalho dessa artista de renome internacional.

Serviço
Beatriz Milhazes
Textos de: Paulo Herkenhoff
264 páginas - R$ 180,00 (em média)
Editora Frncisco Alves

O Afeganistão


O Afeganistão é o cenário deste romance cujos personagens principais estão ligados ao país por suas perdas. A trama converge para uma casa em que paredes e ocupantes carregam cicatrizes da história. De uma narrativa belíssima emergem memórias da comoção dos afegãos quando o suicídio foi proposto pelos Estados Unidos como forma de combater os russos, da independência feminina antes da chegada do Talibã e dos 2 milhões de mortos nos conflitos.

Serviço
A vigília Perdida
Nadeem Asalam
Tradução: Léa Viveiros de Castro
336 páginas - R$ 42,90 (em média)
Editora Record

Gênesis


Ao longo dos séculos diversos grandes artistas se dedicaram a ilustrar Gênesis, o livro inicial da Bíblia, aquele que conta a origem de tudo. Adão e Eva, Caim, Abel, Noé, Abraão, Sara, Jacó, José são dos personagens mais retratados em pinturas e esculturas. Agora, no século XXI, aquele que é considerado não só o maior quadrinista do planeta, mas, para muitos, o maior artista vivo do Ocidente, resolveu realizar sua obra máxima, uma versão em quadrinhos com o texto integral de Gênesis. Durante mais quatro anos, Crumb se dedicou a um estudo profundo nas pesquisas mais atuais a respeito do texto bíblico, à iconograia clássica e em um material fotografico imenso da chamada Terra Santa. O resultado é uma obra monumental, já saudada como o livro do ano!

Serviço
Gênesis
Robert Crumb
224 págins - R$ 33,80
R$ 33,80 (em média)
Editora Conrad

Rio de Janeiro


Imortalizado por suas Memórias do Rio de Janeiro, Vivaldo Coaracy escreveu esta raridade histórica há mais de meio século, abrangendo o período de 1601 a 1700 em forma cronológica, constituindo-se em um verdadeiro guia histórico da ascensão da cidade.

Serviço
O Rio de Janeiro no século XVII
Vivaldo Coaracy
209 págians - R$ 69,00 (em média)
Editora Documenta Histórica

Homens Ilustres


Para uma grande reportagem da revista Fortune, o escritor e jornalista James Agee e o fotógrafo Walker Evans aprofundaram-se no sul dos Estados Unidos, em 1936, com o objetivo de retratar os efeitos da Grande Depressão que assolava o país. Durante quatro semanas, conviveram com três famílias de meeiros pobres do Alabama, numa relação tão próxima que chegaram a dormir na choupana de uma delas e a flertar com uma garota de outra família. O resultado dessa experiência extrapolou largamente os limites do que era conhecido como boa reportagem, e a matéria nunca chegou a ser publicada na imprensa. Ao longo dos anos seguintes, Agee reformulou o texto e o deixou ainda mais pessoal e refinado. Publicado em livro, em 1941, a aventura de Agee e Evans tornou-se desde então referência obrigatória para os estudos de jornalismo, literatura e antropologia. Ao mesmo tempo retrato minucioso - a ponto de dedicar várias páginas à descrição de um único aposento de casebre rural - e reflexão audaz sobre os limites da observação e da representação, já que Agee reflete de maneira pungente acerca do encontro entre duas realidades tão diversas - a dos dois "invasores" urbanos e cultos e a dos iletrados roceiros -, Elogiemos os homens ilustres é hoje reconhecido universalmente como obra de grande densidade literária e humana.

Em seu realismo brutal e ao mesmo tempo poético, as 62 fotos em preto e branco de Evans que abrem o livro como um filme mudo, sem legendas, traduzem, comentam e amplificam o impacto do texto.

Serviço
Elogiemos os homens ilustres
James Agee e Walker Evans
454 páginas - R$ 62,00 (em média)
Editora Companhia das Letras

História dos farrapos


História Ilustrada do Vestuário é uma obra de referência ricamente ilustrada que combina dados históricos com estudos de dois grandes artistas gráficos do século 19: Auguste Racinet e Friederich Hottenroth. Apresentados cronologicamente e divididos por temas, os desenhos acompanham textos de especialistas e trazem ricas informações sobre a história da vestimenta. As ilustrações das silhuetas revelam as variações das formas, modelos e cortes em cada época, e notas chamam a atenção para motivos recorrentes até os dias atuais. Traz ainda um capítulo sobre acessórios e um glossário abrangente.

Serviço
História Ilustrada do vestuário
Organização: Melissa Levington
352 págins - R$ 69,90 (em média)
Editora Publifolha

Norte


O Instituto Moreira Salles lança o livro Marcel Gautherot - Norte, com 72 fotografias do fotógrafo francês feitas na Amazônia brasileira entre os anos 1940 e 1970 e texto de apresentação de Milton Hatoum e Samuel Titan Jr. Em 1939, quando chegou ao Brasil pela primeira vez, o parisiense Marcel Gautherot (1910-1996) queria subir e fotografar todo o curso do rio Amazonas. A viagem não foi muito longe, interrompida pela Segunda Guerra Mundial a mesma guerra que, um ano depois, obrigará o jovem fotógrafo a se radicar no Brasil, seu país de adoção até o fim da vida. No curso das três décadas seguintes, Gautherot voltou repetidamente à Amazônia, fascinado pela paisagem vasta, instável e anfíbia, que desafiava seu olhar europeu e o convidava a uma verdadeira aventura da sensibilidade. O resultado é uma vasta produção de imagens, em que Gautherot a um só tempo trava contato com a nova paisagem brasileira e reflete sobre sua própria memória pictórica ocidental. Ao fazê-lo, Gautherot deixa para trás as fronteiras entre os gêneros fotográficos e cria uma nova síntese de retrato e paisagem, documento e abstração, forma e caos.

Serviço
Norte
Marcel Gautherot
144 páginas - R$ 56,00 (em média)
Instituto Moreira Salles

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A crise do Islã



Ali A. Allaqui, ex-ministro da Defesa e das Finaças do Iraque, parte do pressuposto de que o Islã, religião que ocupa o cento da vida de bilhoões de indivíduos, experimenta como civilização uma crise monumental.

Enfraquecido pelas correntes internas, o islaminso não passaria hoje, de uma sombra de si mesmo. O problema se agrava, segundo o autor, com a globalização. A invasão ocidental vem testando a maleabilidade e intransigência dos valores islãmicos nos tempos modernos, acredita ele.

Sob essa perspectiva, Allawi investiga a inadequação das instituições e leis do mundo islâmico, ao mesmo tempo que comenta a repercurssão em torno do fortalecimnto da religiosidade e do fenômeno do terrorismo. Vale a pena ler, sem levar muito em consideração.

Serviço
The Crisis of islamic civilization
Ali A. Allawi
304 páginas - R$ 86,60 (em média)
Yale University Press

Diário dos Moedeiros Falsos


Tarefa difícil dar conta da magnitude de Os moedeiros falsos. Romance sobre a construção do romance, é ao mesmo tempo romance de formação, flerta com o estilo folhetinesco, com o romance policial, o romance de ideias... Diz o personagem Édouard a certa altura: “[...] as ideias, confesso, interessam-me mais do que os homens; interessam-me acima de tudo. Elas vivem; combatem; agonizam como os homens. Naturalmente pode-se dizer que só as conhecemos pelos homens, assim como só temos conhecimento do vento pelos caniços que ele inclina; mas mesmo assim o vento importa mais que os caniços.”

Bernard, Olivier e Édouard são os rapazes que formam a tríade central de personagens. Bernard, o filho que deixa o lar em busca de identidade, um bastardo na pele do filho pródigo; Olivier, seu grande amigo, intelectual como ele, mas sempre no limiar entre a vaidade e a insegurança. Tio de Olivier, algo mais velho que os dois, Édouard fecha o núcleo que norteará o leitor em meio ao sistema caleidoscópico e polifônico de Os moedeiros falsos. Em especial este último: é por meio do diário de Édouard (escritor, ele planeja escrever um romance chamado Os moedeiros falsos) que o leitor é tragado pela estrutura abismal — mise en abyme, segundo Gide — da obra dentro da obra, onde os limites entre o ficcional e o real se atenuam e vêm à tona a metalinguagem e a reflexão sobre as possibilidades e os limites de um romance.

Anterior ao esquema de falsificação armado por Victor Strouvilhou, quiçá esteja outro tipo de “moeda falsa”. Se nos Porões do Vaticano o elemento diabólico encontra seu totem na figura de Lafcadio, aqui ele se dissemina. Há como que uma brisa funesta a perpassar todo o enredo, o qual, no entanto, encontra seu equilíbrio na juventude e na pureza de alguns de seus cativantes personagens: um erotismo sutil, combinado com a causalidade e a inconsequência. “Quando eu era mais jovem, tomava resoluções que imaginava nada virtuosas. Preocupava-me menos em ser quem era do que em me tornar quem pretendia ser. Agora, pouco me falta para ver na irresolução o segredo para não envelhecer.”

Serviço
Diário dos Moederios Falsos
André Gide
Tradução: Mário Laranjeira
144 páginas - R$ 62,00 (em média)
Editora Estação Liberdade

O Pombo-Torcaz


Em 28 de julho de 1907, André Gide, que se hospedava na propriedade de seu amigo Eugène Rouart em Bagnols-de-Grenade, próximo a Toulouse, encontra um jovem, Ferdinand, filho de um empregado da herdade. Com este, que ele apelidará carinhosamente de “pombo-torcaz” — ramier, em francês — em razão de uma espécie de “arrulho” que ele emitia ao fazer amor, o futuro Prêmio Nobel, à época quase quadragenário, viverá uma noite de êxtase que o fará sentir-se “dez anos mais jovem”.

Arrebatado pelo acontecimento, Gide se lança no relato lírico e minucioso desse episódio, ao qual terão acesso apenas alguns amigos muito próximos, entre os quais Jacques Copeau. Gide volta várias vezes a Bagnols, e se preocupa com o destino de Ferdinand, que morreria em 1910. Seu Pombo-torcaz, no entanto, não seria jamais publicado.

Quase um século após haver sido escrito, encontrado recentemente por Catherine Gide em meio aos arquivos de seu pai, apresentamos este Pombo-torcaz, mundialmente inédito e cuja publicação Catherine finalmente autorizou, consagrando a “emoção da descoberta erótica, a alegria da cumplicidade, a vitória do desejo e do prazer partilhados”, como ela escreve no preâmbulo.

No prefácio e no posfácio, Jean-Claude Perrier e David Walker debruçam-se sobre esta insólita peça narrativa e enriquecem a edição com excertos inéditos da correspondência André Gide–Eugène Rouart.

Serviço
O Pombo-Torcaz
André Gide
Tradução: Mauro Pinheiro
256 páginas - R$ 40,00 (em média)
Editora Estação Liberdade

Os porões do Vaticano


Na França dos séculos XIV e XV, as farsas satíricas eram conhecidas como soties. Assim Gide classifica este Porões do Vaticano, livro que tanto o teria divertido durante o processo de criação.
O prazer experimentado na leitura não é diferente: logo ao princípio, deparamo-nos com personagens marcantes e caricatos, como o maçom Anthime Armand-Dubois, que oscila entre o ceticismo e a fé, a qual não resiste, por sua vez, ao final da história; Amédée Fleurissoire, católico fervoroso que no transcurso da obra é manipulado, pervertido e enganado... E Julius de Baraglioul, escritor que luta para sair da mediocridade.

Algo de muito misterioso envolve a figura do papa, que teria relação com “o antigo mausoléu de Adriano, aquela célebre prisão que, em secretas masmorras, havia outrora abrigado muitos prisioneiros ilustres, e que um corredor subterrâneo liga, ao que parece, ao Vaticano”. Organiza-se uma quixotesca cruzada para resgatá-lo; Protos, o vigarista, entra em cena; o fio da trama se tensiona e assim se manterá até o final da narrativa. O texto flutua na fronteira entre o teatro e o romance, às vezes assumindo ares de farsa ou de comédia barroca, subvertendo os modelos balzaquianos, apresentando aqui e ali toques de uma estética noir.

Espécie de personagem exemplar, encontramos Lafcadio, irmão bastardo de Julius. Se os personagens descritos acima são responsáveis pela nota cômica, é ele quem dá o charme, o desconforto e o horror à tessitura da história. Este livro de 1914 marca a ruptura de Gide com a Igreja e seus primeiros passos rumo à subversão de cânones estilísticos e ideológicos que se completaria em obras como Se o grão não morre (1919) e Corydon (1924). Por sua vez, Lafcadio, alheio ao escrúpulo, capaz de executar atos de heroísmo ou atrocidades com a mesma naturalidade, e que já anuncia à literatura contemporânea possibilidades estéticas como a de um Meursault, de Camus, é a negação de toda e qualquer moral. Sua figura se estende através da narrativa como a promessa assustadora da liberdade total e não permite que o leitor, em nenhum momento, esteja confortável em sua companhia.

Serviço
Os porões do Vaticano
André Gide
Tradução: Mauro Pinheiro
256 página - R$ 40,00 (em média)
Editora Estação Liberdade

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Moda


O escritor, crítico e colaborador da revista Elle refaz a trajetória da moda nos últimos cem anos, da Belle Époque aos anos 1990. Ele detalha as etapas de cada época e apresenta seus principais estilistas. Ao final de cada período, um capítulo especial traz uma galeria de fotos com astros do cinema e da música, além de um capítulo reservado à moda masculina.

Serviço
Moda do século
François Baudot
Tradução: Maria Thereza de Resende Costa
400 páginas - R$ 99,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

Fim da partida


Escrita na atmosfera do pós-guerra, a obra traz para o centro da cena histórica o modernismo tardio de Samuel Beckett (1906-1989). Repetindo a estrutura dramática de Esperando Godot, os dois protagonistas, Hamm e Clov, encontram-se reclusos num abrigo, sofrendo com a escassez de alimentos e remédios. Fim de partida é um ensaio sobre o enigma de nossa condição, segundo Beckett, desumana. Fecha o volume um belíssimo ensaio fotográfico com cenas de diferentes montagens da peça.

Serviço
Fim da partida
Samuel Beckett
Tradução: Fábio de Souza Andrade
240 páginas - R$ 52,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

Meu ultimo suspiro


Meu último suspiro (1982) narra as relações entre vida e obra do espanhol Luis Buñuel (1900-1983), diretor de obras-primas como Veridiana (1961, com o qual conquistou a Palma de Ouro em Cannes) e O discreto charme da burguesia (1972).

Com a ajuda do roteirista Jean-Claude Carrière, que deu forma ao texto, Buñuel relembra – muitas vezes com altas doses de humor – detalhes de suas produções, a começar por Um cão andaluz (1928), primeiro filme surrealista, feito em parceria com Salvador Dalí, passando por Os esquecidos (1950) e Nazarin (1958), rodados no largo período em que viveu no México. Em outro capítulo, trata da guerra civil espanhola (1936-1939), no qual fala de sua simpatia pelas ideias comunistas.

Dono de uma personalidade forte e complexa, boêmio e apaixonado por boxe e pelos prazeres da vida, Buñuel revela sem pudores passagens polêmicas, como o afastamento do amigo Garcia Lorca e as brigas – incluindo um quase enforcamento – com Gala, mulher de Dalí.

A edição tem nova tradução, de André Telles, e, além da seleção de imagens feita pessoalmente por Buñuel durante as conversas com Carrière, traz também fotos de seu acervo pessoal, cedidas por seu filho Juan Luis.

Serviço
Meu último Suspiro
Luis Buñuel
Tradução: André Telles
240 páginas - R$ 55,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

Meu ultimo suspiro


Meu último suspiro (1982) narra as relações entre vida e obra do espanhol Luis Buñuel (1900-1983), diretor de obras-primas como Veridiana (1961, com o qual conquistou a Palma de Ouro em Cannes) e O discreto charme da burguesia (1972).

Com a ajuda do roteirista Jean-Claude Carrière, que deu forma ao texto, Buñuel relembra – muitas vezes com altas doses de humor – detalhes de suas produções, a começar por Um cão andaluz (1928), primeiro filme surrealista, feito em parceria com Salvador Dalí, passando por Os esquecidos (1950) e Nazarin (1958), rodados no largo período em que viveu no México. Em outro capítulo, trata da guerra civil espanhola (1936-1939), no qual fala de sua simpatia pelas ideias comunistas.

Dono de uma personalidade forte e complexa, boêmio e apaixonado por boxe e pelos prazeres da vida, Buñuel revela sem pudores passagens polêmicas, como o afastamento do amigo Garcia Lorca e as brigas – incluindo um quase enforcamento – com Gala, mulher de Dalí.

A edição tem nova tradução, de André Telles, e, além da seleção de imagens feita pessoalmente por Buñuel durante as conversas com Carrière, traz também fotos de seu acervo pessoal, cedidas por seu filho Juan Luis.

Serviço
Meu último Suspiro
Luis Buñuel
Tradução: André Telles
240 páginas - R$ 55,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cinema e Anarquia


Cinema e Anarquia – uma história “obscura” do cinema na França (1895-1935) se destaca por sua originalidade temática, pela visada teórico-crítica e principalmente pela diversidade da abordagem, como uma metodologia criativa, abarcando ideias políticas, periódicos libertários, arquivos institucionais, filmes militantes e de vanguarda, e a crítica e a teoria cinematográficas. O livro é um convite ao cinema, para que vejamos novamente esses filmes com um olhar mais generoso, um olho na tela e outro na história. Sem ser sisudo, é uma introdução, uma primeira abordagem para quem deseja atravessar o espelho da anarquia e ver as deformações do mundo e da história.

Serviço
Cinema e anarquia
Isabelle Marlnone
240 páginas - R$ 36,00 (em média)
Editora Azougue

O Afeganistão


O que saiu errado no Afeganistão e no Paquistão? Por que os talibãs, mesmo afastados do poder, continuam desafiantes? O que ocorreu com a “guerra global ao terror”? Por que Osama bin Laden ainda não foi capturado? Por que cresce nos Estados Unidos o repúdio à “guerra de necessidade” que o presidente Barack Obama herdou de seu antecessor, George W. Bush? Qual é o papel americano, russo, paquistanês e saudita nessa crise? Esta obra, escrita a partir do contato do autor com a região, ajuda a iluminar essas e outras incógnitas de nosso tempo.

Quando os primeiros mísseis Tomahawk atingiram o Afeganistão por ordem do presidente George W. Bush, em 7 de outubro de 2001, Luiz Antônio Araujo era um dos poucos repórteres brasileiros na região do conflito. Durante 29 dias, como enviado do jornal Zero Hora, ele percorreu o Paquistão e chegou à fronteira com o Afeganistão para mostrar o outro lado da tragédia de 11 de setembro: a dos homens, mulheres e crianças apanhados no caminho entre as forças dos Estados Unidos, de um lado, e as do Talibã e da Al Qaeda de Osama bin Laden, de outro. Este livro – o primeiro publicado em nosso país por um jornalista brasileiro que testemunhou, na Ásia, os momentos iniciais daquilo que viria a ser chamado de “guerra global ao terror” – é o resultado desse trabalho.

A derrubada do regime dos mulás e o desmantelamento da estrutura da Al Qaeda no Afeganistão custou aos Estados Unidos dois meses e oito dias. Passados oito anos do 11 de setembro e 30 anos da invasão soviética em solo afegão, a região que o presidente americano Bill Clinton chamou de “a mais perigosa do mundo” continua a atrair a atenção internacional. Luiz Antônio Araujo entrevistou refugiados, militares, diplomatas, trabalhadores de organizações humanitárias, médicos, estudantes e religiosos. Visitou Peshawar, a cidade onde nasceu a Al Qaeda, e Quetta, um dos refúgios do Talibã. Percorreu Karachi, onde foi sequestrado e morto o jornalista americano Daniel Pearl. O resultado é um painel abrangente da tragédia da Ásia Central e do Subcontinente Indiano, regiões que, como mostra a história recente, podem se tornar um fator explosivo da situação mundial.

“Uma contribuição valiosa e rara para o leitor brasileiro que tenta compreender o que se passa nessa região, que continua sendo um epicentro de instabilidade mundial – e da perplexidade mundial.”

Serviço
Binladenistão
Luis Antônio Araujo
304 páginas - R$ 47,00 (em média)
Editora Iluminuras

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Lendo Lolita em Teerã


A autora iraniana Azar Nafisi nos conduz à intimidade da vida de oito mulheres que precisam encontrar-se secretamente para explorar a literatura ocidental proibida em seu país. Durante dois anos, antes de deixar o Irã, em 1997, Nafisi e mais sete jovens liam em conjunto Orgulho e preconceito, Madame Bovary, Lolita e outras obras clássicas sob censura literária. A narrativa de Nafisi remonta aos primeiros dias da revolução islâmica liderada pelo aiatolá Khomeini (1979), quando ela começou a lecionar na Universidade de Teerã, em meio a um turbilhão de protestos e manifestações. Obra de grande paixão e beleza poética que nos ajuda a entender os sangrentos conflitos do Irã com o vizinho Iraque, e a tirania do regime islâmico.

Serviço
Lendo Lolita em Teerã
Azar Nafisi
420 páginas - R$ 19,90 (em média)
Editora Record

O macaco ornamental

A fórmula clássica do conto não passa de uma fronteira imaginária que o contista, em vez de aceitar, deve derrubar. A literatura é a terra dos desmentidos. Um conto só é um grande conto quando se desvia do que um conto deve ser.

Em geral, só na maturidade os contistas conquistam esta liberdade interior. É raro que, antes disso, se autorizem ao risco. Daí o grande espanto provocado por O macaco ornamental, livro de estreia de Luís Henrique Pellanda.

Pellanda não vacila: em vez de agir como um narrador aplicado, que “escreve bem”, ele se aventura em um salto no escuro. Em consequência, sua escrita deixa de ser mero ornamento para se transformar na manifestação de uma fome interior.
Alguns contos, como “Amigo vivo, amigo morto”, de tão densos e delicados, se avizinham da poesia. Em um relato comovente como “Ladrão de cavalos”, em movimento inverso, é a poesia que, desenrolada nas entrelinhas, se infiltra e comanda a narrativa.

Em outros, como “Leandra Áurea”, o relato serve a Pellanda para, com palavras simples, aproximar-se da filosofia. “O paraíso: nunca mais uma pergunta” define o narrador. É o inferno das perguntas, contudo, que leva um contista a escrever.
As ideias se expandem no brevíssimo conto que empresta título ao livro, crítica feroz ao “homem integrado” de hoje. Em um mundo de utensílios, os homens se transformam em enfeites. Tristes ornamentos que, ressecados como as múmias, são um ensaio para a morte.

Nas mãos habilidosas de Pellanda, o conto às vezes se comprime tanto — como em “Ingratidão” — que se torna uma bofetada.

A literatura tem o tamanho do golpe que desfere no leitor. Não se lê um conto como “Duas cartas”, belo relato sobre a despedida, sem que a amargura nos domine.
Obstinado na procura de sua voz, e sem medo do fracasso, Luís Henrique Pellanda nos entrega um livro incomum. Suas histórias podem provocar qualquer sentimento, menos a indiferença.

Serviço
O macaco Ornamental
Luís Henrique Pellanda
192 páginas - R$ 34,00 (em média)
Editora Record

Uma casa na escuridão



José Luís Peixoto faz um ambiente rotineiro ser sacudido de maneira brutal por bárbaros que decepam com requintes de maldade os habitantes de uma casa onde todos coexistiam num breu solitário. Uma história fantástica, contada em
prosa poética por um sensível narrador entre o desespero e o conformismo. Com muita ficção e irrealidade em um cenário de sentimentos absolutamente reais, Uma casa na
escuridão é uma magistral alegoria do fim da nossa civilização, uma bela denúncia da barbárie que nos submerge, na qual toda a esperança na humanidade se esvai.

Serviço
Uma casa na escuridão
José Luís Peixoto
304 páginas - R$ 42,90 (em média)
Editora Record

Se eu fechar os olhos



Depois de três livros em que reúne crônicas, memórias e entrevistas, além de textos incluídos em coletâneas, o escritor e jornalista Edney Silvestre estréia na ficção com um romance pungente e emocionante. Com o olhar experiente e a sensibilidade de quem já cobriu alguns dos eventos mais marcantes da história mundial recente – dos atentados de 11 de setembro às torres gêmeas do World Trade Center em Nova York à histórica visita do Papa João Paulo II a Cuba, passando por uma série de reportagens sobre o Iraque antes da derrubada de Saddam Hussein –, o autor combina lirismo e registro histórico em SE EU FECHAR OS OLHOS AGORA, ao narrar a investigação de um crime brutal durante um dos períodos mais importantes da história brasileira.

Em abril de 1961, Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço, deixava a órbita terrestre, descortinando um universo de possibilidades para a Humanidade e uma vitória tecnológica num século que parecia caminhar para uma era de relativa paz, progresso e justiça social. No mesmo dia, em uma pequena cidade da antiga zona do café fluminense, dois meninos de 12 anos— de classe média baixa, um filho de ferroviário, outro de açougueiro — encontram o corpo mutilado de uma linda mulher às margens de um lago onde vão fazer gazeta. Assustados, os garotos chamam imediatamente a polícia e passam por um duro interrogatório, no qual são tratados mais como suspeitos do que testemunhas.

A brutalidade do assassinato e o descaso absoluto com o ser humano impressionam os meninos, que não aceitam a explicação oficial do crime, segundo a qual o culpado seria o marido, o frágil dentista da cidadezinha, motivado por ciúme. Começam uma investigação ajudados por um senhor que mora no asilo da cidade, um ex-preso político da ditadura Vargas, que esconde a motivação para seu interesse no assunto. Dele, os meninos ouvem um aviso que marca o começo de um turbilhão de acontecimentos surpreendentes: “Nada neste país é o que parece.”
Em pouco tempo, eles percebem que a mulher tem uma estranha ligação com os homens mais importantes da cidade e que seu passado é nebuloso, repleto de mentiras. A investigação irá desvendar ainda um perverso painel em que violência sexual, racismo, corrupção e espúrias alianças políticas — que tentam a qualquer custo manter o poder — se misturam, numa época em que o Brasil caminha para a industrialização. Para os meninos, será um terrível caminho de amadurecimento e chegada à vida adulta, ainda no início da adolescência.

Em sua estréia literária, Edney Silvestre constrói uma trama eletrizante e comovente, repleta de referências a um dos momentos mais importantes do cenário político e cultural do Brasil e do mundo. Com uma linguagem culta e refinada, o autor expõe com crueza a maldade humana, e é capaz de mergulhos psicológicos de imensa sensibilidade, sem deixar de contextualizar seus personagens social e historicamente. Transitando por gêneros tão distintos quanto o policial, o histórico e o romance de formação, Se eu fechar os olhos agora, que levou seis anos para ficar pronto, é uma leitura vertiginosa, que retrata a essência da nossa sociedade.

Serviço
Se eu fechar os olhos agora
Edney Silvestre
304 páginas - R$ 34,90 (em média)
Editora Record

Graciliano Ramos

“Os livros do Velho Graça sobrevivem a todas as modificações ocorridas no universo dos seus leitores e continuam sensibilizando e comovendo um número considerável de apreciadores exigentes da boa literatura.”
Leandro Konder, Jornal do Brasil

“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”
Graciliano Ramos

Primeiro romance de Graciliano Ramos, Caetés foi originalmente publicado em 1933. João Valério, o personagem principal e também narrador, é o guarda-livros da casa comercial Teixeira & Irmão na cidade de Palmeira dos Índios. O enredo se desenvolve em dois planos: a paixão de João Valério por Luísa, mulher de Adrião, dono do armazém onde ele trabalha; e a tentativa de Valério escrever um romance histórico sobre os índios caetés. O cotidiano da classe média da pequena cidade nos é apresentado lentamente, em um texto conciso e sintético, marca de Graciliano em toda a sua produção. O autor destaca-se como o principal romancista da segunda fase do Modernismo brasileiro.

Serviço
Caetes
Graciliano Ramos
210 páginas - R$ 14,90 (em média)
Editora Record

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Retorno à condição operária


Retorno à condição operária, de Stéphane Beaud e Michel Pialoux, é um clássico da sociologia do trabalho. A partir de uma profunda pesquisa sobre as transformações vividas pela classe operária a partir da década de 1980, os autores buscam compreender o processo que resultou na perda de expressão política do operariado. Trata-se de um retrato não só das estratégias patronais para dissuadir a organização coletiva, mas também do impacto de novas técnicas gerenciais que alteraram de maneira significativa o sentido de identidades no mundo do trabalho.

O objeto de estudo de Beaud e Pialoux são as fábricas da montadora Peugeot, da região fabril de Sochaux-Montbéliard, na França. É a partir de uma imersão nesse local de pesquisa que os autores costuram uma ampla etnografia, avaliando desde aspectos históricos, conjunturais e sindicais até o mapa cultural do movimento, ampliando o escopo da sociologia do trabalho mais tradicional. A perda do prestígio simbólico da classe, a compressão dos espaços de socialização, a divisão geográfica do trabalho e as diferenciações geracionais e de gênero no conjunto dos trabalhadores são alguns dos muitos aspectos que ajudam a compreender a situação do universo operário hoje.

O trajeto percorrido pelos autores retoma as consequências sociais e industriais desse desmonte, contribuindo para desfazer o mito de que a classe perdeu peso e importância na organização social, sobretudo para as análises acadêmicas e projetos políticos. Com isso, a obra propõe um Retorno à condição operária como modo de compreender e transformar a sociedade.

Nas palavras de Marco Santana, que assina a orelha desta edição, “estão em tela questões tais como: as mudanças no mundo do trabalho e seus impactos para a vida da classe trabalhadora, as novas estratégias empresariais, o papel da escola e da família nesse novo contexto, os conflitos intergeracionais e os processos de desfiliação e delinquência que podem surgir desse mundo em mutação. Enfim, questões que hoje, dada a mundialização, estão postas, ainda que em graus diversos, em todas as partes do globo”.

Retorno à condição operária, publicado no âmbito do Ano da França no Brasil, contou com o apoio do Ministério francês das Relações Exteriores e Européias.”.

Serviço
Retorno à condição operária
investigação em fábricas da Peugeot na França
Autor(a): Stéphane Beaud e Michel Pialoux
Tradutor(a): Mariana Echalar
336 páginas - R$ 65,00 (em média)
Editora Boitempo

A história da escravidão


Em A história da escravidão, o autor francês Olivier Pétré-Grenouilleau analisa não só a organização produtiva desse sistema, mas as raízes deixadas pela escravidão na maneira da humanidade conceber e interagir com o mundo.

A obra busca responder a três questões que podem parecer simples, mas delineiam uma investigação sobre a história da humanidade a partir das marcas deixadas por tal sistema: o que é realmente escravidão? Por que "apareceu" e como evoluiu? Como, afinal, conseguimos aboli-la por toda parte, ao menos oficialmente, embora muitas vezes ela ainda resista de forma clandestina? Com um texto acessível e didático, o autor resgata as origens da escravidão e seus desdobramentos ao longo da história para mostrar o desafio colocado nos dias atuais por alguns de seus legados, como o racismo e as segregações.

Nas palavras de Beluce Bellucci, que assina a orelha da obra, "relação social tão antiga como moderna, a escravidão é tão fácil de entender como difícil de conceituar. O tema é estudado por intelectuais brasileiros como Gilberto Freyre, Manolo Florentino, Alberto da Costa e Silva, Jacob Gorender, entre outros, com diferentes pontos de vista e escopos. A história da escravidão, de Olivier Pétré-Grenouilleau, imprime atualidade ao debate teórico e à exigência da prática política, social e cultural brasileira".

A história da escravidão, publicado no âmbito do Ano da França no Brasil, contou com o apoio do Ministério francês das Relações Exteriores e Europeias.

Trecho da obra
A escravidão é um assunto particularmente doloroso e chocante, um crime contra a humanidade, que provoca nossa indignação. É espantoso que tenhamos conseguido conviver com ela durante tanto tempo. Mas bons sentimentos e julgamentos morais não bastam: se quisermos combater de maneira eficaz uma prática tão frequente na história do mundo, temos de nos esforçar para compreender o que ela favoreceu, por que foi imposta por tanto tempo e como pôde ser admitida.

Ora, o que sabemos sobre a escravidão hoje? Muito e ao mesmo tempo muito pouco. Sabemos muito, porque essa prática suscitou inúmeros estudos. Mas também sabemos muito pouco, porque é difícil ter uma ideia clara sobre um fenômeno cujas origens remontam a no mínimo 3 mil anos antes da nossa era e que se desenvolveu em maior ou menor grau na maioria das sociedades humanas. Não dizem também que a escravidão ainda existe ou cresce praticamente debaixo do nosso nariz?

Serviço
A história da escravidão
Olivier Pétré-Grenouilleau
Tradutor(a): Mariana Echalar
152 páginas - R$ 32,00
Editora Boitempo

Revoluções


Em um esforço inédito de compilação, Revoluções reúne os principais registros fotográficos dos processos revolucionários do final do século XIX até a segunda metade do século XX. O livro convida o leitor a percorrer a diversificada experiência das lutas populares por meio de imagens raras, como as fotografias da Comuna de Paris, e clássicas, como as de Lenin e Trotski na Rússia. Para Michael Löwy, organizador da obra, “as fotos de revoluções revelam ao olhar atento do observador uma qualidade mágica, ou profética, que as torna sempre atuais, sempre subversivas. Elas nos falam ao mesmo tempo do passado e de um futuro possível”.

Além da documentação iconográfica, os acontecimentos históricos são narrados por intelectuais como Gilbert Achcar, Rebecca Houzel, Enzo Traverso, Bernard Oudin, Pierre Rousset, Jeanette Habel e o próprio Löwy. São ensaios ágeis que, a partir de registros fotográficos, retratam a Comuna de Paris, as revoluções Mexicana (1910–1920), Russas (1905 e 1917), Alemã (1918–1919), Húngara (1919), Chinesas (1911 e 1949), Cubana (1953–1967) e a Guerra Civil Espanhola (1936).

A edição brasileira conta com um apêndice exclusivo, no qual Löwy faz uma reflexão sobre os momentos de resistência que marcaram a história do Brasil. O livro possui também um capítulo que passa em revista uma série de eventos transformadores dos últimos trinta anos: o Maio de 1968, a Revolução dos Cravos em Portugal (1974) e a Nicaraguense (1978–1979), a queda do Muro de Berlim (1989) e a sublevação zapatista de Chiapas (1994–1995).

A obra resgata, assim, a trajetória daqueles que viveram movimentos contra hegemônicos e de inspiração igualitária, aliando rostos de anônimos que protagonizaram as lutas de classe a registros de dirigentes eternizados pela história, como Vladimir Lenin, Felix Dzerjinski, Leon Trotski, Béla Kun, Emiliano Zapata, Pancho Villa, Che Guevara e Fidel Castro.

Nas palavras de Luiz Bernardo Pericás, que assina a orelha do livro, “sucesso de público e crítica tão logo foi lançado na França, em 2000, Revoluções teve sua primeira edição esgotada rapidamente. As imagens e os ensaios que compõem este volume tornam-se imprescindíveis para a compreensão de alguns dos episódios mais bonitos e emocionantes da história universal contemporânea”.

Textos e autores
A revolução fotografada
Michael Löwy

A Comuna de Paris, 1871
Gilbert Achcar

A Revolução Russa de 1905
Gilbert Achcar

A Revolução Russa de 1917
Rebecca Houzel e Enzo Traverso

A Revolução Húngara, 1919
Michael Löwy

A Revolução Alemã, 1918–1919
Enzo Traverso

A Revolução Mexicana, 1910–1920
Bernard Oudin

As Revoluções Chinesas, 1911 e 1949
Pierre Rousset

A Guerra Espanhola, 1936
Gilbert Achcar

A Revolução Cubana, 1953–1967
Janette Habel

A história não terminou
Michael Löwy

Apêndice à edição brasileira – Revoluções brasileiras?
Michael Löwy

Serviço
Revoluções
Organização: Michael Löwy
Tradutor(a): Yuri Martins Fontes
552 páginas - R$ 68,00 (em média)
Editora Boitempo

Haicais - Quintana


O livro de haicais, de Mario Quintana, reúne todos os poemas do escritor gaúcho que ele intitulou diretamente como haicais e ainda os que, sem terem sido por ele assim nomeados, são, em tudo e por tudo, haicais de Quintana. Selecionados e organizados por Ronald Polito, e ilustrado pelo traço inspirado de Roberto Negreiros, o volume conta com posfácio envolvente e esclarecedor de Paulo Franchetti, reconhecido especialista no assunto.

Serviço
O livro dos Haicais
Mário Quintana
90 páginas - R$ 39,00 (em média)
Editora Globo

Gente Pobre


Primeiro romance de Dostoiévski, Gente pobre (1846) não é apenas um prenúncio do que o autor de Crime e castigo faria no futuro. Nele já se encontra um escritor com domínio pleno do seu ofício, a ponto de Bielínski, principal crítico da época, ver na obra "mistérios e caracteres da Rússia com os quais ninguém até então havia sequer sonhado" e "a primeira tentativa de se fazer um romance social" no país.

Partindo das experiências de Púchkin, em "O chefe da estação", e Gógol, em "O capote", que deram ao homem comum uma nova roupagem literária, Dostoiévski criou uma narrativa epistolar que subverteu o gênero por completo e foi imediatamente aclamada pelo público, fazendo de seu autor, praticamente da noite para o dia, um escritor consagrado.

Pela troca de cartas entre Makar Diévuchkin, funcionário menor de uma repartição pública de Petersburgo, e sua vizinha Varvara Alieksiêievna, uma jovem órfã injustiçada, o leitor acompanha de perto as pequenas alegrias e os constantes sofrimentos dos dois personagens. Com seu talento fora do comum, Dostoiévski explora a fundo as variações de tom e tratamento, de saltos e encadeamentos na ação, para dar voz a um universo comovente de afetos e valores, que a tradução de Fátima Bianchi soube tão bem captar.

Serviço
Gente pobre
Fiódor Dostoiévski
Tradução de Fátima Bianchi
192 páginas - R$ 34,00 (em média)
Editora 34

TEatro - Gógol


Mestre da paródia, do humor crítico e do nonsense, Nikolai Gógol (1809-1852) ocupa uma posição singular no panorama da literatura mundial. Por um lado, é reconhecidamente o precursor de toda uma linhagem da ficção russa do século XIX que inclui autores tão fundamentais, e diferentes entre si, quanto Dostoiévski e Tchekhov. Por outro, seus textos teatrais estão na origem de algumas das experiências mais criativas do teatro de vanguarda do século XX. Neste sentido, vale observar que a invenção literária genial de O inspetor geral, levada ao palco pela primeira vez em 1836, só iria encontrar o seu perfeito equivalente cênico em 1926, na célebre montagem de V. E. Meyerhold (1874-1940), que trouxe à tona todo o potencial revolucionário da peça.

O presente volume reúne a totalidade da obra teatral de Gógol — que inclui também Os jogadores, O casamento, À saída do teatro e Desenlace de O inspetor geral —, com exceção de quadros fragmentários e inacabados, não incluídos em suas obras completas. A tradução de Arlete Cavaliere, professora da Universidade de São Paulo, e autora também das notas e do estudo introdutório, parte de uma compreensão profunda do universo gogoliano, fruto de anos de convívio com sua poética. Em busca do tom e do espírito do original, o texto em português tira partido da oralidade, dos jogos de linguagem e dos lances inesperados, para recriar em nossa língua esse humor insurgente, afiado e atualíssimo, que fascina leitores em todo o mundo.

Serviço
Teatro completo
Nikolai Gógol
Tradução de Arlete Cavaliere
408 paginas - R$ 52,00 (em média)
Editora 34

Lady Macabeth


Se Ivan Turguêniev é o mais ocidental dos escritores russos do século XIX, Nikolai Leskov é o grande retratista dos costumes e da alma de seu povo. Mas apesar da força de suas narrativas curtas, tão intensas quanto os romances de Dostoiévski, e da fluidez do estilo, comparável ao de Tolstói, ele é um autor ainda pouco conhecido fora da Rússia. Em Lady Macbeth do distrito de Mtzensk, publicada em 1865 na revista Epokha — editada por Dostoiévski — e considerada a obra-prima de Leskov, o leitor acompanha a transformação de Catierina Lvovna, a jovem e entediada esposa de um velho comerciante, em uma cruel assassina.

Essa heroína fria e calculista, que pode ser vista também como um símbolo da libertação feminina em relação à opressão patriarcal, mas que em nenhum momento se arrepende das atrocidades cometidas, levou a crítica a encontrar nessa versão russa da tragédia shakespeariana aspectos mais tarde desenvolvidos pelo romance noir de Raymond Chandler — e, além disso, inspirou a famosa ópera de Dmitri Shostakóvitch, de 1934, e o filme Lady Macbeth siberiana, do cineasta polonês Andrzej Wajda.

Serviço
Lady Macabeth do Distrito de Mtzensk
Nikolai Leskov
96 páginas - R$ 28,00 (em média)
Editora 34

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Retratos do Brasil


No ano em que o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento Cebrap completa quarenta anos de vida, a Cosac Naify, em parceria com a instituição e com apoio do Sesc-SP, lança o livro e o documentário Retrato de Grupo. Com farto material fotográfico e entrevistas inéditas e exclusivas com seus fundadores e principais colaboradores – Fernando Henrique Cardoso, Francisco de Oliveira, Paul Singer, José Arthur Giannotti, Roberto Schwarz, entre outros – o livro recupera o cenário em que a instituição foi formada, em meio à instabilidade política que se seguiu ao Ato Institucional nº 5, em 1968, e vai além – a partir de importantes declarações de seus integrantes, traça um panorama atual sobre os desdobramentos políticos e intelectuais que sucederam sua fundação no final dos anos 60.

Criado como polo de resistência intelectual, o Cebrap reuniu, desde sua fundação, importantes figuras do meio acadêmico (a maioria expurgada da universidade pela ditadura militar) intelectuais que, naquele momento, se reuniram em torno de um mesmo objetivo manter uma produção científica que fosse indispensável para pensar o Brasil, mesmo com todas as limitações impostas pelo regime. Pela primeira e talvez única vez, intelectuais que tomaram rumos distintos mantiveram um intercâmbio científico importante, que influenciou o pensamento e a prática política que se seguiu no Brasil.

Hoje, 40 anos depois, a reflexão destes estudiosos, que acabaram por se tornar figuras-chave no cenário público brasileiro, abre novamente a discussão – desta vez, para uma compreensão do momento político pelo qual passa o Brasil. “No fundo, se você olhar bem, eu e o Lula viemos do mesmo contexto”, diz Fernando Henrique Cardoso ao final de sua entrevista. Se você olhar a partir da perspectiva histórica, vai ver que na verdade é isso.

Nunca vi um período tão magro de possibilidades políticas como este, afirma Francisco de Oliveira ao ser indagado sobre o legado histórico do governo Lula. “Não tem um conflito nacional onde ele tenha metido o dedão e resolvido a parada. Como faz Hugo Chávez. Chávez está inventando um país que não existia. Como fez o Fernando Henrique, digamos com todas as letras, que decidiu para onde ia o excedente brasileiro, decidiu para onde ia a direção da economia e da sociedade. Teve uma direção, que eu renego, mas teve. No governo do Lula não tem nenhuma. Sou muito pessimista.”

É interessante pensar no conjunto dessa produção como uma obra coletiva”, diz Roberto Schwarz, ao contar histórias sobre o grupo criado para a leitura do Capital, de Karl Marx, que antecedeu a criação do Cebrap. “Algumas dessas pessoas não se bicavam e, se você dissesse que tinham feito trabalhos complementares, não ficariam satisfeitas. Mas a verdade é que daria para mostrar que tudo aquilo está interligado e se articula.”

Serviço
Retrato de grupo
Organização e apresentação: Flavio Moura e Paula Montero
Entrevistas com Fernando Henrique Cardoso, José Arthur Giannotti, Paul
Singer, Elza Berquó, Juarez Brandão Lopes, Lúcio Kowarick, Francisco de
Oliveira, José Serra, Fernando Novais, Roberto Schwarz, Rodrigo Naves
328 páginas - 84 ilustrações - R$ 59,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

Clarice


Publicada nos Estados Unidos em agosto de 2009, a nova biografia de Clarice Lispector, escrita pelo americano Benjamin Moser, conquistou um destaque a que a literatura brasileira não está acostumada. Para citar apenas os grandes jornais, Clarice foi notícia no New York Times (em duas resenhas), The Times, Economist, Los Angeles Times, e chegou a ser comparada a James Joyce, Jorge Luis Borges, Virginia Woolf e Franz Kafka. Eleito o livro do mês na Amazon.com, já teve duas reimpressões. Aquela escritora misteriosa, de um país distante, com uma obra vasta escrita numa língua estranha, caiu no gosto dos leitores.

Se não é novidade que a obra de Clarice tem vocação internacional, a recente projeção que ela ganhou deve muito ao trabalho de seu jovem biógrafo, um obstinado que aprendeu português e ficou cinco anos imerso na vida e na obra de Clarice para apresentá-la ao leitor não lusófono. Não só alcançou o seu objetivo, mas impôs seu livro no Brasil como um marco nos estudos sobre essa escritora já tão bem estudada. Com o título Clarice, (lê-se “Clarice vírgula”), chega às livrarias brasileiras como este o livro mais esperado deste final de ano, pela Cosac Naify e pelas mãos de
um tradutor também clariciano, José Geraldo Couto. O livro dá continuidade à linha de biografias e memórias da editora, que no ano passado lançou O santo sujo – A vida de Jayme Ovalle, de Humberto Werneck. A edição da biografia de Clarice conta com apoio da Suzano de Papel e Celulose, representada pelo papel Pólen®, no qual a obra foi impressa.

Serviço
Clarice
Benjamim Moser
tradução: José Geraldo do Couto
648 páginas - R$ 79,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

Obra discute o ensino de matemática entre os índios do Alto Xingu


Em uma cultura rica de signos em simbolismos, como a indígena, de que maneira deve ser efetivado o ensino da Matemática? Como os povos indígenas entendem ser a Matemática? Por que queriam aprender Matemática? Para responder a tais questões, cruciais tanto para a Antropologia quanto par a Pedagogia, Pedro Paulo Scandiuzzi vivenciou a experiência de trabalhar com a sociedade kuikuro, no Alto Xingu, relatando suas descobertas e interpretações sobre trocas culturais em Educação indígena X educação escolar indígena, lançamento da Editora Unesp.

Ao relacionar a educação indígena e a educação escolar indígena, ou seja, aquela que é proposta pela sociedade nacional, Scandiuzzi também nos mostra um universo pleno de simbolismos. Trabalhando com o conceito de etnomatemática, penetra no mundo de simbolismo dos kuikuro para, em conjunto com este povo, usufruir de uma nova produção de conhecimento matemático, até então desconhecida por nós. Vemos, como exemplo da complexidade cultural deste povo, que as figuras geométricas não são apenas "desenhos", mas carregam um significado mitológico, fazem parte dessa sociedade "como forma de identidade, de comunicação visual e de transmissão do saber produzido na teoria e na empiria", por meio da observação sistemática do Sol e da Lua.

Motivando os kuikuros a desbravarem o que nós denominamos Geometria a partir do espaço visual da aldeia e da mata, descortina-se a estética das construções, dos artefatos e de todo um ritual que segue formas geométricas. Traz a público conhecimentos étnicos sem desrespeitar o sagrado dessas etnias, construindo pontes de conhecimento, abrindo caminhos entre diferentes saberes e realidades. Para isso, também oferece estratégias para os educadores que atendam as necessidades e respeitem a diversidade cultural das sociedades indígenas.

Serviço
Educação indígena X educação escolar indígena: Uma relação etnocida em uma pesquisa
etnomatemática
Pedro Paulo Scandiuzzi
110 páginas - R$ 26,00
Editora Unesp

Cultura com aspas


O livro reúne a produção ensaística da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha em mais de 30 anos de trajetória, incluindo texto de 2009. Com pesquisas na Amazônia e África Ocidental e professora durante quinze anos nos EUA, a autora fez da 'interface' cultural o fio condutor de sua antropologia. Seus estudos de teoria antropológica e antropologia histórica tratam da maneira como a 'cultura' (com aspas, como ela mesma coloca) é reflexivamente constituída e engajada como uma categoria do encontro interétnico.

Serviço
Cultura com aspas
Manuela Carneiro da Cunha
440 páginas - R$ 69,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

Cultura com aspas


O livro reúne a produção ensaística da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha em mais de 30 anos de trajetória, incluindo texto de 2009. Com pesquisas na Amazônia e África Ocidental e professora durante quinze anos nos EUA, a autora fez da 'interface' cultural o fio condutor de sua antropologia. Seus estudos de teoria antropológica e antropologia histórica tratam da maneira como a 'cultura' (com aspas, como ela mesma coloca) é reflexivamente constituída e engajada como uma categoria do encontro interétnico.

Serviço
Cultura com aspas
Manuela Carneiro da Cunha
440 páginas - R$ 69,00 (em média)
Editora Cosac & Naify

De Ésquilo (525-455 a.C.), considerado o criador da tragédia, temos hoje a trilogia Oresteia e mais estas quatro tragédias aqui apresentadas no estudo e na tradução. Todas elas têm em comum a reflexão sobre os limites inerentes a todo exercício de poder e sobre o caráter inelutável da justiça divina. 'Os persas' (472 a.C) descreve um fato político recente, a inesperada derrota dos persas na batalha naval de Salamina, após terem invadido a Grécia e capturado Atenas. A derrota de Xerxes, prenunciada por pressentimentos do coro e por sonho e auspício da rainha mãe de Xerxes, mostra como o Nume intervém no curso dos acontecimentos, e assim opera a justiça divina. Em 'Os sete contra Tebas' (467 a.C.), a rixa dos irmãos inimigos, filhos do rei Édipo e da rainha Clitemnestra, não se resolve nem quando, após a batalha, eles estão mortos e a cidade está salva e em paz, pois renasce no interior da família, entre a irmã e o tio dos príncipes mortos. 'As Suplicantes' (463 a. C.) mostra o uso que um grupo de desvalidos exilados faz da coercitiva força do rito da súplica, e assim também os conflituosos limites que se configuram quando esse grupo de suplicantes obtém o suplicado asilo político. 'Prometeu cadeeiro' (479 a.C.) põe em cena os Deuses Krátos ('Poder') e Bía ('Violência'), servos de Zeus, e o Titã Prometeu, inimigo de Zeus. O sentido mitológico das filhas do rio Oceano dá ao mitologema de Prometeu o sentido universal e fundamental, explorado pela reflexão sobre o exercício do poder, neste drama de Deuses e Titãs.

Serviço
Tragédias
Ésquilo
Tradução: Jaa Torrano
432 páginas - R$ 56,00 (em média)
Editora Iluminuras

Cantos Órficos


Cantos Órficos retoma os valores da poesia simbolista e a enriquece com o orfismo. Seus versos são fundados no desejo infinito de busca pela verdade e estão imersos numa mistura de caos místico e extremo simbolismo, dando-nos a capacidade de construir suas imagens em nossas mentes. Completamente avessa à construção lógica, a obra tem uma sonoridade e um colorido ímpares, e, nesta versão, procurou-se manter ao máximo essa essência da edição original italiana como meio de propagar o ritmo musical tão envolvente e único que Dino Campana imprimia a seus textos. Esta edição bilíngue irá levá-lo para além de seus sentidos, para além da ordem aparente e da imagem preconcebida das coisas ao nosso redor. Uma leitura instigante e prazerosa, repleta de artimanhas linguísticas, um amálgama de mistério e insanidade.

Serviço
Cantos Órficos e outros poemas
Dino Campana
Tradução: Aurora Fornoni Bernardini
296 páginas - R$ 34,90 (em média)
Editora Martins

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Bob Dylan


Desde sua publicação, em 1974, no álbum Planet Waves, Forever Young (Jovem para sempre) é uma das canções mais celebradas de Bob Dylan. Hino da década de 1970 e das gerações seguintes, o tema do som bate na tecla da justiça social e na solidariedade entre os homens. Na letra, Dylan nos lembra que precisamos ter um espírito aberto para aprender e compartilhar e da ação de tudo isso na sociedade. Lançado no ano passado nos EUA, o livro Forever Young (Editora Martins Fontes), finalmente chega às livrarias do Brasil numa edição bilíngue (inglês/português). Com ilustrações de Paul Rogers inspiradas em músicas e momentos da vida de Dylan, nas páginas do livro encontraremos a história de um garoto que segue as pegadas do cantor.

Enquanto o texto da obra se restringe à letra, as ilustrações fazem um tour pela carreira do autor, inserindo outras canções, pessoas que influenciaram Dylan e foram influenciadas por ele, momentos da época e lugares importantes na vida e na carreira do bardo americano. Algumas dessas imagens são descritas por Rogers, mas outras exigem uma atenção maior do leitor. Na página 27, por exemplo, os integrantes dos Beatles participam de uma passeata pela paz vestidos com as roupas da capa do disco Sargent Peppers. Paul Rogers abre um leque de leituras ao indicar os livros referência que toda criança e adolescente deve ler, além de muitas outras surpresas. O livro propõe um inteligente diálogo entre as gerações e, despretensiosamente, crianças & adultos ainda podem aprender sobre a folk music norte-americana e o movimento beat, através de seu maior representante no mundo musical. Uma curiosidade: a música Forever Young foi composta para um dos filhos de Bob, menino Jakob, que hoje segue os passos do pai na carreira artística. O líder do grupo Wallflowers completa 40 anos no próximo dia 9 de dezembro.

Serviço
Forever Young
Bob Dylan e Paul Rogers
Tradução: Estela dos Antos Abreu
360 págians - R$ 40,00 (em média)
Editora Martins Fontes

Histórias Apócrifas

Nos 29 textos que compõem a coletânea – elaborados no período entre as duas guerras mundiais, às vésperas da ascensão do nazismo –, o escritor tcheco Karel Čapek percorre um amplo arco que vai da paródia burlesca à parábola alegórica. Retomando episódios e personagens históricos, míticos e literários de um ponto de vista inusitado, estas Histórias apócrifas questionam o senso comum, os preconceitos e o totalitarismo.

Serviço
Histórias Apócrifas
Larel Capek
Tradução: Alecsandar Jovanovi
180 páginas - R$ 32,00 (em média)
Editora 34

Anuário do Saci


O que pouca gente sabe é que também é o dia de um dos maiores mitos brasileiros, o Saci. A ideia da criação da data foi justamente se contrapor ao Dia das Bruxas anglo-saxônico, fazendo um resgate da cultura e do folclore brasileiros.

Dentro desse espírito, será lançado nesta quinta-feira (29), em São Paulo, o Anuário do Saci e seus Amigos-Mitologia Brasílica. Trata-se de uma obra do escritor Mouzar Benedito, colaborador da Fórum, com ilustrações de Ohi. Ali, pode-se acompanhar resgates de histórias como a do Jurupari, que até a chegada dos portugueses ao Brasil era o deus mais cultuado por essas bandas, tido como filho e embaixador do Sol. E a Cotaluna, uma das mais famosas lendas paraibanas, figura metade mulher e metade peixe, que encanta os homens e os leva para o fundo do rio. Mas, diferentemente das sereias, ela se transforma apenas na estação chuvosa, sendo uma mulher normal durante o resto do ano.

Estas e outras lendas do folclore brasileiro estão presentes na obra que, a cada mês, traz uma figura da mitologia brasileira. Além disso, todos os dias, um ou mais acontecimentos históricos que lembram a importância da data são retratados. Tudo com muito bom humor e uma narrativa envolvente.

Serviço
Anuário do SAci e seus Amigos - Mitologia Brasileira
Mouzar Bnedito
144 páginas - R$ 50,00 (em média)
Editora Publisher Brasil

Pedra de Sol


Pedra de Sol, do poeta mexicano Octavio Paz, laureado com o prêmio Nobel de Literatura em 1990, ganha uma tradução revisada em edição bilíngue após 20 anos. O tradutor e poeta Horácio Costa fez a primeira edição de Pedra de Sol em 1988, e é um dos mentores do projeto de divulgação da poesia paziana, na qual se aprofundou durante o período em que lecionou na UNAM, Universidade Nacional Autônoma do México.

Durante boa parte do ano de 1957, Octavio Paz se dedicou a mesclar história, cultura Maia e Náhuatl e simbologia durante a escrita de Piedra de Sol, poema que se tornaria um texto-chave de sua produção poética e é publicado original e na íntegra nesta edição bilíngüe do selo Demônio Negro da editora Annablume. A gigantesca Piedra de Sol, um importante monolito-calendário da civilização Asteca, foi idealizado com a função de organizar, num continuum mensurável pelo homem, o dever temporal. Por isso, é o objeto que empresta nome a este poema que pressupõe repetição cíclica, numa dinâmica sugerindo eterna continuidade, umas das grandes características do poema de Octavio Paz.

A versão em língua portuguesa procurou manter a intensidade da obra original, apesar de ter sofrido algumas transformações pontuais, subordinadas a aspectos importantes para o poeta Horácio Costa, principalmente a preservação da entonação e do ritmo, valores de respiração e dicção que via como marcas distintivas no texto de Octavio Paz.

Serviço
Pedra de Sol
Octavio Paz
86 páginas - R$ 45,00 (em média)
Editora Annablume sele Demônio Negro