Uma trajetória improvável, até mesmo para um inspirado ficcionista: menino pobre, em cuja casa havia apenas dois livros – nenhum deles pertencentes à família – recebe, muitos anos mais tarde, o prêmio Nobel de Literatura. O protagonista desta história é o escritor português José Saramago, tema de uma cuidadosa biografia escrita por João Marques Lopes e editada pela LeYa, que descreve em detalhes esses acontecimentos, assim como o contexto social e político em que se inserem.
A narrativa cronológica vai desde a infância de Saramago, na aldeia de Azinhaga, até o lançamento de “Caim”, seu último romance, em 2009. O autor acompanha o desenvolvimento dos projetos literários de Saramago, utilizando suas obras como fio condutor da narrativa. Analisa tanto as produções mais célebres, como “Levantando do chão”, que viria a inaugurar o chamado “estilo saramaguiano” – a narrativa fluida, próxima à oralidade, que desobedece as normas formais da linguagem – quanto outras menos cotadas como o primeiro romance, “Terra de pecados”, publicado em 1947.
Nessa época o ex-serralheiro mecânico já havia se tornado escrevente, mas ainda iria demorar até que se transformasse em um escritor reconhecido e respeitado: sua consagração definitiva acontece aos 60 anos, quando publica o terceiro romance, “Memorial do convento”. Embora focalize mais a obra que a vida pessoal de Saramago, Marques Lopes não deixa escapar detalhes tocantes dessa trajetória improvável, como a menção feita aos avós Jerônimo e Josefa, analfabetos, em seu discurso ao receber o Nobel, em 1998.
O autor também não se furta a analisar episódios polêmicos, como o veto à candidatura do livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” ao Prêmio Literário Europeu, em 1992. O episódio ganhou ares de censura governamental e teve repercussão mundial. Emblemático, teria sido o gatilho para a mudança de Saramago para a ilha espanhola de Lanzarote, nas Canárias. Opiniões controversas de Saramago também são abordadas, como suas críticas ao belicismo norte-americano e à ação de Israel frente aos palestinos.
Aos 88 anos incompletos, José Saramago, desfruta hoje de reconhecimento e fama incomuns para escritores. Graças à penetração de sua obra, traduzida em diversas línguas, em 2008 chegou aos cinemas de todo o mundo a adaptação de seu livro “Ensaio sobre a cegueira”, uma grande produção dirigida pelo brasileiro Fernando Meireles. Marques Lopes considera que Saramago alcançou o status de superstar e que utiliza da visibilidade conquistada para “destilar a voz da dissidência e do protesto diante do “estado do mundo”. Uma habilidade notável desse pensador inquieto que, aos 85 anos, experimentou escrever um blog.
Serviço:
José Saramago - Biografia
João Marques Lopes
248 páginas - R$ 39,90 (em média)
Editora Leya
Aos 88 anos incompletos, José Saramago, desfruta hoje de reconhecimento e fama incomuns para escritores. Graças à penetração de sua obra, traduzida em diversas línguas, em 2008 chegou aos cinemas de todo o mundo a adaptação de seu livro “Ensaio sobre a cegueira”, uma grande produção dirigida pelo brasileiro Fernando Meireles. Marques Lopes considera que Saramago alcançou o status de superstar e que utiliza da visibilidade conquistada para “destilar a voz da dissidência e do protesto diante do “estado do mundo”. Uma habilidade notável desse pensador inquieto que, aos 85 anos, experimentou escrever um blog.
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