sexta-feira, 7 de maio de 2010

A formação do Capitalismo no Brasil - Ladislau Dowbor


É preciso saudar o economista Ladislau Dowbor, professor de pós-graduação da PUC/SP e conselheiro do Planeta Sustentável, por escrever este livro e, com ele, trazer ao centro do debate econômico uma saudável dissonância que ficou abafada por duas décadas e que, agora, retorna trazida pelo esgotamento do modelo neoliberal.

Diversos fatores contribuíram para esta visão hegemônica de mundo que dominaria políticas de governo e de instituições financeiras durante duas décadas e contribuiria para o aumento das desigualdades, e sua cristalização foi emblematizada por uma série de fatores históricos. Entre eles, os governos de Ronald Reagan nos EUA (1981-1989), de Margaret Thatcher na Inglaterra (1979-1990), e a derrocada da União Soviética (1991). O chamado Consenso de Washington, formulado no final de 1989 por economistas de entidades como FMI, Banco Mundial e Departamento do Tesouro Americano, que trouxe um receituário para promover o “ajuste macroeconômico” de países em desenvolvimento, tornou-se um importante braço operador do modelo. E o livro “O Fim da História”, de 1992, do historiador americano Francis Fukuyama, foi aclamado em todo o mundo por proclamar o fim das ideologias e o triunfo final das forças de mercado.

A dissonância na qual se insere o trabalho de Dowbor é impulsionada pelo aprofundamento das desigualdades socioeconômicas e por uma consciência, trazida em parte pela crescente preocupação com o ambiente, de que, como diria Caetano Veloso, “alguma coisa está fora da ordem”. Dowbor não fala do presente nesta obra – seu livro enquadra o período da história brasileira que vai desde o descobrimento até o golpe de 1964. Mas seu embasamento teórico e sua abordagem contribuem em muito no entendimento de como foram moldadas as forças que estiveram no cerne de nossa economia, e que em grande extensão ainda lá se encontram – assim como em grande parte das economias do Hemisfério Sul.

Dowbor, autor de cerca de 40 livros e numerosos artigos, trata de peculiarizar e particularizar os elementos que distinguem o caso brasileiro. Seus recursos são sólidos, e no texto ouvem-se as vozes de dois autores clássicos para o entendimento de nossa formação - Roberto Simonsen , que escreveu em 1937 a “História Econômica do Brasil” e Caio Prado Jr., autor de “Formação do Brasil Contemporâneo”, de 1942. O que ambos haviam descrito, e que Dowbor elabora com brilho, foi a história de uma economia de dependência e desigualdade fundada no extrativismo e na exportação para as metrópoles – centradas, historicamente, em Portugal, Inglaterra e Estados Unidos, no correr de cinco séculos de história.

Cito aqui o autor: “Essa discussão [sobre a relação de dependência] perpassa vários argumentos deste livro, aproveitando parte do que se passou a chamar a teoria da dependência, mas buscando fugir das simplificações que ora nos apresentaram como joguete de interesses internacionais, ora como potência que já se consideraria desenvolvida”.

Para lançar luz sobre nosso processo de desenvolvimento, Dowbor compõe um amplo quadro histórico certo de que “debruçar-se sobre a economia brasileira significa, antes de tudo, debruçar-se sobre as funções sucessivas que esse país desempenhou na formação e no desenvolvimento do capitalismo das metrópoles”. O resultante de sua análise, ponderada, sóbria, atual e dinâmica, inclui “A Formação do Capitalismo no Brasil” entre as obras de leitura obrigatória para a compreensão de nossa construção como nação.

Serviço
A formação do Capitalismo no Brasil
Ladislau Dowbor
450 páginas - R$ 45,00 (em média)
Editora Brasiliense

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